Rajadas de vento solar em altíssima velocidade, provenientes de um buraco coronal aberto recentemente na superfície do Sol, alcançaram o cometa C/2025 R2 (SWAN) e provocaram forte perturbação em sua cauda. Astrônomos que acompanham o objeto relatam sinais claros de torções e filamentos instáveis, efeito direto da interação com partículas carregadas expelidas pela nossa estrela.
Imagens revelam cauda em “saca-rolhas”
Fotografias obtidas em 15 e 16 de setembro pelos astrônomos Gerald Rhemann e Michael Mattiazzo, divulgadas pela plataforma Spaceweather.com, mostram a extensão da turbulência. De acordo com Rhemann, “cada torção, filamento e nó na cauda está sendo moldado pelo vento solar”. Mattiazzo, que registrou um campo mais amplo, observa formação em espiral com mais de 5 graus de comprimento — equivalente a dez Luas cheias lado a lado — sugerindo impacto de uma ejeção de massa coronal (CME).
Episódios semelhantes já arrancaram completamente a cauda de cometas como Nishimura (C/2023 P1) e C/2022 E3 (ZTF). Em ambos os casos houve posterior regeneração, fenômeno comparado a “lagartixa” pelos observadores. Como o SWAN R2 se encontra próximo à órbita de Mercúrio, região sujeita a fluxos intensos de partículas, especialistas consideram elevada a probabilidade de desconexão parcial ou total da cauda nas próximas horas.
Descoberta rápida e trajetória rara
O cometa foi identificado em 12 de setembro pelo ucraniano Vladimir Bezugly, por meio de imagens do instrumento Solar Wind ANisotropies (SWAN) a bordo da sonda SOHO, operada em conjunto pela NASA e pela Agência Espacial Europeia. Observações terrestres subsequentes confirmaram a órbita e permitiram a catalogação pelo Minor Planet Center (MPC) com a designação C/2025 R2.
Segundo dados do Small Body Database, trata-se de um objeto de longo período que leva cerca de 22 mil anos para completar uma revolução em torno do Sol. Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia, ressalta que esta é a única oportunidade em vida para observá-lo: “Quando retornar, nenhum de nós estará aqui”.
No momento, o cometa cruza a constelação de Virgem e apresenta magnitude próxima de 6, limiar para visibilidade a olho nu em céus muito escuros. Estimativas apontam possível brilho de magnitude 5,8 até o fim do mês. Para observadores do Hemisfério Sul, a melhor janela ocorre logo após o pôr do sol, na direção oeste, abaixo de Marte e da estrela Espiga.
Tempestade geomagnética também gera auroras na Terra
A mesma abertura coronal que afetou o SWAN R2 desencadeou tempestades geomagnéticas de nível forte entre 15 e 16 de setembro, resultando em auroras intensas nas latitudes altas do hemisfério norte. Relatórios da rede Spaceweather indicam velocidade do vento solar acima de 700 km/s naquelas horas, fator suficiente para comprimir a magnetosfera terrestre e estimular as emissões luminosas.
Para o ambiente espacial próximo à Terra, tempestades desse porte representam risco moderado a satélites de comunicação e a redes de distribuição de energia. Contudo, até o momento, não há registros de falhas graves associadas ao evento.

Imagem: Gerald Rhann via Spaceweather.com
Impactos para astrônomos amadores e pesquisadores
Segundo observadores, a atividade solar incomum cria oportunidade rara para acompanhar em tempo real a modelagem da cauda cometária. A estrutura iônica, composta principalmente de gases ionizados, funciona como “biruta” natural que revela direção e intensidade do vento solar. Pesquisadores esperam coletar dados que ajudem a calibrar modelos de interação partícula-cometa e a prever desconexões futuras.
Para o público, a aparição do SWAN R2 adiciona um alvo acessível em pequenos telescópios. Caso a previsão de brilho se confirme, haverá janela para observação sem equipamento especial em áreas afastadas da poluição luminosa. Já nos centros urbanos, binóculos de 50 mm ou telescópios com abertura entre 150 e 200 mm continuam recomendados.
O que muda para o leitor? Além de proporcionar espetáculo visual, a conjunção de atividade solar elevada e passagem de cometa de longo período facilita a compreensão dos processos que afetam clima espacial, satélites e até sistemas elétricos. Acompanhar alertas de tempestades geomagnéticas pode ajudar a proteger aparelhos sensíveis e planejar observações astronômicas.
Curiosidade
Embora pareça frágil, a cauda de um cometa pode se estender por dezenas de milhões de quilômetros e ainda ser composta de partículas menores que o diâmetro de um fio de cabelo. Quando o vento solar a arranca, o núcleo continua intacto e gera nova cauda em poucas horas, fenômeno que lembra a regeneração do rabo de certos répteis — mas, neste caso, guiado pela física do plasma.
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