Astrônomos identificaram a supernova SN 2023zkd, um evento cósmico considerado atípico, com apoio decisivo de um algoritmo de inteligência artificial (IA).
Sinal incomum detectado em tempo real
A explosão, localizada a cerca de 730 milhões de anos-luz da Terra, foi observada pela primeira vez em julho de 2023 pelo Zwicky Transient Facility, telescópio robótico sediado na Califórnia. Logo após a captação inicial, o sistema Light-curve Anomaly Identification and Similarity Search (LAISS) — um algoritmo de IA integrado a um bot no Slack — analisou o brilho variável do objeto e sinalizou o caso como “anômalo”.
Esse alerta, emitido praticamente em tempo real, deu à equipe a vantagem de programar observações com telescópios de maior porte antes que o fenômeno começasse a se apagar. O estudo, conduzido por pesquisadores do Center for Astrophysics | Harvard & Smithsonian e do MIT, será publicado em breve no The Astrophysical Journal.
Dois picos de luminosidade e uma possível fusão mortal
A SN 2023zkd apresentou um comportamento raro: dois picos de luminosidade separados por aproximadamente oito meses. Além disso, dados de arquivo mostram que a estrela aumentava gradualmente de brilho antes de explodir, algo pouco comum em supernovas tradicionais.
A principal hipótese para explicar a sequência de eventos envolve um sistema binário composto por uma estrela rica em hélio e um buraco negro, ambos com massa estimada em dez vezes a do Sol. À medida que os dois objetos se aproximavam, o material estelar teria sido capturado pelo intenso campo gravitacional do buraco negro. O processo de “engolimento” teria gerado choques violentos no gás circundante, desencadeando a supernova.
IA como filtro para dados astronômicos
Desenvolvido para triagem automatizada de explosões celestes, o LAISS quebra a curva de luz de cada evento em múltiplas características — cor, duração, brilho máximo e propriedades da galáxia hospedeira. Com essas informações, o algoritmo aponta fenômenos estatisticamente fora do padrão. Segundo os pesquisadores, cerca de metade dos alertas emitidos indica supernovas genuinamente incomuns; um quarto costuma revelar buracos negros supermassivos ativos, descartados em análises posteriores.
A ferramenta também recorre ao ANNOY, algoritmo de código aberto popularizado pelo Spotify, para agrupar explosões com características semelhantes. Essa abordagem reduz o volume de dados que precisam ser revisados manualmente pelos cientistas, tarefa especialmente relevante diante da grande quantidade de observações geradas por telescópios robóticos.

Imagem: Internet
Novos desafios à frente
Os autores destacam que o Observatório Vera C. Rubin, previsto para entrar em operação nos próximos anos, deverá multiplicar a quantidade de supernovas detectadas. Para lidar com esse fluxo, soluções de IA ainda mais sofisticadas serão necessárias, capazes de processar imagens e identificar padrões menos óbvios.
Embora supernovas resultem normalmente da morte de estrelas massivas, o caso SN 2023zkd reforça a ideia de que colisões ou interações extremas também podem culminar nesse tipo de explosão. A análise detalhada dos dados ainda em curso deve esclarecer quanto material estelar foi efetivamente capturado pelo buraco negro e qual a fração que originou o clarão observado.
Para quem acompanha o avanço da inteligência artificial em diferentes setores, vale conferir outras aplicações da tecnologia na nossa editoria dedicada a IA em https://remansonoticias.com.br/category/IA.
Em síntese, o uso estratégico de IA permitiu reconhecer rapidamente uma supernova fora do padrão, abrindo caminho para medições cruciais e novas hipóteses sobre como estrelas podem encontrar um fim explosivo. Acompanhe as próximas descobertas e compartilhe a notícia para levar a ciência mais longe.