Uma vulnerabilidade identificada no portal de venda de ingressos BuyTicket permitia que informações pessoais fossem reveladas a qualquer visitante mediante a simples digitação de um CPF na tela de cadastro. O problema, confirmado por especialistas em segurança e já corrigido pela empresa, levantou dúvidas sobre o tratamento de dados sensíveis e o cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Como a exposição ocorria
O incidente foi descoberto por um ethical hacker, que detectou o vazamento durante testes rotineiros de navegação. O processo era discreto: bastava acessar a área de login, selecionar “Cadastrar” e inserir um número de CPF. Ao clicar fora do campo, o nome do titular aparecia automaticamente no formulário, indicando que o sistema buscava dados em tempo real.
Uma análise mais detalhada, feita por profissionais de TI por meio da ferramenta de inspeção do navegador, revelou a extensão da falha. Trechos de código exibiam endereço completo, telefone, nome da mãe, nacionalidade e até o signo chinês da pessoa consultada. Essas informações podiam ser vistas sem necessidade de credenciais ou autenticação adicional, violando princípios básicos de privacidade e segurança.
Posicionamento da empresa e correção
Procurada para comentar o caso, a BuyTicket afirmou que o procedimento fazia parte do fluxo de Know Your Customer (KYC), prática usada por instituições financeiras e plataformas digitais para validar a identidade de novos usuários e prevenir fraudes. A companhia explicou que utiliza APIs que consultam bases públicas e privadas, inclusive da Receita Federal, destacando que a ferramenta é aberta e disponível a qualquer organização.
Após ser notificada sobre a falha, a empresa informou ter removido “consultas desnecessárias” e mantido apenas o mínimo de dados exigido para a verificação cadastral. Novos testes realizados pelos especialistas mostraram que os detalhes adicionais já não são mais exibidos na interface ou no código-fonte.
Possíveis violações à LGPD
De acordo com consultores de privacidade, o incidente sugere descumprimento da LGPD nos princípios de segurança, prevenção e confidencialidade. “A própria manifestação da empresa demonstra que houve falha de programação na integração via API”, avaliou Leandro Alvarenga, especialista em proteção de dados.
Ele explicou que, ainda que parte das informações seja obtida em bases públicas, cabe ao controlador adotar medidas técnicas e administrativas aptas a impedir acessos não autorizados. O uso de um provedor aberto não isenta a organização de responsabilidade nem autoriza a exposição de dados em ambiente acessível a qualquer usuário.
Entre as ações recomendadas pelos especialistas após a identificação de incidentes estão: notificar a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), comunicar os titulares afetados quando houver risco relevante, documentar o ocorrido internamente e revisar integrações de APIs para garantir protocolos seguros.
Impacto para usuários e mercado
Vazamentos desse tipo fortalecem a percepção de vulnerabilidade na troca de informações pessoais na internet. Segundo analistas do setor, a repetição de casos envolvendo CPF, endereço e telefone aumenta o risco de golpes de engenharia social, fraudes financeiras e clonagem de contas. Para as empresas, a exposição pode resultar em sanções administrativas, multas que chegam a 2% do faturamento e danos reputacionais.

Imagem: Reprodução
O incidente também evidencia desafios no equilíbrio entre a necessidade de verificação de identidade e a proteção à privacidade. Relatórios de mercado apontam que a adoção de KYC baseado em dados públicos continuará crescendo, mas exigirá controles rígidos, como criptografia ponta a ponta, anonimização e políticas de minimização, para que apenas dados estritamente necessários sejam tratados.
Para o usuário, a recomendação é redobrar a atenção a cadastros que solicitam CPF ou outros identificadores sensíveis e monitorar e-mails, contas bancárias e redes sociais em busca de atividades suspeitas. Ferramentas de consulta a vazamentos, autenticação em dois fatores e senhas fortes continuam sendo medidas eficazes de autoproteção.
Se confirmada a adoção de boas práticas de segurança pela BuyTicket, a correção tende a restabelecer a confiança dos clientes. No entanto, o episódio serve de alerta para todo o setor de comércio eletrônico: políticas robustas de privacidade não devem ser vistas apenas como requisito legal, mas como diferencial competitivo.
Para quem acompanha tecnologia, falhas como essa mostram a importância de auditorias constantes e transparência com o público. Segundo especialistas, empresas que comunicam incidentes de forma rápida e implementam ações preventivas costumam reduzir o impacto negativo e evitar multas mais severas.
Se você quer entender como incidentes de segurança influenciam o cenário de inovação, vale conferir também outras matérias em nossa editoria de Tecnologia, onde analisamos tendências de cibersegurança e proteção de dados.
Curiosidade
Você sabia que o signo chinês, exposto na falha da BuyTicket, é calculado pelo ano de nascimento segundo o calendário lunar? Embora inofensivo à primeira vista, esse dado pode ser usado para compor perfis de marketing ou auxiliar golpes de engenharia social. O caso demonstra que até mesmo detalhes aparentemente banais merecem proteção em ambientes digitais.
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