BlackSky reduz faturamento nos EUA, mas amplia receita com contratos internacionais

Ciência

A empresa norte-americana de imagens de satélite BlackSky registrou queda de receita no terceiro trimestre de 2026 devido ao ritmo mais lento dos desembolsos do governo dos Estados Unidos, mas compensou parte dessa retração com a expansão de vendas no exterior. Segundo comunicado aos investidores, o faturamento alcançou US$ 19,6 milhões, abaixo das projeções de analistas e do montante obtido no trimestre anterior.

Cortes em contrato-chave afetam receita doméstica

O principal fator apontado pela companhia para a contração foi a proposta orçamentária da administração norte-americana para o ano fiscal de 2026, que prevê redução de um terço na verba destinada pela National Reconnaissance Office (NRO) à compra de imagens comerciais. O ajuste recai sobre o programa Electro-Optical Commercial Layer (EOCL), iniciativa que garante a fornecedores privados, como a BlackSky, contratos para fornecimento de dados de sensoriamento remoto de alta resolução.

De acordo com o presidente-executivo Brian O’Toole, parte do contrato teve de ser ajustada “para refletir o cenário de orçamento base apresentado pela administração”. Embora a redução ainda esteja em discussão no Congresso, a incerteza levou a empresa a reconhecer menor receita no período. “O financiamento do EOCL foi reduzido, mas não classificaria a queda como definitiva neste momento”, afirmou o executivo em teleconferência com analistas.

O impacto ocorre em um contexto em que o governo federal segue sem orçamento aprovado há seis semanas. A ausência de dotação final paralisa agências, posterga pagamentos e cria um ambiente de imprevisibilidade para fornecedores de defesa e inteligência.

Demanda externa cresce e altera composição do negócio

Apesar da pressão doméstica, a BlackSky observou “rápida aceleração” do interesse internacional por seus serviços. As vendas fora dos Estados Unidos já representam aproximadamente 50 % da receita total, ante 40 % no mesmo período do ano anterior, e a companhia projeta que as operações estrangeiras ultrapassem o mercado norte-americano pela primeira vez em 2026.

O’Toole destacou que mais de 90 % da carteira de pedidos — atualmente em US$ 322,7 milhões — está associada a contratos internacionais. Índia e Indonésia figuram entre os governos que utilizam as imagens de satélite da empresa para reforçar capacidades nacionais de observação da Terra e inteligência. A maioria dos demais clientes estrangeiros permanece confidencial por questões de segurança.

Analistas do setor de geointeligência observam que países emergentes têm elevado o investimento em monitoramento orbital para aplicações de segurança, planejamento urbano, agronegócio e resposta a desastres. “A busca por dados de alta resolução deixou de ser exclusividade das grandes potências”, apontam relatórios do mercado.

Série Gen-3 impulsiona novos contratos

Grande parte da procura externa decorre da introdução dos satélites Gen-3, capazes de capturar imagens com resolução de 35 centímetros e equipados com sensores infravermelhos de onda curta que penetram fumaça ou neblina. Essas unidades também contam com links a laser entre satélites, permitindo reprogramação praticamente em tempo real para missões de defesa sensíveis ao tempo.

Dois satélites Gen-3 já foram lançados em 2026 a bordo de foguetes da Rocket Lab na Nova Zelândia. Um terceiro aguarda nova data de envio após a detecção de componente defeituoso. A constelação da BlackSky soma hoje 13 unidades — 11 da geração anterior (Gen-2) e 2 Gen-3 —, e a meta é colocar ao menos 12 satélites Gen-3 em órbita até o fim de 2027.

Perspectivas financeiras e cenário regulatório

Mesmo com a retração trimestral, a empresa manteve a projeção de receita entre US$ 105 milhões e US$ 130 milhões para 2025, sustentada principalmente pelos contratos internacionais em carteira. O’Toole reforçou que uma eventual recomposição do orçamento do EOCL pelo Congresso reduziria o risco de novas quedas de curto prazo.

Especialistas lembram, contudo, que o ambiente fiscal norte-americano segue incerto enquanto o Legislativo não concluir a lei orçamentária. Caso prevaleça o corte de um terço no EOCL, empresas de observação da Terra dependentes do governo dos EUA poderão reavaliar planos de investimento ou buscar diversificação mais agressiva de clientes no exterior.

O que muda para o mercado de observação da Terra

Para empresas, governos e usuários que dependem de dados satelitais, a performance da BlackSky sinaliza duas tendências: redução potencial de encomendas do governo dos EUA e expansão acelerada de contratos internacionais, especialmente em países que buscam autonomia em inteligência geoespacial. Se confirmada, a mudança de eixo pode intensificar a competição, estimular parcerias regionais e influenciar o preço das imagens de alta resolução.

Curiosidade

A resolução de 35 cm oferecida pelos satélites Gen-3 equivale, em termos práticos, a identificar um objeto do tamanho de um notebook a partir de órbita a cerca de 500 km de altitude. Para efeito de comparação, missões civis há pouco mais de uma década alcançavam cerca de 1 m de resolução, mostrando o avanço rápido da tecnologia óptica e dos sensores eletrônicos.

Fique por dentro das últimas novidades em tecnologia lendo também as matérias já publicadas em Tecnologia. Acompanhe as próximas atualizações e descubra como a evolução dos satélites de observação pode influenciar setores como agricultura, segurança e logística.

Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:

Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *