A fabricante italiana de propulsão espacial Avio firmou acordos com as norte-americanas Lockheed Martin e Raytheon que garantem acesso preferencial à produção de motores-foguete sólidos da futura planta da companhia nos Estados Unidos. A iniciativa responde à crescente demanda por mísseis e sistemas de armas guiadas, impulsionada por conflitos em diferentes regiões do mundo e pelo aumento de encomendas de governos aliados.
Detalhes dos contratos e cronograma de expansão
Os entendimentos, anunciados em 10 de novembro, preveem que cada um dos dois gigantes de defesa terá prioridade na aquisição de parte da capacidade produtiva da nova fábrica da Avio USA, prevista para entrar em operação no início de 2028. O local exato do empreendimento ainda não foi revelado, mas, de acordo com a fabricante, o investimento total deve chegar a US$ 460 milhões, valor direcionado majoritariamente à construção e ao aparelhamento dessa instalação.
Conforme comunicado da Avio, a parceria com a Lockheed Martin assegurará à empresa norte-americana acesso antecipado a motores-foguete que equiparão plataformas táticas e estratégicas “à medida que a procura global se expande”. Tim Cahill, presidente da divisão Missiles and Fire Control da Lockheed, afirmou que o acordo “posiciona as duas companhias para elevar a produção e entregar capacidades essenciais aos clientes de maneira mais rápida”.
Em termos semelhantes, a Raytheon destacou que a colaboração fortalece a cadeia de suprimentos interna dos Estados Unidos. Bob Butz, vice-presidente de operações, cadeia de suprimentos e qualidade, observou que o entendimento “ajuda a estabelecer um fornecedor adicional de motores-foguete sólidos no país”, reforçando a resiliência industrial.
Estratégia de segurança nacional e diversificação da cadeia
Especialistas em defesa apontam que a corrida por fornecedores alternativos ganhou força após gargalos verificados durante a pandemia e, mais recentemente, com o aumento de solicitações de mísseis utilizados em teatros de conflito. Atualmente, Northrop Grumman e L3Harris lideram o segmento de grandes propulsores sólidos nos EUA, mas relatórios indicam que a capacidade existente pode não ser suficiente para atender aos programas militares em curso e novas encomendas de aliados.
Desde 2022, a Avio vinha sinalizando intenção de instalar uma base fabril em solo americano, medida considerada estratégica para vencer barreiras regulatórias, aproximar-se de contratos do Departamento de Defesa e atender, sob normas de segurança locais, projetos sensíveis. A subsidiária Avio USA, sediada em Arlington, Virgínia, opera sob regras norte-americanas de controle de exportação e é chefiada pelo vice-almirante aposentado James Syring, ex-diretor da Agência de Defesa de Mísseis. Para Syring, o entendimento com a Lockheed “consolida o status da Avio USA como fornecedora confiável de motores sólidos de tamanhos tático e estratégico dentro do país”.
Impacto para Lockheed Martin e Raytheon
Lockheed e Raytheon já vinham realizando investimentos em startups e firmando parcerias com outros fabricantes de propulsores para diminuir o risco de interrupções. Segundo analistas do setor, a preferência de compra dentro de uma nova instalação dedicada amplia a previsibilidade de entregas em programas como os mísseis Standard da Marinha norte-americana, o sistema HIMARS e futuros projéteis hipersônicos.
Em julho de 2024, a Raytheon assinou contrato preliminar com a Avio para a engenharia de um motor tático destinado ao programa Standard Missile. O acordo agora divulgado formaliza a reserva de capacidade produtiva para essa e outras linhas. Já a Lockheed, que mantém extensa carteira de projéteis de defesa aérea e ataque de precisão, ganha margem para escalonar fabricação sem depender unicamente dos atuais fornecedores.
Investimento e perspectivas de mercado
De acordo com dados oficiais do Pentágono, os gastos com munições guiadas devem ultrapassar US$ 40 bilhões ao longo dos próximos cinco anos, impulsionando a procura por componentes críticos como motores sólidos. Relatórios do setor estimam que o mercado global de propelentes sólidos alcance US$ 8 bilhões até 2030, crescimento anual médio acima de 4 %. Nesse contexto, a entrada de um novo player com escala industrial nos EUA pode aumentar a competição, estabilizar preços e reduzir prazos de entrega.

Imagem: Avio
A Avio já atua como contratante principal do veículo europeu Vega e fornece motores para o Ariane 6, fabricando propulsores na Itália e operando um centro de montagem na Guiana Francesa. A transferência parcial de know-how para o território norte-americano reforça a estratégia da companhia de diversificar receitas entre o setor espacial e o mercado militar.
O que muda para o setor de defesa
Para o leitor, a ampliação da oferta de motores-foguete nos Estados Unidos pode acelerar a disponibilidade de sistemas antimísseis e de dissuasão, temas cada vez mais discutidos em segurança internacional. Na prática, contratos com múltiplos fornecedores tendem a estimular inovação, reduzir custos e garantir maior autonomia industrial, fatores que influenciam não só as Forças Armadas, mas também acordos de exportação e parcerias com países aliados.
Segundo consultores de defesa, a confiança de grandes contratantes em empresas estrangeiras instaladas em território norte-americano sinaliza um ambiente regulatório mais aberto, desde que acompanhado de rígidos requisitos de segurança. Esse movimento pode atrair outras companhias internacionais interessadas em acessar o mercado dos EUA sem as restrições do controle de importação de munições (ITAR).
Curiosidade
A tecnologia de motores-foguete sólidos emprega grãos de combustível que são moldados e curados como “pedaços” rígidos de material energético. Um detalhe pouco conhecido é que a composição exata desses grãos pode variar conforme o tipo de missão: para decolagens de foguetes espaciais, prefere-se queima mais lenta e controlada, enquanto em mísseis táticos a prioridade é a aceleração imediata. Adaptar essa química a diferentes requisitos militares e civis é um dos desafios que a futura fábrica da Avio nos EUA deverá enfrentar.
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