Uma equipa internacional de astrônomos identificou quatro anéis em pleno processo de consolidação ao redor de 2060 Chiron, corpo gelado que orbita o Sol entre Saturno e Urano. É a primeira vez que a formação de um sistema de anéis é observada em tempo real, de acordo com dados coletados em 2023 no Observatório Pico dos Dias, em Minas Gerais.
Chiron, oficialmente classificado como centauro — objeto que apresenta características de cometas e asteroides — foi descoberto em 1977 e mede cerca de 200 quilômetros de diâmetro. Análises indicam composição mista de rocha, gelo de água e compostos orgânicos. A nova investigação revela uma estrutura anelar complexa, com três discos bem definidos e um quarto ainda difuso, que pode não se manter estável.
Quatro anéis em diferentes distâncias
Os pesquisadores calculam que os anéis encontram-se a aproximadamente 273 km, 325 km, 438 km e 1.400 km do centro do centauro. As faixas seriam formadas por gelo de água e fragmentos rochosos, possivelmente resultantes de uma colisão anterior com outro objeto celeste. O anel mais externo ainda carece de confirmação, pois sua densidade pode ser insuficiente para mantê-lo coeso a longo prazo.
Observações obtidas em 2022, 2018 e 2011 foram comparadas com as de 2023. O cruzamento desses registros comprovou alterações rápidas na distribuição de material ao redor de Chiron, sinal de que o sistema continua em evolução. Segundo os autores do estudo, a dinâmica detectada oferece uma oportunidade inédita para investigar processos que, em corpos maiores, já se consolidaram há bilhões de anos.
Formação em tempo real oferece laboratório natural
Até o momento, anéis em pequenos corpos haviam sido identificados em Haumea, Quaoar e no centauro Chariklo. Em todos esses casos, porém, os discos já estavam formados quando foram observados. Com Chiron, cientistas conseguem acompanhar diferentes etapas de crescimento, deslocamento e dispersão de partículas, fenômeno que ajuda a compreender como forças gravitacionais e de maré moldam estruturas de poeira e gelo.
O trabalho utilizou a técnica de ocultação estelar — quando o objeto passa diante de uma estrela, permitindo medir variações de brilho e deduzir a presença de material ao redor. Registros no Pico dos Dias, operado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica, favoreceram a detecção graças à localização e ao diâmetro do telescópio de 1,6 metro. Imagens de campanhas feitas em outros anos complementaram a série histórica.
Implicações para a ciência planetária
Especialistas apontam que sistemas de anéis fornecem pistas sobre a formação de satélites naturais, já que partículas podem coalescer até gerar luas. Modelos de evolução de discos protoplanetários — que dão origem a planetas — também recorrem a princípios semelhantes. Assim, observar esses processos em um corpo de menor escala e evolução rápida ajuda a testar teorias relacionadas a diferentes cenários, do nascimento de planetas gigantes à estrutura de galáxias.

Imagem: Stefanie Waldek published
Comparações com Saturno, Júpiter, Urano e Netuno indicam que anéis não são exclusividade de grandes gigantes gasosos. O fato de aparecerem em corpos menores reforça a hipótese de que colisões e eventos de maré podem produzir material suficiente para originar discos em variados contextos. Relatórios recentes destacam ainda que anéis podem desaparecer com o tempo, seja por dispersão das partículas ou incorporação à superfície do corpo central.
Para o público em geral, a descoberta amplia o entendimento sobre a diversidade de fenômenos no Sistema Solar. Acompanhar a transformação em Chiron pode gerar novos conceitos em missões robóticas, otimizar instrumentos de detecção e inspirar estudos sobre cinturões de detritos que representam riscos para satélites em órbita da Terra.
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Curiosidade
Sabia que o nome “centauro” faz referência às criaturas mitológicas meio homem, meio cavalo? A escolha sublinha a natureza híbrida desses corpos, que ora exibem cauda de cometa, ora se comportam como asteroides. Em Chiron, a dualidade vai além: ele traz agora anéis dignos de um mini-Saturno, reforçando quanto ainda há para descobrir entre as órbitas de planetas gigantes.
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