O cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar já registrado no Sistema Solar, chama atenção de astrônomos em todo o mundo não apenas pela origem extrassolar, mas também pela nomenclatura inusitada. Entender como ele foi batizado ajuda a explicar o sistema internacional que classifica corpos celestes de passagem única pelo nosso entorno.
Como surge a designação provisória
O visitante foi detectado pela primeira vez em 1º de julho por integrantes do Deep Random Survey, grupo de astrônomos amadores estabelecido no Chile. Naquele momento, recebeu o código temporário A11pl3Z, combinação gerada automaticamente pelos softwares de monitoramento para objetos ainda sem confirmação de órbita. Segundo especialistas, esse tipo de rótulo é comum nos dias iniciais da descoberta e serve apenas para indexação interna.
Em 14 de junho, no entanto, já existiam imagens anteriores captadas pelo Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS), rede financiada pela NASA que vigia possíveis ameaças de impacto. Com o acúmulo de observações, foi possível calcular a trajetória e identificar que o corpo não retornará em intervalos regulares – critério que o coloca na categoria de cometas não periódicos.
Do código C/2025 N1 ao status de visitante interestelar
Com a confirmação da órbita, o Minor Planet Center, órgão oficial para registro de pequenos corpos, atribuiu a designação C/2025 N1 (ATLAS). Nesse formato, a letra C indica cometa não periódico, “2025” corresponde ao ano civil da descoberta, e “N” refere-se à primeira quinzena de julho no sistema de meio-mês adotado pela União Astronômica Internacional. Já o número 1 sinaliza que foi o primeiro objeto catalogado nesse intervalo.
A catalogação mudaria novamente quando análises de velocidade e inclinação orbital demonstraram que o cometa não está gravitacionalmente ligado ao Sol. Dados oficiais mostraram uma órbita hiperbólica, típica de objetos vindos do espaço interestelar. Ao cruzar esse patamar, foi adicionado ao restrito grupo dos visitantes extrassolares – até agora formado apenas por ‘Oumuamua (1I/‘Oumuamua) e o cometa 2I/Borisov.
Por que o número 3I?
Na convenção da União Astronômica Internacional, o prefixo “I/” é reservado unicamente a corpos interestelares. O dígito que o antecede corresponde à ordem de detecção dentro dessa classe. Assim, “3I” indica o terceiro objeto de origem externa ao Sistema Solar já identificado.
A lógica é simples: 1I para o primeiro, 2I para o segundo e, agora, 3I para o recém-chegado. Segundo relatórios do Jet Propulsion Laboratory da NASA, utilizar sequência numérica facilita o cruzamento de dados entre observatórios e mantém histórico claro para pesquisas futuras.
O papel do sistema ATLAS no nome
O sufixo “ATLAS” cumpre dupla função. Primeiro, presta reconhecimento ao projeto que ofereceu os dados cruciais para a descoberta; segundo, evita duplicidade, diferenciando o corpo de outros objetos catalogados no mesmo ano. De acordo com astrônomos envolvidos, a citação de programas de busca no nome é prática comum desde a era dos grandes levantamentos automatizados, como Pan-STARRS e LINEAR.
Vale lembrar que, apesar de a descoberta inicial ter sido relatada no Chile, foi a base de dados ATLAS que forneceu o conjunto de imagens suficientes para cravar a procedência interestelar. O programa opera quatro telescópios distribuídos entre Havaí, Chile e África do Sul, cobrindo o céu a cada 24 horas.

Imagem: TheSkyLive.com
Critérios que excluem teorias exotécnicas
Logo após o anúncio, especulações sobre possível origem tecnológica, recorrentes desde ‘Oumuamua, surgiram devido a composições químicas atípicas, como presença de níquel atômico. A NASA descartou a hipótese, citando inexistência de aceleração anômala ou estrutura metálica consistente. Especialistas ressaltam que o protocolo de nomenclatura não considera teorias de engenharias alienígenas; a designação “I/” é puramente orbital.
Trajetória, estudos e próximos passos
O 3I/ATLAS atingiu o periélio em 29 de novembro, passando a cerca de 445 milhões de quilômetros da Terra. Missões em órbita de Marte, Júpiter e suas luas, como Juno, Europa Clipper e JUICE, foram orientadas a dedicar observações ao objeto entre os dias 2 e 25 de dezembro. Relatórios indicam que essas medições, combinadas com dados do Telescópio Espacial Hubble, podem revelar idade aproximada de sete bilhões de anos, tornando-o anterior à formação do Sistema Solar.
Conforme projeções do Laboratório de Dinâmica do MIT, o cometa alcançará a menor distância em relação à Terra no fim de dezembro, sem risco de colisão. Após a passagem, seguirá trajetória de escape e não deverá retornar.
O que muda para o público e para a ciência
Para o leitor comum, compreender a nomenclatura ajuda a distinguir informações confiáveis de rumores que costumam circular nas redes sociais toda vez que um objeto interestelar é detectado. Para a comunidade científica, cada novo “I/” amplia a amostra de material extrassolar, fornecendo vestígios sobre a formação de sistemas planetários além do Sol. Segundo a Agência Espacial Europeia, estudar a composição do 3I/ATLAS pode refinar modelos de acreção de cometas e orientar futuras missões de coleta de amostras.
Curiosidade
O prefixo “I/” aplicado ao 3I/ATLAS foi oficializado apenas em 2017, ano da passagem de ‘Oumuamua. Antes disso, não existia categoria formal para visitantes interestelares, pois não se esperava detectá-los com tanta frequência. A criação desse código padronizado reflete a nova era de telescópios de grande varredura, capazes de registrar objetos cada vez mais tênues e velozes.
Se você gosta de acompanhar eventos astronômicos de destaque, vale conferir também outras descobertas em nosso portal de tecnologia. Acesse a seção completa em Tecnologia e continue atualizado sobre as novidades do espaço.
Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:
Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

