Os astrónomos nunca esconderam o interesse em descobrir se os exoplanetas também abrigam satélites naturais, os chamados exoluas. Até hoje, porém, nenhum desses objetos foi confirmado. Um artigo pré-publicado no repositório arXiv por pesquisadores ligados ao Observatório Europeu do Sul (ESO) descreve um caminho para preencher essa lacuna, recorrendo a técnicas de interferometria óptica e ao instrumento GRAVITY, instalado no Very Large Telescope (VLT) do Chile.
Método proposto compara oscilações entre planeta e lua
O ponto de partida da nova abordagem é medir a pequena oscilação que um planeta sofre ao ser orbitado por um satélite. Segundo os autores, o princípio é semelhante ao usado na detecção de exoplanetas pelo método de trânsito, mas aplicado em escala ainda mais delicada. A interferometria óptica combina a luz captada por vários telescópios separados por pequenas distâncias, elevando a resolução angular do conjunto. Quando essa resolução atinge a ordem de dezenas de microssegundos de arco, torna-se possível perceber o desvio provocado por uma lua relativamente grande.
Hoje, o sistema GRAVITY já alcança cerca de 50 microssegundos de arco. De acordo com o estudo, uma atualização planejada para os próximos anos deve reduzir esse limite para perto de 10 microssegundos. Se a previsão se confirmar, o instrumento passará a ter sensibilidade suficiente para detectar oscilações compatíveis com exoluas em planetas gigantes localizados a algumas dezenas de anos-luz.
Histórico de tentativas e a promessa de novos instrumentos
Nos últimos dez anos, o trânsito de milhares de exoplanetas foi observado, mas nenhum sinal lunar pôde ser confirmado. Em 2018, uma equipe da Universidade de Columbia encontrou um indício de satélite em torno de um planeta fora do Sistema Solar, porém o elemento permaneceu controverso e, até agora, não foi validado. Segundo especialistas, a ausência de confirmações se deve à dificuldade técnica: a sombra projetada por uma lua é pequena demais para ser percebida pelos fotômetros atuais.
O artigo ressalta que possibilidades mais ousadas surgem com conceitos ainda em fase de estudo, como o Interferômetro de Linha de Base Quilométrica. A proposta é ampliar a distância entre os telescópios participantes para alcançar uma precisão de até 1 microssegundo de arco. Embora o projeto seja, por enquanto, teórico, relatórios indicam que tecnologias de metrologia óptica já evoluíram o bastante para viabilizar protótipos de longo prazo.
Implicações científicas de confirmar exoluas
Encontrar luas em outros sistemas planetários abriria uma nova linha de pesquisa sobre habitabilidade. De acordo com dados oficiais da NASA, satélites como Europa, em Júpiter, e Encelado, em Saturno, são considerados candidatos a abrigar oceanos ocultos. Se exoluas seguirem essa tendência, elas ampliam o leque de mundos potencialmente favoráveis à vida. Além disso, parâmetros como massa, período orbital e composição química podem revelar detalhes sobre a formação dos próprios planetas e de suas estrelas.
Outro impacto envolve a calibração de modelos de dinâmica orbital. Qualquer confirmação exigiria ajustar simulações de estabilidade a longo prazo, sobretudo em sistemas onde planetas se movem muito perto da zona habitável. Pesquisadores indicam que as marés geradas por luas massivas podem afetar processos como rotação, clima e até a distribuição de água líquida em exoplanetas rochosos.
Próximos passos e expectativa do setor
O cronograma divulgado pelo ESO prevê que a atualização do GRAVITY entre em operação antes do fim da década. Em paralelo, programas de observação já mapeiam candidatos promissores, priorizando planetas gigantes próximos e com órbitas bem caracterizadas. Quando a sensibilidade adicional estiver disponível, esses alvos serão revisitados.

Imagem: Shutterstock
Segundo os autores, uma detecção positiva exigirá campanhas de monitoramento contínuo, para excluir ruído instrumental e variações estelares. O protocolo inclui verificar o sinal em diferentes comprimentos de onda e comparar com simulações de trajetórias compatíveis com luas de vários tamanhos. Caso o padrão se repita de forma consistente, a comunidade deve seguir o mesmo procedimento de validação aplicado aos primeiros exoplanetas, envolvendo telescópios independentes.
Para o leitor, a confirmação de exoluas pode significar um salto na compreensão sobre onde — e como — a vida poderia se desenvolver no universo. Além de expandir o mapa de potenciais moradas, o avanço tecnológico necessário para ver satélites minúsculos a dezenas de anos-luz tende a beneficiar outras áreas, como a caracterização de atmosferas e a medição de massas planetárias.
Curiosidade
O termo “microssegundo de arco” pode soar abstrato, mas corresponde a observar um objeto de um centímetro posicionado na Lua a partir da Terra. É esse nível de precisão que o GRAVITY pretende atingir em sua próxima fase, demonstrando como pequenas melhorias na resolução angular podem revelar corpos celestes antes invisíveis, inclusive as tão procuradas exoluas.
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