Astrônomos lançam projeto global para explicar “Deserto Neptuniano” e formações planetárias

Tecnologia

Uma cooperação internacional deu início a um amplo programa de observação dedicado a planetas parecidos com Netuno, localizados em uma zona do espaço onde esses corpos celestes são surpreendentemente raros. Batizada de ATREIDES, a iniciativa reúne equipes da Universidade de Warwick, no Reino Unido, e da Universidade de Genebra, na Suíça, com apoio de observatórios europeus e instrumentos considerados os mais precisos da atualidade.

O que é o Deserto Neptuniano e por que ele intriga cientistas

Chamado de Deserto Neptuniano, o setor em análise fica próximo às estrelas hospedeiras e apresenta escassez de planetas de massa intermediária. Segundo pesquisadores, a radiação intensa emitida pelas estrelas pode remover gradualmente as atmosferas gasosas desses mundos, impedindo sua sobrevivência. Esse fenômeno cria um intervalo orbital quase vazio entre planetas rochosos e gigantes gasosos.

Além do deserto, trabalhos recentes identificaram duas regiões correlatas: a Ridge, posição intermediária que abriga alguns Netunos quentes, e a Savanna, faixa externa também marcada por baixa população de exo-Netunos. Entender por que certos planetas permanecem nesses ambientes, enquanto outros desaparecem, é considerado essencial para desvendar a formação e a evolução de sistemas planetários.

Ferramentas de alta precisão para sondar exoplanetas

Para enfrentar o desafio, o consórcio utiliza o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul, equipado com o espectrógrafo ESPRESSO. O instrumento mede variações mínimas no brilho estelar, permitindo determinar massa, composição e órbita de exoplanetas com grande exatidão. Em paralelo, a Universidade de Warwick opera a rede de telescópios NGTS, especializada em detectar o trânsito planetário — o momento em que o planeta passa em frente à estrela e bloqueia parte da luz.

“Combinamos as observações do NGTS para otimizar o tempo do ESPRESSO e descartar eventos que possam distorcer os dados, como erupções estelares”, explicou Daniel Bayliss, professor associado da Universidade de Warwick. O método integrado pretende gerar um catálogo homogêneo de Netunos quentes, permitindo comparações diretas entre diferentes sistemas.

Sistema TOI-421 inaugura a série de descobertas

O paper inaugural do ATREIDES foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics e descreve o sistema TOI-421. Ele contém dois planetas de tamanho semelhante a Netuno: o TOI-421 c, um Netuno quente localizado na Savanna; e o TOI-421 b, menor e situado na Ridge, próximo do Deserto Neptuniano. Observações revelam órbitas significativamente desalinhadas, indício de uma formação turbulenta.

Uma hipótese investigada é a chamada migração de alta excentricidade. Nela, o planeta se forma mais distante da estrela e, em seguida, sofre perturbações gravitacionais que o fazem deslocar-se para órbitas internas alongadas. O processo poderia explicar a presença de Netunos quentes em regiões onde, em tese, eles não deveriam existir.

Impacto para a astronomia e expectativas futuras

De acordo com Vincent Bourrier, líder da equipe na Universidade de Genebra, a complexidade encontrada na “paisagem exo-neptuniana” oferece uma janela única para processos de formação planetária. A comparação sistemática de vários casos deverá ajudar a responder perguntas como: por que certos planetas mantêm atmosferas apesar da radiação extrema, quais mecanismos definem o tamanho final e em que circunstâncias ocorre a migração orbital.

Especialistas apontam que resultados desse tipo podem afetar modelos de evolução planetária aplicados até ao Sistema Solar. Ao identificar padrões de composição e distribuição de massa, modelos teóricos ganham restrições mais fortes, aumentando a precisão de estimativas sobre a frequência de planetas potencialmente habitáveis.

Como o projeto pode mudar o dia a dia de quem acompanha ciência

Para leitores e entusiastas, o avanço do ATREIDES significa acesso a dados mais robustos sobre mundos fora do Sistema Solar. Observações futuras podem trazer novas oportunidades de aprendizado em tempo real, já que os resultados tendem a ser divulgados em revistas de acesso aberto. Além disso, ao refinar técnicas de espectroscopia e trânsito, o projeto cria métodos que poderão ser aplicados em missões espaciais, como o telescópio James Webb, ampliando a busca por sinais de atmosfera favorável à vida.

Curiosidade

O nome ATREIDES é inspirado na famosa casa nobre da saga Duna, de Frank Herbert. Assim como a família fictícia enfrenta ambientes extremos no planeta desértico Arrakis, o consórcio de astrônomos investiga planetas que sobrevivem em condições hostis próximas a suas estrelas. A escolha ressalta o paralelo entre ficção científica e pesquisa astronômica, mostrando como referências culturais podem impulsionar projetos de ponta.

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Este artigo apresentou os primeiros resultados de um programa que pode redefinir teorias sobre formação planetária. Continue de olho em nossos canais para descobrir como cada nova observação amplia o retrato do cosmos.

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