Água pesada detectada em disco de formação planetária ajuda a explicar origem do nosso sistema

Ciência

Pesquisadores identificaram, pela primeira vez, moléculas de água pesada em um disco de formação planetária. O achado foi feito ao redor da jovem estrela V883 Ori e indica que parte da água presente em planetas e cometas pode ser ainda mais antiga que o próprio sistema estelar.

Descoberta inédita em V883 Ori

O grupo internacional de astrônomos usou radiotelescópios para examinar o disco de gás e poeira que circunda V883 Ori, localizada a cerca de 1.300 anos-luz da Terra. Entre as emissões analisadas, surgiram sinais claros de D₂O, molécula conhecida como água duplamente deuterada ou “água pesada”. Segundo os autores do estudo, publicados em 15 de novembro, trata-se da primeira confirmação inequívoca desse composto em um ambiente onde planetas ainda estão se formando.

Até agora, cientistas não sabiam se a água encontrada em corpos gelados do Sistema Solar – como cometas – se formava dentro dos próprios discos ou se era herdada de nuvens moleculares anteriores. “A assinatura química do D₂O mostra que essa água percorreu longas distâncias antes de chegar a sistemas como o nosso”, afirmou a astrônoma Margot Leemker, líder da pesquisa.

Moléculas mais velhas que a estrela

Análises de isótopos indicam que o D₂O observado se originou em nuvens interestelares que existiam muito antes do nascimento de V883 Ori. De acordo com especialistas, o deuterium presente na molécula se forma em baixíssimas temperaturas, típicas de regiões remotas do espaço. Quando esse material é incorporado a um disco protoplanetário, torna-se evidência direta de processos que antecedem a própria estrela.

Os autores comparam a descoberta a uma “impressão digital” capaz de rastrear a trajetória da água pelo cosmos. O achado corrobora, segundo o relatório, a hipótese de que o gelo transportado por cometas — e responsável por parte dos oceanos terrestres — teve origem nos estágios iniciais do Universo, e não foi produzido apenas depois da formação do Sol.

Implicações para a formação de planetas

Entender de onde vem a água é essencial para modelos de formação planetária. Segundo especialistas em astroquímica, a presença de D₂O ajuda a determinar temperaturas, pressões e velocidades de colisão dentro do disco. Esses parâmetros, por sua vez, influenciam o tipo de planetas que se formarão — rochosos ou gasosos — e a possível presença de oceanos em mundos jovens.

Outra implicação diz respeito à distribuição de água dentro do disco. Instrumentos de alta precisão mostram que V883 Ori atravessa um período de aquecimento abrupto, empurrando a chamada “linha de neve” para regiões mais externas. A posição dessa linha — limite onde o gelo sublima — é um fator decisivo na quantidade de água que cada futuro planeta receberá.

Comparação com estudos anteriores

Observações passadas, realizadas em cometas do Sistema Solar, já haviam detectado proporções elevadas de deuterium na água. No entanto, não havia confirmação direta de que o material era herança de fases anteriores à formação estelar. O novo estudo preenche essa lacuna ao identificar a mesma assinatura química no ambiente onde planetas estão nascendo, reforçando a conexão entre cometas primordiais e nuvens moleculares ancestrais.

Perspectivas de pesquisa

Os autores defendem que o avanço dos radiotelescópios, especialmente com o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), permitirá mapear a composição de água em dezenas de discos semelhantes. Segundo dados oficiais do consórcio ALMA, ao menos 20 sistemas jovens estão na fila de observação nos próximos 12 meses, o que deve ampliar a amostra de estudo sobre a origem da água.

Outra frente envolve a comparação entre discos que formam estrelas parecidas com o Sol e aqueles que dão origem a estrelas massivas. Especialistas acreditam que diferenças na massa estelar podem alterar a química do D₂O, oferecendo novas pistas sobre como cada tipo de sistema distribui água.

Impacto para o leitor

Para o público geral, a descoberta ajuda a responder uma questão fundamental: de onde veio a água que permitiu a vida na Terra? Ao mostrar que parte desse recurso é anterior ao Sol, o estudo reforça a ideia de que ingredientes essenciais para a vida podem ser comuns em toda a galáxia. Isso eleva as expectativas em torno da busca por ambientes habitáveis em exoplanetas e sistemas recém-formados.

Segundo especialistas, conhecer a trajetória da água também influencia missões espaciais futuras, pois ajuda a definir quais corpos celestes podem transportar gelo utilizável como recurso em viagens longas, ou mesmo servir de prova de processos de formação universal.

Se você se interessa por avanços que conectam astronomia e origem da vida, confira também outros conteúdos em nossa seção de Tecnologia.

Curiosidade

O apelido “água pesada” ganhou fama nos anos 1930, quando cientistas investigavam seu uso em reatores nucleares por absorver nêutrons de maneira diferente da água comum. Agora, a mesma substância se revela peça-chave para entender como a água comum viajou pelo Universo por bilhões de anos até chegar à Terra e outros planetas em formação.

Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:

Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *