A Amazônia, sede confirmada da próxima Conferência do Clima da ONU (COP30), vive a pior estiagem em décadas, segundo dados oficiais. Entre 2023 e 2024, a redução drástica do nível dos rios, a mortandade de peixes e a perda de safras tradicionais evidenciaram um cenário que especialistas classificam como “risco iminente de ponto de não retorno” para a maior floresta tropical do planeta.
Estiagem prolongada muda o ciclo hidrológico
Levantamentos do Painel Científico para a Amazônia apontam que a estação seca já dura de quatro a cinco semanas a mais do que a média histórica. Além disso, a região registra temperaturas até 2 °C superiores ao padrão anterior, enquanto o volume de chuvas caiu cerca de 30%. Relatórios indicam que 74% dessa redução pluviométrica está vinculada diretamente ao desmatamento, que rompe o ciclo natural de evapotranspiração e compromete a formação de nuvens.
No rio Tapajós, no Pará, o recuo das águas ultrapassou um quilômetro em algumas margens, deixando embarcações encalhadas e comunidades ribeirinhas isoladas. Já em Rondônia, o rio Madeira registrou a menor vazante desde o início das medições, afetando o transporte fluvial, o abastecimento urbano e a geração de energia hidrelétrica.
Pesquisadores relatam que árvores nativas vêm abortando frutos antes da maturação completa. A mandioca, base alimentar e econômica de diversas populações, apresentou colheita reduzida. Segundo especialistas, a queda na produtividade compromete tanto a segurança alimentar quanto o fluxo de renda dessas comunidades.
Consequências socioeconômicas e sanitárias
Com mais de 47 milhões de habitantes, a Amazônia abriga 400 povos indígenas e inúmeras comunidades tradicionais. Esse contingente sente, na prática, os efeitos da crise. No Pará, autoridades de saúde registraram aumento de doenças respiratórias, diarreias e surtos de dengue, malária e leishmaniose, fenômeno associado ao clima mais quente e seco.
A escassez de recursos naturais pressionou famílias que dependem da pesca e da agricultura de subsistência. Moradores de Jamaraquá, por exemplo, relatam redução drástica no número de peixes disponíveis para consumo e venda. Em paralelo, pesquisadores observam um impacto emocional relevante: comunidades relatam espanto e insegurança diante de mudanças consideradas rápidas demais para um ecossistema tradicionalmente estável.
Segundo economistas ambientais, a estiagem prolongada também ameaça cadeias produtivas maiores, como a de castanha e de madeira legalizada, podendo provocar aumento de preços e retração de exportações. A expectativa é de que os efeitos se estendam para além da região Norte, atingindo mercados nacionais e internacionais que dependem de produtos amazônicos.
COP30 sob pressão para respostas concretas
O quadro ambiental grave torna a COP30 um evento estratégico. Líderes políticos, cientistas e organizações da sociedade civil defendem a adoção de metas firmes de “desmatamento zero” e a ampliação de mecanismos de financiamento internacional para a recuperação de áreas degradadas.

Imagem: PARALAXIA Shutterstock
Climatologistas alertam que, sem a manutenção de pelo menos 80% da cobertura florestal, a Amazônia pode perder a capacidade de regular o regime de chuvas de todo o continente sul-americano. Esse colapso representaria, segundo projeções acadêmicas, impactos diretos na agricultura do Centro-Oeste e do Sudeste, com potencial elevação nos preços de grãos e proteínas animais.
Organizações indígenas apontam ainda a necessidade de combater o crime organizado ligado ao garimpo e ao desmatamento ilegal. A expectativa é que o tema seja debatido na conferência com propostas de fiscalização reforçada e punições mais severas, além de programas de desenvolvimento sustentável voltados aos povos tradicionais.
O que muda para o leitor
Mesmo para quem vive longe da floresta, os efeitos desse desequilíbrio podem chegar à mesa do consumidor em forma de alimentos mais caros, contas de energia instáveis e episódios climáticos extremos em grandes centros urbanos. Entender a importância da Amazônia para o regime de chuvas e para o sequestro de carbono ajuda a dimensionar por que ela é considerada peça-chave no enfrentamento à crise climática global.
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Curiosidade
Você sabia que cerca de 20% da água doce que chega aos oceanos do planeta sai da Amazônia? Esse fluxo gigantesco via rios e afluentes influencia até correntes marítimas. Quando a seca reduz a vazão, não é apenas a biodiversidade regional que sofre; pesquisadores estudam possíveis efeitos na circulação oceânica e, por consequência, no clima global.
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