Um paciente de 44 anos, diagnosticado com depressão resistente a tratamento (TRD), apresentou remissão sustentada dos sintomas após se submeter a um procedimento experimental de estimulação cerebral desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. O caso, ainda único e à espera de revisão por pares, oferece novas perspectivas para pessoas que não respondem às terapias disponíveis.
Procedimento inédito mapeia redes cerebrais
O método, batizado de personalized adaptive cortical electro-stimulation (PACE), começa com um mapeamento funcional de alta precisão por meio de ressonância magnética (fMRI). Essa etapa identifica o chamado “brainotype”, isto é, o padrão individual de atividade neuronal que orienta a localização dos eletrodos.
No paciente em questão, o exame revelou uma ampliação incomum da rede de saliência, responsável por direcionar a atenção a estímulos relevantes. Essa rede ocupava 12,4% da superfície cortical — quatro vezes mais que em cérebros saudáveis, característica já associada à depressão.
Com base no mapeamento, a equipe implantou quatro eletrodos cirurgicamente, dois em cada hemisfério, posicionados nos limites onde a rede de saliência invadia outras regiões cerebrais. Após a recuperação pós-operatória, iniciaram-se sessões mensais de ajuste dos parâmetros de estimulação.
Melhora rápida e manutenção por 30 meses
Logo nos primeiros testes, a estimulação do default mode network (DMN) provocou o que o paciente descreveu como “alegria avassaladora”. Estímulos em outros pontos geraram sensações de calma, enquanto uma configuração específica causou ansiedade, demonstrando a necessidade de personalização cuidadosa.
Os resultados clínicos apareceram em poucas semanas. Em sete semanas, pensamentos suicidas desapareceram completamente. Após quatro meses, testes padronizados apontaram melhora de 59% no humor, índice mantido por pelo menos 30 meses de acompanhamento. Segundo os autores, esse período representa a fase mais longa de bem-estar na vida adulta do participante.
Antes do estudo, o paciente havia passado 31 anos em um episódio depressivo contínuo, enfrentado internações frequentes e tentativas de suicídio. Ele experimentara 19 medicamentos diferentes e três sessões de eletroconvulsoterapia (ECT), que resultaram em prejuízos cognitivos sem oferecer alívio duradouro.

Imagem: Labutin.Art
Pesquisa caminha para ensaio clínico maior
Embora promissor, o trabalho foi realizado com apenas um voluntário. Os pesquisadores planejam um ensaio clínico duplo-cego para avaliar a eficácia do PACE em um grupo mais amplo. A investigação completa foi publicada como pré-print no repositório PsyArXiv e aguarda validação por outros especialistas.
Diante da ausência de tratamentos definitivos para a depressão resistente, a personalização proposta pelo PACE surge como alternativa a abordagens convencionais, como a ECT, que não consideram variações individuais na organização cerebral.
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O estudo reforça a importância de estratégias personalizadas no combate à depressão de difícil tratamento e sugere que a estimulação adaptativa do córtex possa abrir caminho para terapias mais eficazes e menos invasivas.
Curiosidade
O default mode network, estimulado no procedimento, é uma rede que costuma ficar ativa quando a mente está em repouso ou envolvida em devaneios. Paradoxalmente, sua hiperatividade já foi associada à ruminação típica da depressão. Ao modular essa rede, o PACE pode ter interrompido padrões de pensamento negativos, contribuindo para o efeito terapêutico observado.
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