A startup chinesa Orienspace concluiu com sucesso seu segundo voo orbital na noite de sexta-feira (10), utilizando o foguete sólido Gravity-1 a partir de uma plataforma marítima no Mar Amarelo. A decolagem ocorreu às 22h20 (horário da Costa Leste dos EUA), 23h20 em Brasília, nas proximidades da cidade de Haiyang, província de Shandong.
O veículo transportou três satélites para órbitas quase polares: o Jilin-1 Wideband 02B07, de observação da Terra, operado pela Changguang Satellite Technology (CGST), além dos Shutian Yuxing-01 e Shutian Yuxing-02, desenvolvidos pela Geespace, braço espacial da montadora Geely.
Missão reforça uso de plataforma marítima
O lançamento efetuado a partir de uma barcaça convertida, mantida pelo Haiyang Oriental Spaceport, prolonga a estratégia chinesa de sea launch, modelo que transfere a fase crítica de decolagem para o alto-mar. Segundo especialistas do setor aeroespacial, essa abordagem reduz riscos para áreas densamente povoadas, amplia as possibilidades de inclinação orbital e diminui custos logísticos.
A Orienspace forneceu transmissão ao vivo do voo, prática ainda pouco comum entre operadoras chinesas. A iniciativa, de acordo com analistas de mercado, sinaliza maior transparência e ambição comercial da empresa, que busca contratos para as megaconstelações nacionais Guowang e Qianfan.
O Gravity-1 é um foguete de três estágios com quatro propulsores auxiliares, capaz de levar cerca de 6.500 kg à órbita baixa (LEO) ou 3.700 kg a 700 km de altitude em órbita síncrona ao Sol, quando equipado com terceiro estágio criogênico de querosene e oxigênio líquido. Após o voo inaugural, em janeiro de 2024, o veículo recebeu ajustes internos para aumentar estabilidade, repetibilidade de produção e confiabilidade, segundo a companhia.
Satélites ampliam capacidade de observação e IoT
O satélite Jilin-1 Wideband 02B07 integra uma constelação comercial de sensoriamento remoto de alta resolução. O equipamento oferece imagens com resolução de 0,5 metro e largura de varredura de 150 km, já tendo capturado regiões de alta latitude na Rússia. Dados desse tipo apoiam monitoramento de agricultura, desastres naturais, planejamento urbano e segurança ambiental.
Já os Shutian Yuxing-01 e -02 derivam da plataforma leve GSP50, de 50 kg, projetada pela Geespace. Eles fazem parte de um ecossistema de Internet das Coisas (IoT) que a empresa pretende operar para aplicações em logística, transporte automotivo e comunicação de baixo consumo energético. Em setembro, a Geespace concluiu a primeira fase de sua constelação IoT, com 64 unidades, em outro lançamento a partir do mesmo porto espacial.
Expansão de investimentos e novos veículos
Fundada em 2020, a Orienspace captou, em agosto, valores estimados entre US$ 27 milhões e US$ 124 milhões numa rodada de investimentos Série B. O aporte visa acelerar o desenvolvimento do Gravity-2, foguete reutilizável de 70 m de altura, dois estágios e nove motores Yuanli-85. De acordo com dados oficiais da empresa, o novo veículo poderá colocar 21,5 t em LEO ou 15 t em órbita síncrona ao Sol a 500 km. Uma variante com propulsores laterais sólidos elevaria a capacidade para até 29 t.
Em julho, a companhia realizou o teste de queima estática do primeiro estágio do Gravity-2. A meta é iniciar voos de demonstração antes do fim do ano, alinhando-se à tendência de foguetes parcialmente reutilizáveis, já adotada em programas da SpaceX e, mais recentemente, em projetos de outras empresas chinesas como Galactic Energy e Space Pioneer.

Imagem: Ourspace
Crescimento do setor espacial chinês em 2025
O segundo voo do Gravity-1 representou a 60ª tentativa orbital da China em 2025, com apenas uma falha registrada até o momento. Projeções indicam que o país deverá concluir o ano com novos testes relacionados ao programa lunar tripulado e estreias de veículos reutilizáveis tanto estatais quanto comerciais. Entre as próximas atividades constam lançamentos dos foguetes Long March 8A e Long March 12 a partir do porto espacial comercial de Hainan.
Relatórios oficiais revelam um aumento acelerado no número de startups de lançamento na China, impulsionado por rodadas de financiamento recordes. O objetivo é atender à demanda interna por comunicação de banda larga, observação da Terra e serviços IoT, demandados pelas megaconstelações planejadas. A entrada de empresas privadas nesse mercado pressiona prazos e custos, criando ambiente competitivo semelhante ao observado nos Estados Unidos e na Europa.
O que muda para o mercado e para o usuário
A consolidação de lançamentos marítimos e o avanço rumo à reutilização podem diminuir substancialmente o custo por quilograma enviado ao espaço. Para operadores de satélite, isso significa constelações maiores e renovação mais rápida de equipamentos. O usuário final tende a receber serviços de geolocalização, conectividade e monitoramento ambiental mais precisos e acessíveis, impactando setores como agricultura de precisão, transporte autônomo e gestão de recursos naturais.
Se a Orienspace cumprir o cronograma do Gravity-2, a empresa poderá se posicionar como fornecedora relevante de lançamentos de médio e grande porte, competindo em contratos internacionais e ampliando a oferta de janelas de voo para missões comerciais ou governamentais.
Curiosidade
Lançamentos a partir do mar não são novidade: na década de 1990, o consórcio Sea Launch utilizava uma plataforma móvel no Pacífico para colocar satélites geoestacionários. A China retoma esse conceito com tecnologia atualizada e pretende aumentar a frequência de decolagens no Mar Amarelo, região onde a profundidade e a logística portuária favorecem o transporte de foguetes volumosos. A iniciativa reflete o esforço do país em diversificar locais de lançamento e reduzir restrições geográficas.
Para quem acompanha novidades sobre a indústria espacial, vale conferir outras coberturas em nosso portal, como o avanço dos motores reutilizáveis chineses anunciado recentemente em Remanso Notícias – Tecnologia. Continue acompanhando para entender como essas inovações podem influenciar o futuro da conectividade global.
Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:
Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!


