EUA retomam liberação de moscas estéreis para conter avanço da bicheira

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O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reativou um amplo programa de liberação de moscas estéreis para impedir o retorno da bicheira — infestação provocada pela larva da mosca Cochliomyia hominivorax — que ameaça animais de criação e, indiretamente, a saúde pública.

Primeiro caso humano reacende alerta

O sinal de alerta veio após a confirmação do primeiro caso humano associado a viagem recente de um cidadão que retornou de El Salvador, país que enfrenta surto da praga. Embora autoridades de saúde classifiquem o risco para a população norte-americana como muito baixo, a presença do parasita coloca em xeque a segurança do rebanho nacional, responsável por mais de US$ 100 bilhões em atividades econômicas, segundo o USDA.

A bicheira ocorre quando a mosca deposita ovos em feridas abertas de mamíferos. Após a eclosão, as larvas perfuram o tecido saudável e avançam em espiral — movimento que inspirou o nome “screwworm”, ou “verme-parafuso”. O processo amplia lesões, pode levar à morte do animal e exige intervenções veterinárias urgentes.

Estratégia já testada nos anos 1960

A técnica de controle por machos estéreis não é inédita. Entre 1957 e 1966, autoridades agrícolas dos EUA erradicaram a praga no território continental ao liberar moscas incapazes de gerar descendentes, reduzindo gradualmente a população fértil. O método voltou a ser usado em 2016, quando um foco foi registrado na Flórida, e agora ganha escala para evitar nova expansão a partir de surtos no México e na América Central.

Para acelerar a resposta, o USDA converteu a base aérea Moore, no Texas, em ponto de dispersão. A instalação deverá lançar até 100 milhões de moscas estéreis por semana nas regiões mais críticas. Em agosto, a pasta anunciou ainda a criação de uma “fábrica de moscas” no mesmo local, com capacidade prevista de 300 milhões de insetos estéreis semanais, em parceria com instalações no Panamá e no México. O governo mexicano receberá US$ 21 milhões para modernizar sua unidade e elevar a produção em até 100 milhões de moscas estéreis adicionais.

Bloqueios e autorização emergencial para tratamentos

Em julho, o governo norte-americano fechou temporariamente todos os pontos de entrada de gado vivo na fronteira sul, medida preventiva que visa reduzir a chance de introdução do parasita por animais de fazenda. A estratégia, porém, não cobre totalmente outras rotas, como a migração de fauna silvestre.

Paralelamente, a Food and Drug Administration (FDA) recebeu autorização de uso emergencial para medicamentos destinados ao tratamento ou prevenção da bicheira em animais. Como não há fármacos aprovados nos EUA especificamente para a doença, a medida permite que veterinários recorram a produtos licenciados para outras finalidades ou fabricados em outros países, garantindo acesso rápido durante o surto.

Impacto econômico e próximos passos

Autoridades temem que um eventual espalhamento da mosca cause prejuízos semelhantes aos registrados por influenza aviária em granjas, que elevaram o preço de ovos e carne. A reintrodução do parasita também exigiria inspeções extras, custos veterinários e eventuais abates preventivos, pressionando produtores e consumidores.

Por enquanto, o USDA concentra esforços em três frentes: liberação de moscas estéreis, fiscalização de fronteiras e apoio a pesquisas para tratamentos. Caso os ciclos de reprodução sejam interrompidos de forma consistente, técnicos esperam conter o avanço antes que chegue às grandes regiões pecuárias do meio-oeste.

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O programa de moscas estéreis volta a ser peça-chave na defesa sanitária dos EUA. Se a implantação alcançar a meta de produção e dispersão, especialistas acreditam que a bicheira poderá ser controlada sem grandes impactos ao mercado pecuário. Continue atento às atualizações e às orientações de órgãos de saúde animal.

Curiosidade

Embora cause estragos em mamíferos, a Cochliomyia hominivorax não se desenvolve em matéria orgânica em decomposição, como outras moscas. A espécie precisa de tecido vivo para completar o ciclo, o que a torna particularmente nociva. Foi justamente essa característica que motivou a criação da técnica de machos estéreis, considerada um dos primeiros sucessos da biotecnologia aplicada ao controle de pragas.

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