O Google iniciou a liberação de um recurso que permite ao Gemini interagir com aplicativos de terceiros em celulares Android, incluindo plataformas de troca de mensagens como WhatsApp. A novidade, apresentada como um facilitador para executar tarefas diárias, despertou preocupação entre usuários e especialistas em privacidade, que alertam para a possibilidade de o assistente de inteligência artificial ler, resumir e responder notificações sem um bloqueio total por parte do sistema.
Como funciona a integração do Gemini com apps de terceiros
Segundo a própria empresa, o Gemini utiliza permissões já concedidas ao Google Assistente para acessar dados de aplicativos instalados. Ao receber um comando de voz ou texto, a IA consegue, por exemplo, enviar mensagens, iniciar chamadas e configurar alarmes, mesmo quando a opção “Atividade de Apps” do Gemini está desativada. Na prática, o recurso amplia o alcance do assistente dentro do ecossistema Android, mas também aumenta a superfície de exposição dos dados pessoais.
Relatórios técnicos apontam que, quando autorizado pelo usuário no primeiro uso, o Gemini pode visualizar o conteúdo completo de notificações, incluindo textos e imagens. Ainda que o Google declare não utilizar esses dados para treinar seus modelos, analistas em segurança digital afirmam que o simples acesso já representa um risco à confidencialidade das conversas.
Preocupações de privacidade ganham destaque
Marc Rivero, pesquisador da Kaspersky, destaca que “aplicativos de mensagens privadas estão entre os espaços digitais mais sensíveis para os usuários”. De acordo com o especialista, conceder acesso automático a uma ferramenta de IA sem consentimento claro “mina fundamentalmente a confiança” das pessoas em relação ao serviço.
Organizações de defesa de direitos digitais também questionam o modelo de exclusão (“opt-out”) adotado pelo Google. Nesse formato, cabe ao usuário entrar nas configurações e desativar manualmente cada extensão do Gemini, procedimento considerado pouco intuitivo por quem busca proteger dados pessoais. A crítica é semelhante à dirigida à Microsoft, que recentemente divulgou o Recall para Windows 11, sistema capaz de registrar capturas de tela contínuas do computador e convertê-las em um banco de pesquisa local.
Embora o mecanismo do Google não espelhe integralmente a abordagem da Microsoft, analistas observam que as duas iniciativas sinalizam uma tendência de integração cada vez mais profunda de IA em plataformas amplamente utilizadas. Para especialistas, a questão central é a transparência sobre o alcance real dessas ferramentas e a possibilidade de uma desativação global, em vez de ajustes pontuais.
Passo a passo para limitar o acesso do Gemini
Para usuários que desejam controlar a exposição de suas mensagens, o próprio Google oferece uma rota de desativação. O procedimento oficial envolve quatro etapas:
1) Abrir o aplicativo do Gemini no dispositivo Android
2) Tocar na foto de perfil localizada no canto superior direito
3) Acessar o menu “Aplicações” (ou “Extensions”, em algumas versões)
4) Desabilitar manualmente cada serviço listado, inclusive WhatsApp, Gmail e outros
Segundo orientações de equipes de suporte, a remoção das permissões revoga o acesso imediato do assistente às notificações e impede a leitura do conteúdo submetido nesses aplicativos. No entanto, o ajuste precisa ser repetido sempre que o usuário instalar um novo app compatível ou após grandes atualizações do sistema.

Imagem: Getty
Comparação com iniciativas anteriores
Integrar inteligência artificial a serviços cotidianos não é uma prática exclusiva do Google. A própria Meta introduziu o selo “Meta AI” em chats do WhatsApp e do Messenger, gerando reações adversas pela falta de opção para desativar o recurso. No campo corporativo, plataformas como Slack e Microsoft Teams também incorporaram bots capazes de resumir conversas e sugerir respostas, ampliando os questionamentos sobre governança de dados.
Segundo relatórios da International Data Corporation (IDC), a demanda por assistentes de IA integrados deve crescer 26% ao ano até 2027, impulsionada por ganhos de produtividade. Contudo, o órgão registra que 58% dos entrevistados consideram a privacidade a principal barreira para adoção ampla desses recursos, à frente de custos e complexidade técnica.
O que muda para o usuário
Na prática, a expansão do Gemini torna a experiência de uso mais fluida, permitindo executar comandos de voz que antes exigiam navegação manual. Por outro lado, amplia a necessidade de vigilância sobre permissões e configurações. Para o consumidor final, o impacto direto envolve equilibrar conveniência e segurança: quanto mais automação se aceita, maior a circulação de dados sensíveis nos servidores e dispositivos.
Especialistas recomendam revisitar periodicamente as permissões concedidas, manter aplicativos atualizados e utilizar camadas extras de proteção, como bloqueios por impressão digital e criptografia ponta a ponta, sempre que disponíveis.
Se você deseja acompanhar outras novidades sobre cibersegurança e avanços em IA, confira os artigos disponíveis na categoria de Tecnologia do nosso portal.
Curiosidade
O comando de voz “Hey Google, leia minhas mensagens” foi registrado pela primeira vez em 2016, ainda na era do Google Assistente. Com o Gemini, a mesma frase aciona um modelo de IA 50 vezes mais robusto, capaz de interpretar emojis, imagens e textos em múltiplos idiomas. O salto tecnológico ilustra como as interfaces conversacionais evoluíram em menos de uma década, transferindo processos que antes exigiam toque manual direto para a inteligência artificial.
Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:
Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!


