EchoStar fechou a venda de mais 15 MHz de espectro AWS-3 de alcance nacional para a SpaceX por US$ 2,6 bilhões em ações. O acordo, anunciado em 6 de novembro e ainda dependente de aprovação regulatória, reforça o plano da gigante de órbita baixa de expandir o serviço Starlink Direct-to-Cell nos Estados Unidos.
Negócio fortalece estratégia de acesso direto ao celular
Com a nova transação, a SpaceX soma o espectro AWS-3 aos 50 MHz de frequências AWS-4 e H-Block que já estavam em processo de aquisição junto à EchoStar desde setembro, em operação avaliada em US$ 17 bilhões. Segundo dados oficiais, a companhia de Elon Musk pretende usar o conjunto de licenças para acelerar a oferta de voz, dados e mensagens diretamente entre satélites e smartphones, sem necessidade de torres terrestres.
O serviço Direct-to-Cell está ativo em zonas sem cobertura no Canadá, Chile, Japão, Austrália, Nova Zelândia e diversas regiões dos Estados Unidos. A SpaceX informa que mais de 8 milhões de usuários já recorreram à solução em situações de ausência de sinal móvel tradicional desde o início da operação, no começo do ano.
Hamid Akhavan, que deixa o cargo de CEO da EchoStar para assumir a recém-criada divisão EchoStar Capital, afirmou que a combinação do espectro adquirido com a capacidade de lançamento e fabricação de satélites da SpaceX “acelera a entrega de serviços diretos ao celular para consumidores e empresas em escala global”. O discurso reforça o acordo de longo prazo que permite a clientes da Boost Mobile, operadora pertencente à EchoStar, acesso à futura rede da Starlink.
Impacto financeiro e reorganização corporativa
No terceiro trimestre, a EchoStar registrou receita total de US$ 3,6 bilhões, queda de 7,1 % em relação ao mesmo período do ano anterior. O segmento de TV paga, que inclui a Dish Network, respondeu por US$ 2,3 bilhões, com retração de 10,6 %, refletindo a diminuição do mercado de satélite tradicional. Já a divisão sem fio – formada principalmente pela Boost Mobile – avançou 4,5 % e atingiu US$ 939 milhões, impulsionada pela perspectiva de integração com a rede da SpaceX.
Enquanto isso, a unidade de banda larga via satélite, na qual se encontra a Hughes, viu o faturamento cair 10,6 % para US$ 346 milhões, pressionada pela concorrência do serviço Starlink convencional em órbita baixa. O resultado operacional antes de depreciação e amortização (OIBDA) ficou em US$ 231 milhões, retração de 27 % no comparativo anual.
Em meio aos números, a companhia anunciou a criação da EchoStar Capital. A nova entidade concentrará a participação acionária na SpaceX e buscará investimentos considerados “asset-light”, ou seja, com baixa necessidade de ativos físicos. Akhavan assume a liderança da área, enquanto o presidente do conselho, Charlie Ergen, passa a comandar as unidades de TV paga e serviços móveis.
Venda de espectro faz parte de reposicionamento estratégico
A alienação sucessiva de frequências confirma a mudança de rumo da EchoStar. Em agosto, a empresa firmou acordo para repassar cerca de US$ 23 bilhões em licenças de espectro a AT&T, abandonando o projeto de operar uma rede móvel própria. Em lugar disso, a Boost utilizará majoritariamente a infraestrutura da AT&T, mantendo apenas um núcleo 5G baseado em software e acesso complementar à rede da T-Mobile.
Analistas de mercado indicam que o bloco emparelhado remanescente de AWS-3, considerado o ativo mais valioso do portfólio, desperta interesse da Verizon. De acordo com o banco Raymond James, a disputa entre as operadoras poderá elevar o preço das frequências, favorecendo uma possível nova rodada de capitalização para a EchoStar.
Especialistas em telecomunicações observam que, ao se desfazer de espectro e priorizar acordos de atacado, a empresa reduz custos de implantação e se concentra em áreas com maior retorno, como serviços corporativos, governo e soluções via satélite. A estratégia ganhou força após investigações da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) questionarem a subutilização das licenças, processo que foi encerrado sem sanções após o anúncio das vendas.

Imagem: Starlink
Perspectivas para o mercado de conectividade
Relatórios do setor apontam que a demanda por comunicação satelital direta ao celular tende a crescer, especialmente em regiões rurais e em cenários de emergência. A SpaceX planeja lançar até 15 mil satélites Starlink atualizados, capazes de oferecer 20 vezes mais capacidade que a geração anterior. Segundo projeções de consultorias independentes, o modelo pode reduzir custos operacionais de operadoras móveis e ampliar a competição em mercados com infraestrutura limitada.
Para o consumidor, a integração do espectro da EchoStar aos satélites da SpaceX promete expandir a cobertura de voz e dados, diminuindo zonas sem sinal em rodovias, áreas agrícolas e locais sujeitos a desastres naturais. No meio corporativo, empresas de logística, energia e mineração vislumbram novos serviços de IoT baseados em baixo custo e alcance global.
Se a operação receber sinal verde dos reguladores, a transação reforça a tendência de consolidação entre operadores de satélite e provedores de telecomunicações, com impactos diretos na estrutura de preços e na oferta de banda larga em regiões remotas.
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Curiosidade
A primeira comunicação via satélite direto para um celular comum ocorreu em 1993, durante testes da Motorola com a constelação Iridium. Trinta anos depois, a combinação de espectro terrestre e satélites de órbita baixa promete popularizar esse conceito, permitindo que smartphones convencionais se conectem ao espaço sem antenas especiais. A EchoStar, que nasceu como companhia de receptores de TV, se reinventa agora como investidora em constelações, acompanhando um movimento de convergência que une radiodifusão, internet e telefonia em uma mesma órbita.
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