O cometa interestelar 3I/ATLAS voltou a ser registrado da Terra após semanas oculto pelo brilho solar. A detecção, ocorrida na noite de 31 de outubro, foi realizada pelo astrônomo Qicheng Zhang, do Observatório Lowell, que utilizou o Telescópio Discovery, instalado a mais de 2.300 metros de altitude no norte do Arizona (EUA). Trata-se do primeiro retrato óptico do objeto depois de sua passagem pelo ponto mais próximo do Sol, o periélio.
Primeiro registro óptico pós-periélio
Segundo Zhang, a obtenção da imagem foi viabilizada pela capacidade do Telescópio Discovery de apontar para regiões muito próximas do horizonte. O 3I/ATLAS estava a apenas 16 graus do Sol, o que normalmente inviabilizaria observações com instrumentos de grande porte. O astrônomo recorreu a um telescópio de 15 centímetros para testar as condições atmosféricas e ajustar o tempo de exposição antes de iniciar a sessão oficial.
Na fotografia, o cometa aparece como um ponto branco brilhante, enquanto a estrela imediatamente acima surge levemente distorcida pelo movimento relativo do objeto interestelar. De acordo com o pesquisador, embora possam existir registros de radar ou de telescópios menores, a imagem obtida no Arizona é a primeira confirmação óptica após o periélio.
Desde a divulgação do retrato inicial, novos registros foram compartilhados por astrônomos e astrofotógrafos de diferentes regiões. Na madrugada de 4 de novembro, Terry Pundiak, na Pensilvânia (EUA), e Michael Jäger, em Martinsberg (Áustria), capturaram o 3I/ATLAS próximo ao horizonte leste, ainda muito ofuscado pela luz do amanhecer. No dia 5, o Projeto Telescópio Virtual, coordenado pelo astrofísico Gianluca Masi em Manciano (Itália), confirmou a presença do visitante interestelar em uma sequência de imagens de longa exposição.
Amadores poderão observar nas próximas semanas
Zhang afirma que o 3I/ATLAS já pode ser localizado com telescópios modestos, desde que o observador tenha um céu limpo e visão desobstruída do horizonte leste antes do nascer do Sol. O cometa deve se apresentar como uma “pequena mancha” esverdeada, tendência que deverá ganhar brilho a cada dia, conforme se afasta gradualmente do ofuscamento solar.
Relatórios indicam que o objeto ostenta atualmente uma coma de 2,5 minutos de arco e uma cauda de aproximadamente 17 minutos de arco, o equivalente a 34 vezes o diâmetro aparente da Lua cheia. No entanto, especialistas ressaltam que esses valores são preliminares, pois a baixa posição no céu dificulta medições precisas.
Descoberto em julho de 2025, o 3I/ATLAS é apenas o terceiro corpo interestelar identificado em passagem pelo Sistema Solar, depois de ‘Oumuamua (1I/2017 U1) e 2I/Borisov. Cálculos orbitais mostram que ele trafega a mais de 210 mil km/h em trajetória hiperbólica, o que significa que não será capturado pela gravidade do Sol e continuará sua jornada além dos planetas externos.
Mudanças de cor e aceleração não gravitacional
Um estudo em pré-publicação no repositório arXiv descreve variações de cor no 3I/ATLAS e sinais de aceleração causados por forças distintas da gravidade solar. A pesquisa utilizou dados dos observatórios espaciais STEREO e SOHO, além do satélite meteorológico GOES-19. Os autores sugerem que jatos de gás provenientes da sublimação de gelo podem estar impulsionando o objeto, fenômeno semelhante ao observado em cometas nativos do Sistema Solar.

Imagem: Qicheng Zhang
Segundo especialistas, a chance de acompanhar esses efeitos em tempo quase real é rara, pois interações desse tipo costumam ser mascaradas pela distância ou pela baixa luminosidade dos objetos. A comunidade astronômica espera que a continuidade das observações forneça pistas sobre a composição química e a estrutura interna de corpos formados fora do ambiente solar.
Impacto para o público e para a ciência
Para o leitor interessado em astronomia, a reaparição do 3I/ATLAS representa uma oportunidade de observar um visitante que viajou por milhões de anos-luz antes de ingressar no Sistema Solar. Amadores equipados com telescópios de abertura moderada podem tentar a detecção nas próximas madrugadas, enquanto pesquisadores planejam monitorar o comportamento do cometa até que ele desapareça do campo visual terrestre. Os dados obtidos poderão ampliar o entendimento sobre a diversidade de materiais presentes em outros sistemas estelares e esclarecer como processos de ejeção planetária ocorrem em regiões distantes da Via Láctea.
Curiosidade
O 3I/ATLAS compartilha o prefixo “I”, de “Interestelar”, com ‘Oumuamua e 2I/Borisov. A designação numérica indica a ordem de descoberta: primeiro, segundo e terceiro objetos vindos de fora do Sistema Solar. Enquanto ‘Oumuamua intrigou cientistas pela forma alongada e 2I/Borisov se assemelhou a cometas comuns, o 3I/ATLAS combina características de ambos, exibindo alta velocidade e atividade cometária intensa. Esses três casos compõem um catálogo ainda reduzido, mas cada nova visita ajuda a decifrar como a matéria se organiza em torno de outras estrelas.
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