Bolas de fogo “gêmeas” na chuva Oriônidas são reflexo de câmera, indica análise

Ciência

Observadores da costa leste dos Estados Unidos registraram, na última semana, duas bolas de fogo aparentemente sincronizadas cruzando o céu durante o pico da chuva de meteoros Oriônidas. Imagens compartilhadas em redes sociais e enviadas à Sociedade Americana de Meteoros (AMS, na sigla em inglês) mostravam pontos luminosos lado a lado, alimentando a hipótese de um fenômeno raro de “meteoros duplos”.

Segundo a AMS, o evento foi reportado primeiro na noite de quinta-feira (16) e voltou a ocorrer na sexta-feira (17), reforçando a suspeita de algo inusitado. No entanto, análise técnica aponta que o segundo clarão não era um corpo celeste, mas sim um reflexo provocado pela própria estrutura de acrílico que protege as câmeras de monitoramento.

Como surgiu a hipótese dos meteoros duplos

A chuva de meteoros Oriônidas acontece anualmente entre 2 de outubro e 7 de novembro, quando fragmentos do cometa Halley entram na atmosfera terrestre. Durante o pico, é possível observar entre 10 e 20 meteoros por hora em céus escuros. Em 2023, o período de maior atividade foi registrado na semana passada.

Nesse contexto, moradores de vários estados norte-americanos captaram uma bola de fogo verde brilhante, seguida de um segundo ponto luminoso que parecia acompanhar a mesma trajetória. A cena foi registrada por câmeras dedicadas à observação do céu, instaladas em residências e observatórios amadores. Vídeos hospedados nos bancos de dados da AMS exibiam as duas luzes avançando praticamente em paralelo até desaparecerem quase simultaneamente.

O padrão se repetiu na noite seguinte, aumentando as especulações. Em fóruns astronômicos, internautas sugeriram a possibilidade de fragmentos do mesmo meteoro viajando muito próximos ou até de um fenômeno inédito na chuva Oriônidas. A empolgação, porém, durou pouco.

Especialista esclarece efeito de reflexo em cúpulas de acrílico

Robert Lunsford, responsável pela análise de relatos na AMS, explicou que as “bolas de fogo duplas” se tratam de uma ilusão de ótica. As câmeras que monitoram meteoros ficam cobertas por cúpulas de acrílico transparente, projetadas para proteger o equipamento de intempéries e evitar condensação. De acordo com Lunsford, quando um meteoro extremamente brilhante cruza o campo de visão, a luz intensa reflete na superfície interna do acrílico e gera uma imagem espelhada do objeto principal.

“Esses reflexos surgem sempre na mesma posição relativa ao meteoro real. Se analisarmos quadros consecutivos, podemos notar que a distância entre os pontos não muda, confirmando que se trata do mesmo sinal ótico”, afirmou o especialista ao site Space.com. A conclusão foi reforçada por análises de outros registros históricos: todos os casos de meteoros supostamente duplicados aparecem em vídeos produzidos com modelos de câmera semelhantes, indicou Lunsford.

O fenômeno óptico é conhecido entre astrônomos amadores, mas costuma gerar confusão quando observado por curiosos ou por câmeras posicionadas em ângulos incomuns. A intensidade luminosa das Oriônidas, especialmente em entradas atmosféricas rasantes, amplia a chance de reflexo e pode criar a impressão de múltiplos objetos.

Caso semelhante no Brasil reforça a explicação

Na madrugada de 18 de outubro, uma bola de fogo da mesma chuva foi registrada no Rio Grande do Sul por câmeras do Observatório Heller & Jung, localizado em Taquara. O corpo celeste entrou na atmosfera a uma altitude aproximada de 100 quilômetros e se extinguiu a 52 quilômetros de altura. Nesse registro específico, não houve imagem duplicada, pois as câmeras do observatório utilizam proteção de vidro óptico, menos propenso a reflexos desse tipo.

Segundo Carlos Fernando Jung, diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) na região Sul, o episódio brasileiro ilustra como a escolha de materiais na estrutura de proteção influencia a qualidade das gravações. “Para câmeras voltadas ao céu, o acrílico é mais leve e barato, mas tende a refletir luzes intensas. Em observações científicas, damos preferência a vidro óptico tratado”, explicou o pesquisador.

Impacto para entusiastas e para a divulgação científica

Relatos enganosos de meteoros duplicados podem gerar expectativas exageradas e disseminar desinformação. De acordo com especialistas em divulgação científica, a verificação de dados e a análise de metadados das gravações são recursos essenciais para evitar interpretações equivocadas. Plataformas como a AMS e a BRAMON disponibilizam guias gratuitos para quem pretende instalar câmeras de monitoramento e minimizar reflexos indesejados.

No cotidiano de quem acompanha chuvas de meteoros, compreender o mecanismo de reflexo ajuda a ajustar configurações de exposição, escolher materiais adequados para domes de proteção e interpretar corretamente relatórios de brilho e trajetória. Para o público geral, a explicação técnica reforça a importância de conferir a fonte dos vídeos e procurar entidades reconhecidas antes de compartilhar imagens consideradas “raras”.

Segundo dados oficiais compilados pela International Meteor Organization (IMO), ocorrências de meteoros realmente duplos são extremamente incomuns e geralmente envolvendo fragmentos que se separam instantes antes de entrar na atmosfera. Mesmo nesses casos, a distância entre os objetos costuma ser grande o suficiente para ser percebida a olho nu, algo que não se verificou nos registros analisados.

Curiosidade

O cometa Halley, responsável pelos detritos das Oriônidas, também gera outra chuva de meteoros no mês de maio, chamada Eta Aquáridas. Isso acontece porque a Terra cruza a trilha de poeira do cometa duas vezes ao ano, em pontos opostos da órbita. Assim, um mesmo corpo celeste proporciona espetáculos distintos em épocas diferentes, oferecendo oportunidades extras para observadores do hemisfério sul e norte.

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