AMC mantém veto a filmes da Netflix e pressiona por janela de 45 dias nos cinemas

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Maior rede exibidora do mundo, a AMC Theatres voltou a negar espaço para produções da Netflix, mesmo diante do sucesso de “KPop Demon Hunters”, animação que arrecadou US$ 19,2 milhões em apenas dois dias de exibição limitada. Segundo o CEO Adam Aron, a empresa só exibirá títulos do streaming se houver garantia de uma janela exclusiva de pelo menos 45 dias, prazo já acordado com estúdios tradicionais.

Demanda por janela exclusiva desafia modelo da Netflix

Em entrevista ao podcast “The Town”, Aron afirmou que a AMC não pode adotar critérios diferentes para cada parceiro. “Se concedo duas semanas à Netflix, como justificar 45 dias para Disney, Warner Bros. ou Paramount?”, questionou. A exigência de 45 dias foi formalizada após a pandemia, quando cadeias de cinema e estúdios renegociaram prazos a fim de restabelecer receitas de bilheteria.

Para a Netflix, o modelo é inviável: a plataforma prioriza lançamentos globais simultâneos ou janelas muito curtas, usando exibições pontuais nos cinemas sobretudo para gerar marketing ou cumprir requisitos de premiação. Essa estratégia contrasta com o interesse das salas, que dependem de exclusividade para vender ingressos e produtos de conveniência. “Nada me deixaria mais satisfeito do que ter filmes da Netflix nas nossas telas, mas precisamos de um acordo que valorize o circuito”, reiterou o executivo.

Negociações anteriores terminaram sem acordo

A tensão entre as duas empresas não é nova. Em 2019, conversas sobre “O Irlandês”, de Martin Scorsese, fracassaram pelo mesmo impasse: a AMC queria preservar a janela padrão; a Netflix insistiu em lançamento quase simultâneo. O caso se repetiu em 2022, com “Glass Onion: A Knives Out Mystery”. O filme chegou a ficar uma semana em cartaz, arrecadando estimados US$ 15 milhões, mas a rede pediu extensão do período, recusada pela Netflix.

Outro exemplo é “KPop Demon Hunters”. Na ocasião, a Netflix disponibilizou a animação no streaming, mediu a repercussão positiva e agendou um evento de dois dias para sessões com canto coletivo (sing-along). Regal e Cinemark aceitaram o formato; a AMC decidiu ficar de fora, reforçando seu foco em prazos maiores.

Objetivos opostos refletem cenário pós-pandemia

Segundo especialistas do setor exibidor, o conflito simboliza interesses antagônicos. Para plataformas de streaming, a prioridade é engajar assinantes e manter receita recorrente; já para as salas, o ingresso físico continua o principal fluxo de caixa. Relatórios de mercado indicam que o verão norte-americano de 2025 registrou bilheteria abaixo das expectativas, pressionando redes a proteger cada lançamento.

Aron citou o caso da Apple como exemplo de parceria que considera equilibrada: o filme “F1”, estrelado por Brad Pitt, estreou nos cinemas, acumulou US$ 614 milhões globalmente e depois reforçou o catálogo do Apple TV+. “Todos ganham”, resumiu o CEO, destacando que o sucesso de bilheteria aumenta a visibilidade no streaming e pode ampliar a base de assinantes.

Narnia será exceção, mas com motivação distinta

Apesar do impasse, a AMC já confirmou que exibirá o novo “Crônicas de Nárnia”, dirigido por Greta Gerwig e financiado pela Netflix, em sessões IMAX. De acordo com Aron, a decisão foi tomada “em favor da IMAX”, parceira de longa data da rede, servindo também como “carro de ensaio” para mostrar à Netflix o potencial de uma janela maior.

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Imagem: Internet

Impacto para o público e para o mercado

Para o consumidor, o desacordo prolonga a fragmentação do acesso: quem quiser assistir aos títulos originais da Netflix numa tela grande dependerá de eventos isolados ou de concorrentes regionais. Do lado empresarial, analistas apontam que a ausência da AMC reduz o alcance em território norte-americano, comprometendo receitas adicionais que poderiam reforçar o orçamento dos filmes. Se a rede e o streaming chegarem a um consenso, a mudança pode redesenhar cronogramas de lançamento, estimular campanhas de marketing mais extensas e, por consequência, oferecer ao público um período maior de alternativas fora de casa.

De acordo com dados oficiais da Motion Picture Association, filmes que passam pelos cinemas antes de chegar ao streaming tendem a gerar maior awareness e retorno em vídeo sob demanda. Aron sustenta que esses números justificam a defesa da janela. A Netflix, entretanto, avalia que o custo de prolongar a estreia online ainda supera o benefício adicional.

Enquanto não há acordo, a maior parte das produções da plataforma continuará restrita ao streaming, e a AMC seguirá apostando em títulos de estúdios que aceitem o cronograma tradicional. A negociação torna-se crucial num período em que as redes buscam recuperar público e diversificar receitas, e os streamings competem por assinantes em um mercado saturado.

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Curiosidade

Embora a Netflix seja conhecida por evitar longos períodos exclusivos nos cinemas, o primeiro longa produzido pela empresa, “Beasts of No Nation”, chegou a estrear simultaneamente em 31 salas dos Estados Unidos em 2015. Na época, algumas redes removeram o filme do circuito em protesto, situação que antecipou o debate atual sobre janelas de exibição e a convivência entre streaming e salas tradicionais.

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