O governo dos Estados Unidos confirmou a aquisição de 9,9% das ações da Intel após um aporte de US$ 8,9 bilhões, medida apresentada pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick, em publicação na rede X na sexta-feira (22). A transação foi ratificada pela própria Intel em comunicado à imprensa divulgado no mesmo dia.
Investimento soma-se aos incentivos do CHIPS Act
O novo aporte chega pouco depois de a fabricante ter recebido um subsídio de US$ 2,2 bilhões por meio do Creating Helpful Incentives to Produce Semiconductors (CHIPS Act), lei sancionada em 2022 com o objetivo de fortalecer a produção doméstica de semicondutores. Somados, os recursos representam a maior injeção de capital federal na empresa desde a sua fundação em 1968.
Em nota, Lutnick declarou que a participação acionária “garante ao contribuinte retorno direto sobre os investimentos já realizados pelo CHIPS Act” e reforça a estratégia da administração de “manter a liderança norte-americana em inteligência artificial, ao mesmo tempo em que fortalece a segurança nacional”.
Apesar da fatia relevante, o acordo não prevê assento do governo no conselho de administração da Intel.
Intel destaca importância estratégica dos chips
O diretor-presidente da Intel, Lip-Bu Tan, afirmou que a decisão “demonstra a confiança da administração na capacidade da companhia de avançar em prioridades nacionais” e sublinhou o papel dos semicondutores “como base para tecnologias avançadas produzidas em solo americano”.
A indústria de chips ganhou centralidade à medida que aplicações de inteligência artificial exigem estruturas de processamento cada vez mais robustas. A demanda por data centers avançados, que dependem de alto consumo de energia e componentes de ponta, expôs gargalos na cadeia global de suprimentos, tradicionalmente concentrada na Ásia.
Reações do setor de tecnologia
Líderes de grandes empresas de computação em nuvem e PC comentaram o movimento. O diretor executivo da Amazon Web Services, Matt Garman, classificou os semicondutores de última geração como “alicerce de todas as plataformas de IA e nuvem”, acrescentando que o investimento “coloca a Intel em posição vital para o ecossistema norte-americano de chips”.
Executivos de Microsoft, Dell e HP também elogiaram a medida. Todos apontaram a necessidade de ampliar a capacidade produtiva dentro dos Estados Unidos para reduzir dependências externas e enfrentar a concorrência chinesa.
Comparações com intervenções passadas
Embora raro, o aporte federal em empresas privadas tem precedentes. Durante a crise financeira de 2008, Washington assumiu 60% da General Motors e adquiriu participações em grandes bancos para evitar colapso do sistema financeiro. A diferença, segundo analistas, é que o país não enfrenta hoje recessão ou conflito de grandes proporções; o vetor principal é a competição tecnológica global.

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Nos últimos anos, a Intel perdeu espaço na fabricação de chips de ponta, segmento liderado pela Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC). No desenho de processadores, Nvidia e AMD avançaram sobre mercados antes dominados pela empresa. O suporte governamental pretende acelerar a modernização das plantas da Intel e recuperar a autonomia produtiva dos EUA.
Próximos passos e implicações
A participação de quase 10% garante ao Tesouro norte-americano exposição direta aos resultados da Intel. Especialistas apontam que o governo deve adotar postura de investidor silencioso, evitando interferir nas decisões diárias da companhia, mas acompanhando metas de expansão fabril em solo americano.
O desfecho desse movimento poderá influenciar futuras políticas industriais, servindo de modelo para outros setores considerados estratégicos, como baterias de veículos elétricos e tecnologias de energia limpa.
Para compreender como as inovações em chips impactam o mercado de consumo e a infraestrutura de nuvem, confira conteúdos adicionais na seção de Tecnologia do nosso portal.
Em síntese, a entrada do governo dos Estados Unidos no capital da Intel sinaliza uma ofensiva direta para garantir produção doméstica de semicondutores, elemento central para a economia digital e para a segurança nacional do país. Acompanhe nossas próximas publicações e fique por dentro dos desdobramentos deste investimento.
Curiosidade
Apesar da fatia acionária adquirida, a Constituição norte-americana impede que o governo exerça controle direto sobre empresas privadas sem autorização específica do Congresso. Assim, mesmo com quase 10% das ações da Intel, a administração permanece como acionista passivo, sem direito a voto reforçado ou veto a decisões corporativas.