Uma prova inédita de cibersegurança colocou hackers éticos europeus frente a frente com um satélite real. A D-Orbit, empresa italiana de logística espacial, concluiu em 6 de novembro o CTRL+Space, primeiro Capture-the-Flag (CTF) em órbita da Europa e o primeiro do mundo a envolver múltiplos satélites de forma simultânea. A competição, apoiada pelo European Space Agency Security Cyber Centre of Excellence e pelo Escritório de Segurança da ESA, integrou a programação da conferência Security for Space Systems.
Maratona hacker em pleno espaço
Ao longo da final, realizada entre 4 e 6 de novembro no Centro Europeu de Pesquisa e Tecnologia Espacial (ESTEC), nos Países Baixos, cinco equipes finalistas — ENOFLAG, Superflat, RedRocket, CzechCyberTeam e PoliTech — testaram a segurança do ION Satellite Carrier, veículo utilizado pela D-Orbit para transportar pequenos satélites. O objetivo foi explorar vulnerabilidades reais e capturar “bandeiras” digitais em um ambiente isolado da missão comercial do satélite.
A fase classificatória começou meses antes e atraiu 559 equipes de diversos países; 299 delas completaram pelo menos um desafio de segurança. Segundo a organização, todos os cenários foram executados em um “ambiente completamente controlado”, garantindo que nenhuma operação afetasse a carga útil original ou os demais serviços em órbita.
Ao final das 72 horas de disputa contínua, a equipe Superflat acumulou mais pontos e ficou com o primeiro lugar. Além do reconhecimento, o resultado reforça o papel dos CTFs como ferramenta prática para aprimorar a proteção de sistemas espaciais, tema considerado estratégico por agências e empresas do setor.
Implicações para a indústria espacial
Em comunicado oficial, Daniele Lain, pós-doutorando do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH) e integrante do coletivo Mhackeroni, destacou que “o ambiente espacial impõe limitações únicas”, exigindo novas abordagens para falhas de software e hardware. A declaração aponta para um cenário em que técnicas de invasão tradicionais precisam ser adaptadas ao contexto de baixa latência, recursos limitados e distâncias de centenas de quilômetros.
Para Antonios Atlasis, chefe da Seção de Segurança de Sistemas da ESA, a iniciativa ofereceu “uma oportunidade singular para estudantes europeus enfrentarem desafios reais de cibersegurança em satélites” e mostrou que é viável implementar medidas robustas mesmo em cenários críticos. Já Grazia Bibiano, diretora da D-Orbit em Portugal, classificou a cibersegurança como “pilar fundamental da nova economia espacial”.
O interesse crescente em proteger ativos em órbita acompanha a expansão do mercado de lançamento de pequenos satélites, constelações de comunicação e serviços de observação da Terra. Relatórios da Euroconsult indicam que mais de 18 000 satélites devem ser enviados ao espaço até 2031, o que eleva a superfície de ataque e torna o setor mais atrativo a agentes mal-intencionados. Competições como o CTRL+Space funcionam, segundo especialistas, como laboratório vivo para antecipar ameaças e treinar profissionais em cenários realistas.
A estratégia de convidar hackers éticos segue tendência também observada nos Estados Unidos. Em 2023, por exemplo, a Força Aérea norte-americana promoveu o Hack-A-Sat durante a conferência DEF CON, permitindo que participantes tentassem acessar um cubesat em órbita baixa. Esse modelo de colaboração tem ganhado força porque reduz custos de testes internos e acelera a identificação de vulnerabilidades antes que sejam exploradas de forma maliciosa.

Imagem: D-Orbit
O que muda para empresas e usuários
Para empresas de telecomunicações, imagens de satélite ou internet de banda larga, a adoção de práticas ofensivas controladas pode significar menor risco de interrupções de serviço ou roubo de dados. Do ponto de vista do usuário final — seja um agricultor que depende de monitoramento remoto ou um consumidor que utiliza internet via satélite —, eventos como o CTRL+Space reforçam a confiabilidade da infraestrutura espacial, elemento cada vez mais integrado ao cotidiano.
Segundo analistas, a pressão regulatória também deve aumentar. Órgãos europeus discutem a inclusão de requisitos mínimos de segurança em licenças de lançamento e de operação. A expectativa é que futuras plataformas exijam certificados de conformidade semelhantes aos existentes no mercado de aviação.
Curiosidade
Embora o termo “Capture-the-Flag” remeta a jogos de guerra tradicionais, a primeira competição do gênero em segurança digital aconteceu em 1996, durante a conferência DEF CON em Las Vegas. Quase três décadas depois, a dinâmica chegou ao espaço com o CTRL+Space, demonstrando como a gamificação continua sendo ferramenta eficaz para descobrir falhas e formar especialistas em setores de alta complexidade.
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