Pesquisadores identificaram no osso do tornozelo de um Ardipithecus ramidus — apelidado de Ardi — indícios que esclarecem como nossos ancestrais alternavam entre caminhar eretos e se deslocar pelas árvores. O estudo, divulgado na revista Communications Biology, analisou um tálus com 4,4 milhões de anos encontrado na Etiópia e comparou sua anatomia à de dezenas de primatas extintos e atuais. Os resultados apontam uma fase intermediária entre a locomoção quadrúpede típica dos chimpanzés e o bipedalismo exclusivo dos humanos.
Como o estudo foi conduzido
De acordo com a equipe liderada pelo antropólogo Thomas Cody Prang, o exame do fóssil envolveu a criação de modelos 3D de alta resolução. As imagens permitiram medir ângulos, sulcos e superfícies articulares do tálus, elemento central na ligação entre tíbia, fíbula e pé. Em seguida, essas métricas foram cruzadas com um banco de dados que cobre cerca de 40 milhões de anos de evolução dos primatas. Segundo os autores, a metodologia assegura que todas as comparações sejam padronizadas, reduzindo margens de erro e reforçando a confiabilidade das conclusões.
Os pesquisadores constataram que a forma do tornozelo de Ardi se assemelha à dos grandes macacos africanos, como chimpanzés e gorilas, sugerindo eficiência para escalar troncos e galhos. Ao mesmo tempo, foram identificadas características pioneiras do bipedalismo, entre elas a orientação da superfície articular que suporta o peso do corpo quando o pé toca o chão. Para especialistas em paleoantropologia, essa combinação é uma evidência concreta de que a transição entre vida arbórea e terrestre não ocorreu de maneira abrupta, mas sim em estágios que mesclavam habilidades.
Implicações para a árvore evolutiva
A descoberta contraria hipóteses anteriores que descreviam o Ardipithecus como um hominídeo já distante dos macacos africanos. De acordo com o estudo, os dados apontam para um ancestral comum relativamente recente entre humanos, chimpanzés e gorilas, reforçando a tese de que nossas linhagens divergiram a partir de um modelo locomotor próximo ao observado nesses primatas. Relatórios de instituições de pesquisa confirmam que o tronco evolutivo dos hominídeos passou por vários ramos paralelos, alguns mantendo hábitos arbóreos durante milhões de anos.
Outro ponto relevante é o debate sobre a origem do bipedalismo. Até pouco tempo, muitos cientistas defendiam que a capacidade de caminhar sobre duas pernas surgiu apenas com o Australopithecus, há cerca de 3,7 milhões de anos. O tálus de Ardi antecipa essa data em 700 mil anos e contextualiza que os mecanismos biomecânicos do pé evoluíram gradualmente, talvez como resposta a mudanças climáticas que reduziram áreas florestais na África Oriental.
O que muda para a comunidade científica
Segundo especialistas consultados após a publicação do artigo, o novo conjunto de evidências ajudará a recalibrar modelos de evolução humana utilizados em universidades e museus. Ferramentas de reconstrução digital, cada vez mais presentes na paleoantropologia, devem ser estimuladas a combinar dados de ossos menores, como tarso e metatarso, para produzir visões mais completas da locomoção ancestral. Estudos complementares podem, ainda, esclarecer se a postura ereta de Ardi foi adotada para transportar alimento, economizar energia ou para liberar as mãos para uso de ferramentas.
Para o público em geral, a pesquisa oferece uma narrativa mais detalhada sobre como nossos precursores equilibravam segurança e exploração: caminhavam pelo solo em busca de recursos, mas mantinham a habilidade de subir árvores para se proteger de predadores. A compreensão desse comportamento híbrido também ajuda a explicar adaptações posteriores, como o encurtamento dos dedos dos pés e o alongamento das pernas nos primeiros hominídeos totalmente bípedes.

Imagem: Prang TC Tocheri MW Patel BA et al.
Impacto prático para o leitor
Conhecer o processo evolutivo que resultou no caminhar humano fornece pistas valiosas para áreas como ortopedia, fisioterapia e robótica. Pesquisas baseadas em fósseis podem inspirar próteses mais eficientes ou algoritmos de locomoção para robôs que precisem alternar entre superfícies planas e irregulares. Além disso, a consciência de como o corpo se adaptou ao longo de milhões de anos reforça a importância de práticas saudáveis que respeitem a mecânica natural dos pés e das articulações.
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Curiosidade
Embora o Ardipithecus ramidus tenha vivido há 4,4 milhões de anos, seus restos só foram descritos em detalhe a partir da década de 1990, após mais de dez anos de escavações contínuas na região de Afar, na Etiópia. Curiosamente, a mesma área já revelou fósseis de outros quatro grupos de hominídeos, o que a torna um verdadeiro “arquivo” geológico da evolução humana. A diversidade encontrada ali ajuda os cientistas a compor um mosaico temporal, comparando espécies que viveram em intervalos relativamente curtos, mas exibem adaptações locomotoras distintas.
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