São Paulo, 12 de junho de 2024 — A afirmação de que o cometa interestelar 3I/ATLAS teria “mudado de cor” várias vezes foi refutada por pesquisadores envolvidos no acompanhamento do objeto. Segundo os responsáveis pelo estudo mais recente, a tonalidade azul-esverdeada observada é consequência da presença estável de gases em torno do núcleo, não de variações cromáticas sucessivas.
Observações confirmam coma gasosa persistente
Descoberto em julho de 2025, 3I/ATLAS é apenas o terceiro visitante interestelar já identificado no Sistema Solar. O corpo celeste chamou atenção ao se aproximar do Sol em 30 de outubro, ocasião em que três sondas heliocêntricas registraram um aumento súbito de brilho. Análises preliminares, divulgadas em um pré-print no repositório arXiv, indicaram que o cometa exibiu coloração “mais azul que o Sol”, contrastando com medições anteriores que apontavam poeira avermelhada.
Reportagens subsequentes sugeriram que o objeto estaria alternando de cor repetidamente. No entanto, o astrofísico Qicheng Zhang, pós-doutorando no Observatório Lowell (EUA) e coautor do estudo, esclareceu por e-mail que não há evidências de mudanças cromáticas ao longo do tempo. “O que observamos é a mesma coma gasosa desde setembro, apenas mais brilhante”, explicou.
De acordo com Zhang, o cometa mostrou tonalidade azul-esverdeada quando os gases congelados em seu núcleo passaram ao estado gasoso, formando uma nuvem luminosa ao redor do corpo sólido. Esse fenômeno, comum em cometas, ocorreu antes mesmo de 3I/ATLAS se aproximar demasiado do Sol. Fotos de astrônomos amadores registradas no início de setembro já exibiam a coloração atual.
Importância de 3I/ATLAS para a ciência
Cometas são frequentemente descritos como “bolas de neve sujas”, formadas por gelo e partículas rochosas. Quando aquecidos pela radiação solar, liberam gases que compõem a coma e, posteriormente, a cauda empurrada pelo vento solar. A observação de 3I/ATLAS proporciona uma oportunidade rara de analisar material originado fora do Sistema Solar e, segundo especialistas, pode trazer indícios sobre a composição química de outras regiões da Via Láctea.
Relatórios oficiais apontam que telescópios terrestres de médio porte já capturaram imagens do objeto, assim como equipamentos como o Telescópio Espacial Hubble, o orbitador ExoMars Trace Gas e a sonda chinesa Tianwen-2. Embora o Mars Reconnaissance Orbiter estivesse programado para fotografar o cometa em 3 de outubro, não há divulgação dessas imagens porque parte das operações da agência norte-americana ficou suspensa durante o último shutdown governamental.
3I/ATLAS atingirá a máxima aproximação da Terra em 19 de dezembro, passando a cerca de 270 milhões de quilômetros do planeta. Para comparação, o visitante anterior, 2I/Borisov, cruzou o Sistema Solar em 2019 a uma distância mínima de 300 milhões de quilômetros. Antes dele, em 2017, o objeto ‘Oumuamua inaugurou o estudo de cometas interestelares modernos.
Esclarecendo rumores e teorias infundadas
Desde sua descoberta, o cometa tem sido alvo de especulações, incluindo teorias que sugerem tratar-se de uma nave alienígena ou de que governos estariam ocultando informação. Pesquisadores destacam que nenhum dado corrobora tais hipóteses. “Os instrumentos mostram um comportamento compatível com cometas conhecidos; o fato de ser interestelar não muda as leis físicas que o regem”, ressaltou Zhang.
Segundo astrônomos consultados, a disseminação de conteúdos sensacionalistas é potenciada pelo ineditismo do fenômeno e pela facilidade de acesso a imagens. Especialistas defendem a divulgação de dados verificados para evitar mal-entendidos entre o público.

Imagem: the Gini South Telescope
Impacto para observadores e para o mercado de telescópios
A passagem de 3I/ATLAS já impulsiona a venda de telescópios de pequeno porte. Lojas especializadas relatam aumento de até 20% na procura por equipamentos de 15 centímetros de abertura, suficientes para flagrar a coma gasosa do objeto. Para os amadores, o cometa representa oportunidade rara de observar um corpo interestelar sem necessidade de instrumentos avançados.
Do ponto de vista científico, a coleta de espectros de luz poderá revelar compostos voláteis inéditos ou pouco comuns em cometas do Sistema Solar. De acordo com estudos anteriores sobre 2I/Borisov, diferenças na proporção de monóxido de carbono e água sugerem origens em regiões mais frias de outros sistemas planetários. Se análises semelhantes forem confirmadas em 3I/ATLAS, astrônomos poderão comparar a química de múltiplos sistemas, refinando modelos de formação estelar.
Para quem acompanha a evolução da astronomia, a trajetória de 3I/ATLAS reforça a necessidade de redes de vigilância ótica capazes de detectar objetos de alto interesse científico em tempo hábil. Além disso, a cooperação entre observadores profissionais e amadores se mostra essencial para cobrir lacunas de monitoramento durante eventos inesperados, como paralisações de agências espaciais.
Se confirmado o padrão de coloração estável, pesquisadores terão um parâmetro confiável para cálculos de tamanho do núcleo, taxa de sublimação de gases e densidade de poeira, dados fundamentais para desvendar a origem exata do cometa e compará-lo aos outros dois visitantes interestelares já catalogados.
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Curiosidade
Embora o tom azul-esverdeado seja incomum para cometas domésticos, a cor de 3I/ATLAS resulta da ionização de gases como cianogênio (CN) e carbono diatômico (C2) quando expostos à radiação solar ultravioleta. Esses mesmos compostos foram detectados em 2I/Borisov, sugerindo que certos elementos voláteis podem ser frequentes em diferentes regiões da galáxia, independentemente do sistema estelar de origem.
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