Alemanha quer satélites de defesa orbital, mas prazos apertados geram ceticismo

Ciência

O Centro Aeroespacial Alemão (DLR) divulgou em agosto duas solicitações de informação para adquirir satélites capazes de realizar manobras defensivas e inspeções em órbita. O plano prevê a entrega das plataformas em até 11 meses após a assinatura do contrato e o lançamento em um foguete nacional, exigência que chamou a atenção de analistas pelo grau de ambição.

Investimento recorde e mudança de postura

Tradicionalmente focado em projetos civis, o DLR sinaliza uma virada para aplicações de uso dual, impulsionada pela decisão do governo alemão de destinar 35 bilhões de euros aos ativos espaciais militares nos próximos cinco anos. O movimento acompanha o aumento das tensões geopolíticas com Rússia e China, cenário que vem motivando várias nações a reforçar capacidades de vigilância e proteção de satélites.

De acordo com pesquisadores em política de segurança, a Alemanha busca reduzir sua dependência de dados fornecidos por parceiros internacionais e ganhar autonomia em monitoramento orbital. Segundo Julianna Suess, do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, a estratégia reflete “vontade política de torn ar a infraestrutura mais resiliente”, mas enfrenta o histórico de subinvestimento no setor espacial privado.

Desafios técnicos e a questão do lançador

O requisito de lançamento em um veículo alemão ainda não voado é apontado como o maior obstáculo. Startups nacionais, como Rocket Factory Augsburg, HyImpulse e Isar Aerospace, desenvolvem microlançadores, porém nenhuma realizou voo orbital. Para o analista independente Christian von der Ropp, testar protótipos tão caros num foguete inédito “seria arriscado” e poderia comprometer o cronograma.

As alternativas europeias também geram dúvidas. O Ariane 6, novo foguete pesado do continente, completou apenas três missões, enquanto o Vega passou por falhas recentes. Diante da ausência de um histórico confiável, especialistas avaliam que a Alemanha poderá recorrer a provedores comerciais consolidados, como SpaceX ou Rocket Lab, caso queira cumprir o prazo de 11 meses.

Mercado restrito de satélites manobráveis

No mundo, poucas empresas provaram tecnologia de inspeção e proximidade segura. A japonesa Astroscale realizou, em 2024, a missão ADRAS-J, aproximando-se de um estágio de foguete descartado, e havia demonstrado capturas simuladas em 2021. Na Europa, a suíça ClearSpace prepara um projeto de remoção ativa de detritos para 2029. Fora do continente, Northrop Grumman e Lockheed Martin apresentaram operações em órbita geoestacionária.

Embora o DLR tenha aberto a chamada a companhias de qualquer país, fontes do setor relatam consultas paralelas das Forças Armadas alemãs a fabricantes locais, indicando preferência por soluções domésticas. Von der Ropp afirma que “será preciso pragmatismo” para cumprir o cronograma e, ao mesmo tempo, incentivar a industrialização interna.

Projetos existentes e planos futuros

Hoje, o país opera a constelação de radares SAR-Lupe e dois satélites de comunicação militar SatcomBw em órbita geoestacionária. Em fevereiro, o general Jürgen Setzer apresentou proposta para um grupo de até 24 satélites de comunicação em órbita média, previsto para 2032. Esse sistema deverá ser financiado com recursos do novo orçamento e complementar a proteção oferecida pelos veículos de defesa e inspeção pretendidos.

Impacto para leitores e para o ecossistema espacial europeu

Se concretizados, os projetos do DLR podem abrir uma cadeia de oportunidades para fornecedores de propulsão, sensores e software de navegação autônoma, além de pressionar outros países europeus a intensificar seus próprios programas militares em órbita. Para o público, a iniciativa reforça o debate sobre segurança de dados, custos do acesso ao espaço e a necessidade de regulação de atividades de defesa fora da Terra.

Curiosidade

O interesse alemão por satélites de inspeção lembra a missão ASTERIX, de 1965, primeiro satélite francês e também o primeiro europeu militar. Embora os objetivos fossem distintos, ambos os programas ilustram momentos em que nações europeias buscaram independência tecnológica em resposta a pressões geopolíticas.

Para acompanhar outras novidades sobre lançadores e iniciativas espaciais europeias, confira a cobertura completa em nossa seção de Tecnologia.

Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:

Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *