China e Índia protagonizaram, no mesmo dia, duas missões orbitais de grande relevância para a corrida espacial asiática. Na noite de domingo (2), uma Long March 7A partiu do Centro de Lançamento de Wenchang, na ilha de Hainan, levando o satélite Yaogan-46. Horas antes, do Centro Espacial Satish Dhawan, em Sriharikota, a Índia colocou em órbita o CMS-03, maior satélite de comunicações já lançado no país. Os dois eventos reforçam a escalada de lançamentos em 2025 e evidenciam o esforço de ambas as nações para ampliar capacidades militares e civis em órbita geoestacionária.
Yaogan-46 amplia constelação chinesa de reconhecimento
O foguete Long March 7A decolou às 22h47 (horário de Brasília) de domingo, alcançando com sucesso a órbita de transferência geoestacionária (GTO). Desenvolvido pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), o Yaogan-46 deverá, nos próximos dias, circular a 35.786 km acima do equador, juntando-se a outros ativos de monitoramento do país.
De acordo com a China Aerospace Science and Technology Corporation (CASC), o novo satélite será utilizado em “prevenção e mitigação de desastres, levantamentos de recursos, gestão hídrica e meteorologia”. Especialistas, contudo, apontam que a série Yaogan é tradicionalmente associada a missões de reconhecimento militar, incluindo imageamento óptico, radar de abertura sintética (SAR) e coleta de sinais eletrônicos.
Com exceção de um exemplar, todos os Yaogan anteriores estavam em órbitas baixas ou síncronas ao Sol. O envio do Yaogan-46 a GTO realça o interesse de Pequim em monitoramento contínuo sobre áreas estratégicas, uma vez que a posição geoestacionária permite observação constante de uma mesma região do planeta.
O lançamento também marcou a quinta utilização da família Long March 7 em 2025, estabelecendo recorde anual para o modelo, que voou pela primeira vez em 2016. Desde a falha inaugural da variante 7A em 2020, as dez missões subsequentes foram bem-sucedidas. Segundo a CASC, a meta é elevar a cadência para atender à “alta intensidade” de demandas orbitais, embora o 7A ainda não substitua o Long March 3B, principal vetor chinês para GTO lançado a partir de Xichang.
Índia lança CMS-03 e supera marca de massa em GTO
Horas antes da decolagem chinesa, o foguete LVM-3 da Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO) levantou voo às 06h56 (horário de Brasília) de Sriharikota, levando o satélite de comunicações CMS-03 de 4.410 kg. A carga excede a capacidade nominal de 4.000 kg do lançador, exigindo um apogeu inicial de 29.970 km para posterior manobra de circularização até a órbita geoestacionária final.
Com bandas múltiplas, o CMS-03 fornecerá cobertura sobre território indiano e áreas marítimas vizinhas, garantindo comunicações em tempo real para a Marinha, defesa aérea e centros de comando estratégico. De acordo com documentos oficiais, trata-se do quinto voo operacional do LVM-3, mesmo foguete que levou ao espaço a missão lunar Chandrayaan-3 e que está em processo de certificação para transportar astronautas no programa Gaganyaan.
O lançamento foi a quarta tentativa orbital da Índia em 2025. ISRO planeja ainda um teste não tripulado do LVM-3 para Gaganyaan e um lançamento de foguete PSLV até dezembro, consolidando o crescimento do setor aeroespacial indiano.
Cresce a competição por posições em órbita geoestacionária
Os dois lançamentos evidenciam uma tendência de intensificação do acesso à GEO, região estratégica para comunicações, observação de larga escala e monitoramento meteorológico. Segundo dados do Union of Concerned Scientists, mais de 600 satélites operam hoje nesse cinturão, e a demanda por slots orbital-espectrais aumenta à medida que governos e empresas buscam serviços de 24 horas sobre áreas específicas.

Imagem: CASC
Especialistas observam que, no caso chinês, a presença de um satélite de reconhecimento em GEO pode ampliar a vigilância de longa duração sobre rotas marítimas e bases militares rivais. Já para a Índia, a capacidade de colocar cargas mais pesadas em GTO eleva a autonomia em comunicações estratégicas, reduzindo dependência de ativos estrangeiros.
Relatórios da Agência Espacial Europeia indicam que o ambiente geoestacionário, embora menos congestionado que a órbita baixa, exige coordenação internacional para evitar interferências de frequência e colisões. Assim, o crescimento das frotas de China e Índia deverá intensificar negociações na União Internacional de Telecomunicações (UIT) sobre posições e bandas de operação.
Impacto para o leitor
Para usuários civis, a expansão de satélites geoestacionários pode significar melhorias em TV via satélite, internet banda larga e alertas meteorológicos mais precisos. No entanto, o aumento de ativos militares também reforça a importância da segurança cibernética e da gestão responsável do espaço, fatores que podem influenciar políticas públicas e preços de serviços de telecomunicações nos próximos anos.
Curiosidade
Você sabia que um satélite geoestacionário completa uma órbita ao redor da Terra exatamente a cada 23 h 56 min, acompanhando a rotação do planeta? Essa sincronia permite que antenas terrestres fiquem apontadas para o mesmo ponto no céu sem necessidade de rastreamento constante, solução fundamental para transmissões de TV e internet — e agora também para missões de reconhecimento como o Yaogan-46.
Para continuar acompanhando as principais movimentações do setor espacial, confira também nossa cobertura sobre a missão Chandrayaan-3 da ISRO em nosso caderno de Tecnologia.
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