China amplia constelação Guowang e enfrenta falha com foguete Ceres-1 no mesmo dia

Ciência

A China realizou dois lançamentos orbitais na noite de domingo (9) para segunda-feira (10) no horário de Pequim, com resultados opostos. Enquanto um foguete Long March 12 colocou em órbita o 13º lote de satélites da megaconstelação Guowang, a missão comercial da Galactic Energy com o foguete Ceres-1 terminou em falha, impedindo que dois satélites chegassem à órbita planejada.

Long March 12 acrescenta novo lote à Guowang

O Long March 12 decolou às 23h41 do horário de Brasília (21h41 no Leste dos Estados Unidos; 02h41 UTC de 10 de novembro) a partir do Centro de Lançamento Comercial de Hainan, na costa sul da China. A Academia de Tecnologia de Voo Espacial de Xangai (SAST) confirmou o sucesso da missão, classificando-a como o 13º envio de satélites para o projeto Guowang.

A agência não divulgou quantos satélites estavam a bordo. No lançamento anterior dessa classe, em setembro, o Long March 12 levou nove unidades, o que sugere número semelhante nesta missão. Caso o padrão se repita, a constelação passaria a contabilizar aproximadamente 104 satélites operacionais, segundo estimativas de rastreio do Comando Espacial dos Estados Unidos.

O projeto Guowang, conduzido pela estatal China SatNet, prevê quase 13 000 satélites em órbita terrestre baixa, em resposta direta ao Starlink, da SpaceX. O objetivo intermediário é alcançar 400 satélites até 2027. Até agora, os satélites são inseridos em órbitas de cerca de 1 100 quilômetros, com inclinação de 50° ou 86,5°; notificações de segurança aérea (NOTAM) indicam que o voo de domingo utilizou a inclinação menor.

Pouco se sabe sobre a arquitetura dos aparelhos. Embora descritos oficialmente como satélites de comunicação, analistas estrangeiros levantam a possibilidade de capacidades adicionais, devido ao tamanho presumido das plataformas e à ausência de imagens públicas. Construídos majoritariamente pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), os satélites também contam com participação do Centro de Engenharia de Microsatélites de Xangai e da startup GalaxySpace.

Com capacidade para levar 12 t a órbita terrestre baixa e 6 t a órbita síncrona ao Sol, o Long March 12 utiliza propelentes querosene e oxigênio líquido. Uma variante reutilizável, chamada 12A e equipada com motores a metano e oxigênio líquido, teve teste de pouso do primeiro estágio em janeiro e aguarda voo de estreia.

Falha no Ceres-1 interrompe meta da Galactic Energy

Cerca de uma hora após o sucesso do Long March 12, a empresa privada Galactic Energy tentou lançar seu foguete Ceres-1 às 01h02 de Brasília (23h02 no Leste dos EUA; 04h02 UTC) a partir da Zona de Inovação Comercial Dongfeng, no Centro de Jiuquan, deserto de Gobi. Dez minutos depois, a empresa confirmou anomalia: 510 segundos após a ignição do quarto estágio, o motor foi desligado antes do previsto, impossibilitando a inserção orbital.

O foguete de quatro estágios transportava os satélites Jixing Platform 02A04 e North China University-1. Ambos permaneceram em rota suborbital e foram perdidos. Este foi o 22º lançamento da Galactic Energy e a segunda falha; o primeiro insucesso ocorreu em setembro de 2023.

A companhia não informou se o cronograma do Ceres-2, versão maior e com mais capacidade de carga, será afetado. Documentos públicos indicavam tentativa de lançamento para 15 de novembro. Além disso, em 4 de novembro a empresa realizou teste de fogo estático do primeiro estágio do Pallas-1, foguete a querosene e oxigênio líquido financiado em parte por rodada de investimentos de US$ 336 milhões anunciada em setembro.

China amplia constelação Guowang e enfrenta falha com foguete Ceres-1 no mesmo dia - Imagem do artigo original

Imagem: SAST

Número recorde de lançamentos chineses em 2025

Os voos de domingo representaram a 71ª e a 72ª tentativas orbitais da China em 2025. Segundo dados oficiais, foi apenas a segunda falha do ano, após a perda de um Zhuque-2E da Landspace em agosto. No fim de semana anterior, os lançamentos de números 69 e 70 já haviam quebrado o recorde histórico de missões espaciais chinesas em um único ano, com quase dois meses ainda pela frente.

Especialistas em política espacial observam que o ritmo intenso reforça a estratégia nacional de usar constelações para serviços de comunicação, navegação e observação da Terra, além de consolidar a presença de empresas privadas em um setor antes dominado apenas por entidades estatais.

Impacto para o mercado e para o usuário

Para o setor de telecomunicações, a expansão da Guowang indica avanço na oferta de internet de baixa latência em regiões remotas, o que pode reduzir a dependência de infraestrutura terrestre e pressionar concorrentes globais. Já a falha do Ceres-1 evidencia os desafios técnicos enfrentados por operadoras comerciais, que correm para conquistar fatias de mercado em lançamentos de baixo custo. Segundo analistas, cada atraso na confiabilidade desses veículos impacta cronogramas de pequenos satélites e pode elevar custos de seguro.

Para o consumidor comum, a multiplicação de constelações promete maior disponibilidade de banda larga via satélite, inclusive em áreas rurais. No entanto, estudos recentes alertam para o aumento de detritos orbitais e para possíveis interferências radiofrequenciais, questões que devem exigir regulações internacionais mais rígidas.

Curiosidade

O nome Guowang pode ser traduzido livremente como “rede nacional” e foi escolhido para simbolizar a ambição de conectar todo o território chinês a partir do espaço. A designação lembra a sigla chinesa para “internet” (网络, wǎngluò) e reforça o caráter estratégico do programa, que pretende competir diretamente com o Starlink tanto em cobertura quanto em capacidade de serviço.

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