O mercado espacial chinês registrou, no fim de semana, o segundo revés operacional de um de seus principais veículos privados. O Ceres-1, foguete de combustível sólido fabricado pela startup Galactic Energy, decolou do Centro de Lançamento de Jiuquan, no deserto de Gobi, às 23h02 de domingo (9 nov, horário de Brasília), com três satélites a bordo. Embora as três primeiras etapas tenham funcionado dentro do esperado, o estágio final desligou prematuramente, impedindo a inserção em órbita e provocando a perda total da carga útil.
Detalhes da missão e da falha
Segundo informações divulgadas por veículos estatais chineses, o voo tinha como destino a órbita baixa da Terra (LEO). A bordo viajavam dois satélites da constelação comercial Jilin-1, dedicada à observação terrestre de alta resolução, além de uma plataforma tecnológica desenvolvida pela Universidade Zhongbei. O desligamento antecipado do quarto estágio impediu a velocidade necessária para a colocação orbital.
Em nota, a Galactic Energy declarou “profundos pedidos de desculpas ao cliente da missão e a todos que apoiam a empresa”. A companhia também afirmou que “irá extrair lições do incidente e continuar aperfeiçoando o projeto do foguete e os processos de gestão de qualidade”.
Com 19 metros de altura e capacidade para transportar até 400 quilogramas à LEO, o Ceres-1 estreou em novembro de 2020. O veículo acumulou nove lançamentos bem-sucedidos consecutivos até o primeiro fracasso, em setembro de 2023. Depois de 11 missões subsequentes sem incidentes, o voo do último domingo configurou a segunda falha em um total de 22 tentativas.
Repercussões para o programa espacial privado chinês
A China incentiva, desde 2014, a entrada de capital privado em seu setor espacial, buscando acelerar a oferta de serviços de lançamento e ampliar constelações de satélites de observação e telecomunicações. Nesse cenário, a Galactic Energy é vista como uma das startups mais consistentes, por ter atingido taxas de sucesso superiores à média do segmento. Especialistas ouvidos pela imprensa estatal avaliam que a falha não compromete a viabilidade do Ceres-1, mas reforça a necessidade de redundância em sistemas críticos de pequenos lançadores.
O incidente também afeta o ritmo de expansão da constelação Jilin-1, operada pela Chang Guang Satellite Technology. A rede, voltada à coleta de imagens em alta resolução para aplicações agrícolas, de monitoramento ambiental e de planejamento urbano, depende de lançamentos frequentes para manter cobertura global. Cada atraso implica menor cadência de atualização de dados, o que pode impactar clientes governamentais e privados.
Em termos de mercado, a repetição de falhas eleva o custo do seguro de lançamento e pressiona startups chinesas a adotar padrões de verificação comparáveis aos de empresas mais consolidadas, como a norte-americana SpaceX. Relatórios indicam que o benchmark internacional exige pelo menos 95 % de confiabilidade para contratos comerciais recorrentes.
Planos futuros da Galactic Energy
A empresa trabalha no Ceres-2, projetado para cargas de até 2 toneladas, e no Pallas-1, que contará com primeiro estágio reutilizável, em conceito semelhante ao Falcon 9, da SpaceX. A reutilização pode reduzir custos e aumentar a competitividade, mas demandará sistemas de guiagem e propulsão mais complexos que os presentes no Ceres-1.

Imagem: Mike Wall published
De acordo com dados oficiais, a China planeja ultrapassar 100 lançamentos em 2025, somando operações estatais e privadas. A confiabilidade dos veículos emergentes será crucial para cumprir metas de cobrir serviços de internet via satélite e monitoramento climático.
Impacto para clientes e investidores
Para operadores de satélite, a falha ressalta a importância da diversificação de fornecedores de lançamento. Companhias que utilizam imagens Jilin-1 podem enfrentar atrasos na atualização de bases de dados, afetando análises de safra, detecção de desmatamento ou planejamento logístico. Investidores, por sua vez, tendem a reavaliar prazos de retorno em projetos vinculados a lançamentos frequentes de microssatélites.
No curto prazo, o público geral não deve perceber impacto direto. Contudo, segundo analistas do setor, sucessivas interrupções na cadência de lançamentos podem retardar inovações em aplicações de satélite que chegam diariamente a dispositivos móveis, como previsões climáticas em alta resolução e mapas atualizados em tempo quase real.
Curiosidade
Você sabia que o Ceres-1 recebe esse nome em homenagem a Ceres, o primeiro asteroide descoberto, em 1801? A escolha simboliza a ambição de empresas privadas em explorar novas fronteiras no espaço, assim como a descoberta daquele pequeno corpo celeste abriu novos horizontes para a astronomia. Embora a missão recente tenha falhado, a inspiração permanece: buscar caminhos inéditos para tornar o acesso à órbita cada vez mais rotineiro.
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