Formação rochosa rara obriga Metrô de SP a rever obra da Linha 20-Rosa

Ciência

Geólogos do Metrô de São Paulo identificaram, entre 46 e 52 metros de profundidade, um pacote de rochas metamórficas até então inédito na região metropolitana. A descoberta ocorreu no traçado previsto para a Estação Portugal, em Santo André, e já leva a companhia a revisar métodos de escavação, equipamentos e cronograma da futura Linha 20-Rosa, que ligará a capital paulista ao ABC.

Formação geológica impõe novos desafios de engenharia

As amostras coletadas revelam micaxistos, gnaisses e milonitos de granulação fina, em tonalidades que variam do cinza-escuro ao castanho. Segundo técnicos da companhia, essas litologias apresentam elevado teor de umidade, tendência a desagregar e baixa coesão, fatores que complicam a estabilidade do túnel durante a perfuração.

A ocorrência surpreende porque o trecho analisado marca a transição entre a bacia sedimentar de São Paulo e terrenos cristalinos mais antigos. Até agora, projetos metroviários na Grande São Paulo lidavam sobretudo com solos argilosos ou formações rochosas mais consolidadas. O avanço da Linha 20 para além dessa fronteira geológica amplia o espectro de desafios e exige um mapeamento detalhado de falhas, fraturas e zonas de cisalhamento.

Especialistas consultados pela companhia apontam que casos semelhantes já foram registrados em Minas Gerais e no interior paulista, mas é a primeira vez que tal contexto aparece em uma obra subterrânea de grande porte na Região Metropolitana de São Paulo. “Trata-se de um divisor de águas em termos de conhecimento do subsolo”, resume o geólogo Hugo Rocha, há quase quatro décadas na empresa.

Adaptações em maquinário e método de escavação

De acordo com engenheiros do projeto, a máquina tuneladora (TBM) prevista para abrir o trecho precisará de discos de corte específicos e monitoramento contínuo de torque para atravessar o material enlameado. A possibilidade de alternar entre modos de escavação – pressurizado em solo mole e aberto em rocha – também está em estudo. “É como dirigir em estrada asfaltada e, de repente, entrar numa faixa de lama”, compara Rocha; nessa transição súbita, controlar a velocidade e ajustar a potência do equipamento são etapas cruciais para evitar instabilidades.

Relatórios internos indicam que o uso de injeção de argamassa atrás dos anéis de concreto ganhará importância para conter recalques no entorno. Além disso, sensores adicionais deverão medir pressão de poros, vibração e deslocamentos, reduzindo o risco de colapsos e garantindo a segurança de edifícios na superfície.

A fase atual do empreendimento é de projeto básico, com campanhas de sondagem ao longo de todo o traçado. Essas informações alimentarão modelos geotécnicos usados para definir o tipo de revestimento, a espessura dos anéis e o diâmetro do escudo. Somente após essa etapa a licitação da obra civil será concluída.

Impactos no cronograma e na expansão metroviária

O Metrô mantém 2027 como data de início das frentes de trabalho, mas admite que ajustes podem ocorrer. Segundo especialistas em infraestrutura, caracterizar rochas inesperadas antes de escavar costuma evitar atrasos maiores adiante, pois permite especificar máquinas e contratos com maior precisão. As medidas preventivas também reduzem custos de manutenção futura e ampliam a segurança operacional.

Para os moradores do ABC e de bairros da zona oeste da capital, a Linha 20-Rosa representa uma ligação direta de 31 quilômetros, prevista para transportar cerca de 1 milhão de passageiros por dia. Alternativas rodoviárias, frequentemente congestionadas, podem perder demanda quando o serviço entrar em operação. Se as adaptações forem confirmadas, o prazo de entrega final poderá ser reavaliado, mas técnicos afirmam que o impacto sobre o orçamento dependerá do nível de customização exigido pelo terreno.

O episódio reforça a importância de estudos geológicos detalhados em projetos de infraestrutura subterrânea. Em linhas recentes, como a 6-Laranja, a descoberta tardia de solo arenoso exigiu técnicas adicionais de consolidação, gerando atrasos e custos extras. Ao antecipar diagnósticos, o Metrô espera minimizar surpresas durante a construção da Linha 20.

Segundo dados oficiais, a companhia planeja ainda a compra de pelo menos duas TBMs para o lote inicial. As especificações definitivas só serão publicadas após a conclusão do laudo geotécnico, prevista para o primeiro semestre de 2024. Até lá, as equipes de projeto trabalham em cenários que incluem reforço de escavação, aditivos estabilizadores e eventuais desvios de traçado.

Aos usuários, a principal consequência pode ser a revisão das datas de entrega, embora a adoção de tecnologia adequada tenda a garantir um serviço mais seguro e durável. Do ponto de vista do mercado, fabricantes de equipamentos de grande porte e fornecedores de concreto projetado devem ser diretamente beneficiados pelo aumento de demanda.

Curiosidade

Você sabia que as túneladoras modernas, como as que serão usadas na Linha 20-Rosa, podem ultrapassar 120 metros de comprimento e pesar mais de 1 mil tonelada? Esses “tatuzões” cavam, recolhem o material escavado e instalam anéis de concreto em um processo contínuo, criando uma fábrica subterrânea em movimento. A configuração da máquina varia conforme o tipo de solo, e cada projeto exige um escudo praticamente sob medida, ilustrando a complexidade do desafio enfrentado pelo Metrô.

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