China prepara nave de resgate para tripulação da Tiangong sem veículo de retorno

Tecnologia

Os três astronautas da missão Shenzhou 21 estão a bordo da estação espacial chinesa Tiangong desde 31 de outubro, mas enfrentam um cenário incomum: não possuem, neste momento, uma cápsula segura para regressar à Terra. A situação surgiu após a nave Shenzhou 20, danificada por detrito orbital, ser usada para trazer de volta a tripulação anterior na noite de 13 de novembro.

Por que a tripulação ficou sem “bote salva-vidas”

O problema começou quando a janela da Shenzhou 20 sofreu pequenas fissuras causadas por impacto de micrometeorito ou lixo espacial, segundo a Agência Espacial Tripulada da China (CMSA). A avaliação técnica concluiu que a integridade da cápsula não era mais compatível com um retorno humano seguro. Ainda assim, foi decidido utilizá-la para a viagem de volta dos integrantes da Shenzhou 20, que já estavam no espaço havia seis meses e precisavam descer o quanto antes.

Com a partida da Shenzhou 20, a estação ficou sem veículo habitado disponível. A missão Shenzhou 21 — composta pelo comandante Zhang Lu, 48 anos, e pelos estreantes Zhang Hongzhang e Wu Fei, o mais jovem astronauta do corpo chinês — permanece, portanto, sem a chamada “nave de contingência”. Em voos de longa duração, essa cápsula é essencial para evacuação imediata em caso de incêndio, despressurização ou problemas médicos graves.

Plano de contingência: Shenzhou 22 em contagem regressiva

De acordo com informações oficiais, um foguete Long March 2F e a cápsula Shenzhou 22 já estão em “estado de quase prontidão” no Centro de Lançamento de Jiuquan, no deserto de Gobi. Segundo regulamentos chineses, esse conjunto permanece preparado durante toda missão tripulada, podendo decolar em até 8,5 dias após ordem de lançamento.

Autoridades do programa espacial afirmaram que a Shenzhou 22 será enviada à Tiangong sem tripulantes “em momento apropriado”. Embora não tenham divulgado data, analistas consultados por veículos chineses apontam que o cronômetro operacional para missões de resgate já estaria em curso, justamente para minimizar o tempo de exposição ao risco. A operação deve seguir protocolo semelhante ao utilizado em 2021, quando a Shenzhou 15 substituiu a Shenzhou 14 devido a um problema de vedação.

O cenário recorda o episódio envolvendo a cápsula Starliner, da Boeing, que apresentou vazamentos de hélio em 2024, obrigando a NASA a devolvê-la à Terra sem tripulação. Na ocasião, os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams permaneceram na Estação Espacial Internacional por quase nove meses, mas contavam com outras naves Soyuz e Crew Dragon disponíveis para retorno — algo que não se aplica à Tiangong.

Impacto para segurança de voos tripulados

Especialistas em operações orbitais apontam que a ausência temporária de um veículo de escape aumenta o grau de risco, embora as probabilidades de evacuação de emergência sejam historicamente baixas. Estudos citados pela CMSA indicam que a maior vulnerabilidade decorre de possíveis impactos de detritos, cuja densidade em órbita baixa cresceu 15% na última década. A estação chinesa, com cerca de 20% da massa da ISS, possui blindagem pensada para objetos de até um centímetro; fragmentos maiores exigiriam retirada rápida da tripulação.

Relatórios internacionais sugerem ainda que incidentes similares podem se tornar mais frequentes à medida que constelações de satélites expandem a ocupação do espaço. Em resposta, agências vêm aprimorando planos de lançamento rápido, armazenamento prolongado de veículos sob condições criogênicas e simulações de eventual socorro entre nações — opção que, por questões diplomáticas e de compatibilidade técnica, ainda não envolve a China.

Perspectivas para o programa chinês

A Shenzhou 21 é a décima missão tripulada ao complexo orbital chinês e a segunda com duração prevista de seis meses. Até o momento, todas as estadias foram concluídas sem incidentes graves. A expectativa é de que a Shenzhou 22 permaneça acoplada à Tiangong por todo o período da missão atual, garantindo evacuação imediata caso necessário. Ao final, a cápsula também deve ser usada para trazer os três astronautas de volta, enquanto uma nave subsequente assumirá a função de reserva para a próxima tripulação.

China prepara nave de resgate para tripulação da Tiangong sem veículo de retorno - Imagem do artigo original

Imagem: Mike Wall published

Para o público e para a indústria, o episódio reforça a importância de protocolos de contingência e da rápida rotatividade de veículos em órbita. Segundo engenheiros de sistemas espaciais, manter um foguete pronto custa, em média, 20% a mais em despesas operacionais, mas reduz consideravelmente a exposição a riscos de alto impacto.

Para quem acompanha o setor, o estágio atual demonstra que a segurança continua no centro das metas chinesas e sinaliza possíveis avanços em design de cápsulas, blindagens e estratégias conjuntas contra detritos, o que pode beneficiar missões comerciais e governamentais no futuro próximo.

Curiosidade

A China mantém recorde de tempo para lançamento de resgate desde 2003, quando conseguiu preparar uma Long March para missão de contingência em apenas sete dias. Caso a Shenzhou 22 decole dentro da janela de 8,5 dias, o país reafirmará essa capacidade logística. Essa prontidão é considerada decisiva para planos de instalar, até 2030, um módulo de pesquisa lunar habitado, onde o retorno imediato à Terra será ainda mais desafiador.

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