China fixa primeira meta de corte de emissões e testa compromisso climático global

Tecnologia

A China anunciou sua primeira meta oficial de redução de emissões de gases de efeito estufa, comprometendo-se a diminuir entre 7% e 10% até 2035. O objetivo foi apresentado pelo presidente Xi Jinping durante reunião da ONU em Nova York e marca a primeira vez que o país define um percentual concreto de corte, apesar de responder por cerca de 35% das emissões globais de CO₂.

Meta e contexto global

O anúncio ocorre num momento em que eventos extremos se multiplicam ao redor do planeta, de inundações na América do Sul a incêndios florestais na Europa. Segundo dados oficiais, uma redução de 10% nas emissões chinesas representaria aproximadamente 1,4 bilhão de toneladas a menos de CO₂ por ano, volume quase quatro vezes superior a todas as emissões anuais do Reino Unido.

A iniciativa segue um histórico de investimentos maciços de Pequim em energia limpa. Relatórios indicam que o país alcançou 1 200 gigawatts de capacidade instalada em energia solar e eólica ainda em 2024, seis anos antes do cronograma original. Mesmo assim, mais da metade da eletricidade chinesa ainda provém de usinas a carvão, cuja produção atingiu recorde no ano passado.

O governo argumenta que a nova meta reflete uma fase de transição para uma economia de baixo carbono, apoiada em tecnologia verde e expansão de fontes renováveis. Ainda não foram detalhados mecanismos de fiscalização ou metas intermediárias, mas o plano deverá ser incluído na próxima atualização da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) junto à Convenção do Clima da ONU.

Reação de especialistas e próximos passos

Para analistas ouvidos por organismos internacionais, a proposta é considerada modesta diante da ambição necessária para limitar o aquecimento global a 1,5 °C. Estudos do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo estimam que seria preciso um corte superior a 50% até 2035 para alinhar as emissões chinesas à meta do Acordo de Paris. “Qualquer valor abaixo de 30% está fora do caminho de 1,5 °C”, avalia o analista-chefe Lauri Myllyvirta.

O Greenpeace Leste Asiático ressalta que o país tem histórico de “prometer pouco e entregar muito”, lembrando a antecipação de metas anteriores em energias renováveis. Contudo, o Instituto Ambiental de Estocolmo alerta que, globalmente, governos ainda planejam queimar mais que o dobro de combustíveis fósseis em 2030 do que o limite compatível com 1,5 °C, o que pressiona grandes emissores a elevar suas ambições.

No plano interno, dados preliminares apontam estabilização das emissões a partir de 2025, impulsionada pela queda no uso do carvão e pela forte expansão solar. Li Shuo, diretor do China Climate Hub, afirma que o novo alvo deve ser encarado como piso, não teto. “É o primeiro passo de uma trajetória de descarbonização após décadas de crescimento acelerado”, disse.

Impacto potencial para mercados e consumidores

Segundo consultorias de energia, a definição de uma meta oficial tende a acelerar investimentos em geração fotovoltaica, eólica offshore e soluções de armazenamento. Empresas estrangeiras que atuam na cadeia de suprimentos de baterias, painéis solares e veículos elétricos observam o movimento como sinal de estabilidade regulatória, fator decisivo para ampliar fábricas e centros de pesquisa no país.

Para o consumidor global, a maior oferta de tecnologia limpa chinesa pode pressionar preços para baixo e popularizar dispositivos de baixo consumo energético. Já setores intensivos em carbono, como siderurgia e cimento, podem enfrentar novas exigências ambientais, impactando custos e cadeias de exportação.

Em termos financeiros, analistas de mercado estimam que a emissão de bonds verdes chineses deve crescer acima de 20% ao ano até 2030, enquanto fundos climáticos globais tendem a elevar participação em empresas alinhadas à meta de 2035.

Na prática, o anúncio de Pequim sinaliza ao restante do mundo que a transição energética, ainda que gradual, entrou na agenda de um dos principais atores do sistema climático. Para governos, empresas e cidadãos, acompanhar a evolução dessa meta ajudará a prever mudanças em preços de commodities, rotas de comércio e políticas de eficiência energética.

Curiosidade

A primeira usina solar comercial da China foi inaugurada em 1990, na província de Gansu, com capacidade de apenas 10 kW – potência suficiente para alimentar cerca de três residências. Três décadas depois, o país somou mais de 600 mil instalações fotovoltaicas e lidera a fabricação mundial de painéis, demonstrando a rapidez com que metas aparentemente modestas podem desencadear transformações de larga escala.

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