Um clarão infravermelho detectado a 1.800 anos-luz da Terra revelou a colisão de dois exoplanetas gigantes gelados, evento descrito em artigo publicado em 11 de outubro na revista Nature. A observação inédita mobilizou astrônomos profissionais e amadores depois que um entusiasta identificou oscilações incomuns na curva de luz da estrela ASASSN-21qj, semelhante ao Sol.
De um post nas redes sociais ao estudo científico
O ponto de partida ocorreu quando um astrônomo amador divulgou, em rede social, gráficos que mostravam a duplicação do brilho infravermelho do sistema cerca de três anos antes de a estrela começar a escurecer em luz visível. A anomalia despertou a atenção de pesquisadores da Universidade de Leiden, que organizaram uma rede internacional de telescópios terrestres e espaciais para investigar o fenômeno.
Segundo especialistas envolvidos, a missão NEOWISE da NASA foi determinante ao confirmar o aumento súbito de radiação térmica na faixa infravermelha. Posteriormente, telescópios ópticos registraram a perda gradual de luminosidade visível, indicando a passagem de uma nuvem de detritos à frente da estrela.
O que os dados indicam sobre o impacto
Modelos computacionais desenvolvidos por equipes das universidades de Bristol e Leiden sugerem que dois planetas gelados, de dimensões comparáveis a Urano ou Netuno, colidiram em alta velocidade. A energia liberada teria vaporizado parte dos mantos gelados, gerando um plasma brilhante que explica o clarão detectado. O material ejetado começou a se expandir pelo sistema e, ao atingir a linha de visão da Terra, bloqueou parcialmente a luz estelar.
Os cálculos apontam temperaturas superiores a 1.000 °C na região imediata do impacto, suficientes para manter o brilho infravermelho por vários anos. De acordo com dados oficiais da pesquisa, a nuvem de poeira deve continuar se dispersando ao longo da órbita residual, permitindo novo acompanhamento com instrumentos como o Telescópio Espacial James Webb (JWST).
Importância para a compreensão da formação planetária
Colisões de grande escala são consideradas componentes-chave na evolução de sistemas planetários. Relatórios indicam que a própria Terra pode ter se formado após um impacto gigantesco que originou a Lua. Contudo, captar diretamente o brilho térmico de uma colisão entre exoplanetas é algo sem precedentes. “Os parâmetros observados batem com as previsões teóricas para choques entre corpos de gelo e rocha”, comentou um dos autores do estudo.
Além de validar modelos de formação, o caso fornece um laboratório natural para testar hipóteses sobre acreção de detritos, resfriamento pós-impacto e eventual surgimento de satélites. A professora Zoe Leinhardt, coautora da pesquisa, prevê que parte da matéria ejetada pode se recombinar e originar um conjunto de luas nas próximas dezenas de milhares de anos.
Próximos passos da investigação
A equipe planeja monitorar a estrela ASASSN-21qj em múltiplos comprimentos de onda pelos próximos anos. Se a nuvem continuar a se expandir, telescópios terrestres de grande porte poderão detectar variações de brilho sazonal, enquanto o JWST tem capacidade para analisar a composição química dos detritos por espectroscopia.
Segundo especialistas, outra meta é calcular com maior precisão a massa dos objetos envolvidos. Caso sejam confirmados tamanhos próximos aos de planetas ice giants, o evento reforçará a teoria de que sistemas jovens passam por fases violentas antes de se estabilizar.

Imagem: Mark Garlick.
Impacto para o leitor
Para o público interessado em astronomia, a descoberta amplia a compreensão de como mundos se formam, evoluem e, eventualmente, se chocam. No mercado de tecnologia espacial, o episódio destaca a importância de missões de monitoramento contínuo, como a NEOWISE, e do engajamento de cientistas cidadãos. A prática de analisar bancos de dados públicos pode acelerar novas descobertas e abrir caminhos para colaborações entre amadores e universidades.
Quem acompanha tendências de exploração planetária deve observar ainda um possível aumento de propostas de financiamento para telescópios de infravermelho, capazes de rastrear assinaturas térmicas semelhantes em outros sistemas. Caso eventos desse tipo se revelem mais comuns do que se pensava, estratégias de busca de exoplanetas poderão incorporar rotinas específicas de detecção de colisões.
Curiosidade
Embora pareça improvável, colisões planetárias não são exclusividade de sistemas distantes. Evidências geológicas sugerem que a Terra sofreu impactos catastróficos durante seu primeiro bilhão de anos. Um deles, conhecido como “Grande Impacto”, teria vaporizado parte do manto terrestre e dado origem à Lua — cenário que, guardadas as proporções, lembra o choque registrado agora em ASASSN-21qj. Observar acontecimentos similares em outros sistemas ajuda a reconstituir capítulos pouco acessíveis da própria história do nosso planeta.
Para quem deseja aprofundar o tema, vale acompanhar as atualizações sobre futuros registros do JWST. O equipamento possui resolução suficiente para perceber mudanças sutis na nuvem de detritos, o que poderá confirmar a formação de novas luas ou, eventualmente, a emergência de um planeta híbrido composto pelos remanescentes dos corpos originais.
Caso esteja interessado em outras descobertas que envolvem observação espacial avançada, recomendamos a leitura do material já publicado em nosso portal sobre o desempenho recente do Telescópio Espacial James Webb.
Este artigo mostrou como uma observação casual evoluiu para um dos registros mais detalhados de colisão planetária já obtidos. Continue acompanhando nossas publicações para se manter informado sobre avanços científicos que podem mudar a forma como entendemos o universo.
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