Filme “Cyclone” resgata dramaturga apagada e destaca sororidade no Brasil de 1919

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“Cyclone”, longa-metragem da cineasta Flávia Castro, foi exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com a proposta de devolver voz e protagonismo a uma personagem histórica pouco conhecida: Maria de Lourdes Castro Pontes, que se autodenominava Daisy “Cyclone”.

História real ganha releitura centrada na autonomia feminina

No enredo, Daisy (interpretada por Luiza Mariani) trabalha em uma gráfica na capital paulista de 1919 e dedica as noites à escrita teatral. Por imposição social, as peças levam a assinatura do dramaturgo Heitor Gamba (Eduardo Moscovis), enquanto a verdadeira autora permanece invisível. Quando surge uma bolsa de estudos em Paris, a operária encara barreiras legais e culturais; na época, mulheres precisavam de autorização do pai ou do marido para viajar. A narrativa, contudo, difere do destino trágico da personagem histórica. Se na vida real Daisy foi coagida a interromper uma gravidez e morreu dias depois, na versão de Flávia Castro ela assume o controle das próprias escolhas, decide pelo aborto e segue adiante.

Segundo pesquisadoras de cinema ouvidas pela organização da Mostra, o gesto ficcional funciona como reparação simbólica: ao permitir que Cyclone decida por si, o filme reposiciona a protagonista como agente da própria história, em vez de vítima das estruturas patriarcais da época.

Sororidade move a trama e se reflete nos bastidores

Ao redor de Daisy, outras mulheres formam uma rede de apoio que contrasta com a presença masculina limitada a autoridades ou figuras de poder. As personagens vividas por Karine Teles e Magali Biff exemplificam essa aliança, evidenciando que a emancipação individual está ligada à coletividade feminista. A escolha de retratar essa solidariedade sem discursos panfletários foi considerada por curadores da Mostra como um dos pontos altos da produção.

Nos bastidores, esse compromisso também é visível. A fotografia leva a assinatura de Heloísa Passos, a direção de arte é de Ana Paula Cardoso, e a montagem foi conduzida por Joana Collier, além da própria diretora. A predominância feminina na equipe reflete a temática central e reforça, segundo especialistas em audiovisual, a importância de pluralidade de olhares na construção de narrativas históricas.

A estética do realismo sensorial

Para retratar São Paulo no início do século XX, Flávia Castro optou por locações enxutas, planos fechados e uso extensivo de texturas sonoras. O ruído de obras, bondes e máquinas de impressão mistura-se ao turbilhão emocional da protagonista, estabelecendo um paralelo entre a cidade em expansão e o processo de autodescoberta de Daisy. De acordo com críticos presentes na sessão, essa abordagem reduz custos típicos de produções de época sem comprometer a verossimilhança, além de ampliar a imersão do público.

Contexto histórico e relevância para o cinema brasileiro

Relatórios da Agência Nacional do Cinema (Ancine) indicam que menos de 20% dos longas lançados no país entre 2018 e 2022 foram dirigidos por mulheres. “Cyclone” integra um movimento recente de fortalecimento da perspectiva feminina na indústria e, ao focar em uma personagem do início do século passado, estabelece pontes entre desafios antigos e dilemas contemporâneos. Pesquisadores de gênero destacam que temas como autoria intelectual e direitos reprodutivos continuam atuais, o que amplia o alcance da obra para além do circuito de festivais.

No campo da premiação, analistas preveem que “Cyclone” poderá disputar prêmios nacionais de direção de arte e atuação, além de circular em mostras internacionais voltadas a narrativas de mulheres. Caso se confirme, a visibilidade tende a favorecer outras produções similares, criando efeito cascata para roteiristas e diretoras brasileiras.

Impacto para o público e para a indústria

Para quem acompanha cinema nacional, a obra oferece oportunidade de conhecer uma figura histórica pouco debatida e, ao mesmo tempo, refletir sobre a evolução — ou a permanência — de barreiras impostas às mulheres. Já para o mercado audiovisual, “Cyclone” reforça que produções de orçamento controlado conseguem atingir qualidade técnica e relevância temática, abrindo caminho para novos projetos independentes.

De acordo com consultores de distribuição, a recepção positiva na Mostra de São Paulo pode acelerar negociações para exibição em salas comerciais ou plataformas de streaming, ampliando o acesso do público a histórias com recorte histórico e social.

Curiosidade

O apelido “Cyclone” surgiu porque Daisy, ainda adolescente, desafiava colegas a escrever textos tão intensos quanto suas próprias ideias, criando um “vendaval” nos debates culturais da época. Esse detalhe inspirou a diretora Flávia Castro a inserir, em cenas-chave, sons de vento que se misturam à trilha, sugerindo a força transformadora da protagonista.

Para acompanhar outras novidades do cinema nacional, confira também nossa cobertura em Entretenimento.

Este artigo apresentou os principais aspectos de “Cyclone”, desde o resgate histórico até o impacto para a indústria audiovisual. Continue navegando pelo site e mantenha-se informado sobre os próximos lançamentos e tendências do setor.

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