Físico soviético sobrevive a feixe de prótons na cabeça; estudo recria trajeto 47 anos depois

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Em 1978, um acidente dentro do maior acelerador de partículas da então União Soviética expôs o físico Anatoli Bugorski a um feixe de prótons quase à velocidade da luz. Quase meio século depois, pesquisadores conseguiram reconstruir em três dimensões o caminho percorrido pela radiação através de seu crânio, oferecendo detalhes inéditos sobre um dos episódios mais extremos já registrados na ciência.

Acidente em Protvino: o que aconteceu

O incidente ocorreu no Instituto de Física de Altas Energias, em Protvino, que operava o síncrotron U-70, um anel de 1,5 quilômetro dedicado a experimentos de física de partículas. Aos 36 anos, Bugorski investigava uma falha em um detector quando múltiplos sistemas de segurança falharam simultaneamente. Neste momento, o feixe atingiu a parte posterior de sua cabeça e saiu próximo à narina esquerda.

Estima-se que o cientista recebeu entre 200 mil e 300 mil rads, o equivalente a até 600 vezes a dose letal para humanos. Ainda assim, ele concluiu o expediente, procurou atendimento médico apenas na manhã seguinte e sobreviveu ao que seria fatal para a maioria das pessoas.

Reconstituição digital do feixe

Devido ao sigilo governamental, fotos e prontuários originais ficaram inacessíveis por décadas. O novo estudo partiu de uma única imagem em baixa resolução do rosto inchado de Bugorski pouco após o ocorrido. Os autores convert­eram a fotografia em um modelo tridimensional, identificando que o retrato, embora parecesse um perfil, exibia leve rotação do crânio. Essa correção permitiu traçar a linha exata de entrada e saída do feixe.

A trajetória revelou passagem principal pelo lobo temporal, perto do limite com o lobo occipital. As conclusões ajudam a explicar sequelas relatadas por Bugorski, como crises epilépticas, perda auditiva no ouvido esquerdo e dormência facial. O estudo sugere que danos ao nervo infra-orbitário ou ao osso temporal justificam a dormência, enquanto o feixe atravessou o labirinto ósseo responsável pela audição.

Consequências imediatas e a longo prazo

Logo após o acidente, Bugorski apresentou fadiga intensa e inchaço facial, mas manteve percepção e capacidades cognitivas. Um ano e meio depois, retornou ao trabalho, concluiu doutorado e permaneceu ativo na pesquisa até os 77 anos. Segundo os autores, a área afetada é associada a linguagem e visão, mas não houve comprometimento severo nessas funções, fato considerado notável diante da dose recebida.

Desde então, o físico relata crises epilépticas controladas e surdez unilateral. Não há registro de outros problemas sistêmicos ligados à radiação, reforçando a singularidade de sua recuperação.

Importância do caso para a ciência

Além de servir como estudo de sobrevivência extrema, o episódio fornece dados valiosos sobre efeitos biológicos de radiações de alta energia em tecidos humanos. A reconstituição do trajeto do feixe permite correlacionar sintomas e estruturas cerebrais atingidas, contribuindo para protocolos de segurança em aceleradores e para pesquisas médicas sobre radioterapia.

Para o grupo responsável pela nova análise, a ausência de documentação original tornou o trabalho desafiador. Ainda assim, o modelo 3D obtido demonstra que investigações retrospectivas podem produzir conclusões robustas mesmo com dados limitados.

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A reconstrução do trajeto do feixe que atravessou a cabeça de Anatoli Bugorski reforça a importância de protocolos de segurança e amplia o entendimento sobre os limites de tolerância do organismo humano à radiação ionizante. O estudo também destaca como a ciência continua extraindo conhecimento de eventos raros, mesmo décadas depois de sua ocorrência. Acompanhe as próximas atualizações e compartilhe o artigo com quem se interessa por descobertas na física de partículas.

Curiosidade

Apesar da exposição a uma dose de radiação considerada fatal, Bugorski nunca apresentou queda significativa de desempenho intelectual. O cientista relatou que viu um “flash mais brilhante do que mil sóis” no momento do impacto, mas não sentiu dor imediata. Desde o acidente, a cicatriz de entrada do feixe permanece visível na nuca, enquanto a área de saída, perto do nariz, formou uma marca menor. O caso segue como referência internacional em estudos sobre radiação.

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