A startup australiana Gilmour Space Technologies pretende voltar à plataforma de lançamento em 2024, mesmo depois de a primeira tentativa orbital do foguete Eris ter durado apenas alguns segundos. A empresa diz ter coletado dados suficientes para corrigir os problemas e planeja um processo regulatório mais ágil para o próximo voo.
Dificuldades do primeiro teste e lições aprendidas
Em 30 de julho, o Eris decolou do Bowen Orbital Spaceport, no estado de Queensland, mas perdeu sustentação segundos após a ignição, desviou da trajetória e caiu ainda dentro da área de segurança. Análises preliminares indicam falha em pelo menos um dos quatro motores híbridos, que utilizam oxigênio líquido e combustível sólido. Segundo o cofundador e diretor executivo Adam Gilmour, a propulsão funcionou durante 23 segundos, enquanto o foguete permaneceu em voo por 14 segundos.
Apesar do insucesso, a equipe considera o teste “produtivo”, pois permitiu registrar parâmetros de pressão, temperatura e vibração nunca antes obtidos em condições reais de voo. “Obtivemos muita informação”, afirmou Gilmour durante apresentação no Congresso Astronáutico Internacional, em Baku, em 3 de outubro.
O executivo explicou que o Eris ficou 18 meses armazenado no local de lançamento, prazo considerado excessivo para um veículo exposto a ambiente salino a apenas um quilômetro do mar. Esse intervalo foi resultado de um processo de licenciamento extenso: foram 24 autorizações estaduais, além de licenças aeronáuticas, marítimas e ambientais exigidas pela Agência Espacial Australiana.
Plano para acelerar a próxima tentativa
A Gilmour Space revisou o cronograma interno e realocou recursos para tratar de exigências regulatórias já conhecidas. Gilmour relatou reuniões recentes com a agência espacial do país, nas quais ficou acordado um fluxo de documentos “mais claro” e prazos definidos para cada etapa. “Estou confiante de que poderemos lançar quando for necessário”, disse.
Além dos ajustes burocráticos, a empresa decidiu ampliar a campanha de ensaios em solo. De acordo com o executivo, testes adicionais nos motores híbridos, em condições de umidade e salinidade similares às da base, devem mitigar riscos de corrosão e garantir empuxo estável. Novas inspeções estruturais também serão incorporadas ao protocolo de validação.
O capital para essas melhorias está assegurado, segundo Gilmour. A empresa recebeu aportes de fundos de investimento e incentivos do governo australiano focados em fomento ao setor espacial. “Estamos bem capitalizados e comprometidos em voltar a voar no próximo ano”, declarou.
Impacto para a indústria espacial australiana
Especialistas ouvidos pelo congresso consideram que o retorno do Eris em 2024 reforça a ambição da Austrália de competir no mercado global de lançadores leves, segmento dominado por empresas dos Estados Unidos, Europa e China. Relatórios da agência espacial local apontam demanda crescente por satélites de pequeno porte, voltados a observação da Terra, Internet das Coisas e comunicações de baixa órbita.

Imagem: GIlmour Space Technologies
Se bem-sucedida, a nova tentativa da Gilmour Space ampliará a oferta de lançamentos regionais e reduzirá dependência de centros estrangeiros, fator estratégico para universidades, startups e órgãos governamentais que operam cargas úteis de até 300 quilos. O país também ganhará experiência regulatória, facilitando futuros projetos de players nacionais e estrangeiros que planejam operar a partir de solo australiano.
Para o leitor, iniciativas como essa podem acelerar o acesso a serviços baseados em nanosatélites, como monitoramento agrícola em tempo real, cobertura 5G em áreas remotas e soluções de gestão ambiental. Quanto maior a concorrência entre provedores de lançamento, menor tende a ser o custo final dos serviços satelitais.
Curiosidade
O Eris homenageia a deusa grega da discórdia, nome escolhido pela equipe para simbolizar a quebra de paradigmas no mercado espacial australiano. Caso o voo de 2024 alcance órbita, o foguete se tornará o primeiro lançador híbrido do país a completar a missão, marcando um contraste histórico com os vetores convencionais movidos apenas a propelentes líquidos ou sólidos.
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