Uma nova onda de construções voltadas à inteligência artificial está a remodelar paisagens urbanas e rurais nos Estados Unidos. Grandes empresas de tecnologia investem bilhões de dólares em data centers capazes de abrigar servidores dedicados ao treinamento e à operação de modelos generativos, enquanto comunidades locais e autoridades federais discutem o impacto sobre energia, água e meio ambiente.
Crescimento acelerado impulsionado por IA
Desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, a procura por serviços baseados em IA disparou. A ferramenta da OpenAI atrai hoje cerca de 700 milhões de utilizadores semanais, gerando procura por infraestrutura computacional de grande escala. Amazon, Apple, Google, Meta, Microsoft e a própria OpenAI respondem investindo em centros de dados que, em muitos casos, ultrapassam a marca de um gigawatt de consumo projetado.
Meta planeja erguer o Hyperion, na Luisiana, com área equivalente a parte considerável de Manhattan e gasto estimado de 10 milhões de dólares. Já o consórcio Stargate, apoiado por OpenAI, Oracle e SoftBank, anunciou 500 milhões de dólares para infraestrutura nos próximos quatro anos, incluindo um complexo de 875 acres em Abilene, Texas, que poderá exigir 1,2 GW—energia suficiente para 750 mil residências.
O Departamento de Energia dos EUA calcula que a quantidade de data centers praticamente duplicou entre 2021 e 2024, e projeta crescimento anual de 9% até 2030. Até 2035, a demanda elétrica dessas instalações deve dobrar no país.
Pressão sobre eletricidade e água
Treinar um único grande modelo linguístico consome substancial energia, e cada consulta em sistemas generativos utiliza cerca de dez vezes mais eletricidade que uma pesquisa tradicional na web. Um relatório da Agência Internacional de Energia indica que os EUA responderam por 45% do consumo mundial de eletricidade em data centers em 2024.
Para enfrentar o aumento, o governo federal publicou o documento “America’s AI Action Plan”, defendendo licenciamento acelerado, flexibilização de normas ambientais e expansão da geração de energia para garantir competitividade. Uma ordem executiva de abril declarou “emergência energética nacional” e recomendou uso de todas as fontes disponíveis.
Entidades do setor elétrico alertam para riscos à confiabilidade da rede. A North American Electric Reliability Corporation afirma que pedidos de conexão para instalações de até 5 GW já mudam fundamentos do planejamento. Estudo conjunto das universidades Carnegie Mellon e North Carolina State prevê que as tarifas de energia nos EUA possam subir, em média, 8% até 2030, chegando a 25% na Virgínia, região com alta concentração de data centers.
Comunidades questionam impactos locais
Em Clifton Township, Pensilvânia, moradores mobilizam-se contra um campus de 34 edifícios com capacidade de 1,5 GW. A preocupação principal recai sobre a escassez hídrica: cada prédio terá poços próprios, elevando o risco de esgotamento dos aquíferos que abastecem residências.
Na Luisiana, residentes de Richland Parish avaliam que o projeto Hyperion converterá 2.250 acres de terras agrícolas em área industrial e criará no máximo 500 postos permanentes—número comparado por críticos ao quadro de um hospital de médio porte. Organizações como a Alliance for Affordable Energy contestam ainda o pedido da concessionária Entergy para construir três usinas a gás destinadas a alimentar o complexo.

Imagem: Internet
A utilização de água para refrigeração soma outra camada de controvérsia. Documentos públicos mostram que um data center do Google em The Dalles, Oregon, consumiu 355 milhões de galões em 2021, o equivalente a 538 piscinas olímpicas. Relatório ambiental da Google aponta que duas unidades em Council Bluffs, Iowa, retiraram 1,4 bilhão de galões em 2023. Meta registrou 1,39 bilhão de galões em todas as suas instalações no mesmo ano.
Metas de sustentabilidade sob pressão
Empresas prometem neutralizar emissões e repor água. Google e Meta visam ser “água positiva” até 2030; Amazon, neutra em carbono até 2040. No entanto, o relatório ambiental do Google mostra aumento de 51% nas emissões de 2019 a 2024, e senadores norte-americanos questionam a clareza desses compromissos.
Para reduzir impacto, fornecedores experimentam sistemas de refrigeração em circuito fechado, adoção de energia renovável e até acordos para uso futuro de geração nuclear. Contudo, analistas lembram que novas fontes demoram anos a entrar em operação, enquanto a demanda de IA cresce em ritmo imediato.
A intensificação da corrida por infraestruturas de IA coloca em xeque a capacidade da rede elétrica, dos recursos hídricos e das comunidades de acompanhar tamanha expansão. A discussão sobre custos, benefícios e limites regulatórios tende a ganhar força à medida que os “fábricas de IA” se multiplicam.
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Resumo: o avanço dos data centers de inteligência artificial nos EUA acelera investimentos, mas acarreta desafios de energia, água e sustentabilidade. Continue acompanhando nossas publicações para entender como essa transformação pode afetar o futuro dos serviços digitais e do meio ambiente.