A adoção acelerada de soluções de inteligência artificial nas empresas brasileiras vem acompanhada de um desafio silencioso: o uso de ferramentas sem aprovação formal dos departamentos de TI, prática conhecida como shadow AI. Esse comportamento, motivado pela busca de agilidade e facilidade, expõe dados sensíveis, dificulta a rastreabilidade das informações e coloca em risco a conformidade regulatória.
Funcionários recorrem a IA não oficial para resolver tarefas críticas
Um levantamento da Dell Technologies indica que 57% dos profissionais no Brasil afirmam não saber implementar IA generativa de forma segura. Mesmo assim, 93% das organizações esperam que essa tecnologia fortaleça suas defesas cibernéticas. Essa combinação de elevada expectativa e capacitação insuficiente favorece o surgimento do shadow AI: colaboradores recorrem a contas pessoais ou aplicativos externos para automatizar processos, traduzir textos, redigir códigos ou gerar relatórios.
Segundo analistas de mercado, o fenômeno não nasce de mera insubordinação. Ele surge quando a solução corporativa é percebida como lenta ou confusa. A Deloitte aponta que, mesmo em ambientes que oferecem cursos de capacitação e ferramentas institucionais, uma parcela significativa dos usuários continua preferindo aplicativos públicos, como geradores de texto ou imagem baseados em grandes modelos de linguagem. O motivo central é a redução de atritos: menos etapas de autenticação, interface intuitiva e respostas rápidas.
Riscos à privacidade e à governança de dados
Ao utilizar plataformas externas, funcionários podem expor conteúdos confidenciais sem perceber. Credenciais, contratos e informações estratégicas podem ser processados fora do perímetro corporativo, dificultando auditorias. O estudo da Dell mostra que 83% das companhias brasileiras enfrentam dificuldades para equilibrar inovação e segurança, uma vez que privacidade, tratamento de dados sensíveis e preparação das bases são apontados como os maiores obstáculos.
Em um cenário de regulamentações cada vez mais rigorosas — como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) — qualquer vazamento pode resultar em sanções financeiras e perda de reputação. Para especialistas em cibersegurança, a principal vulnerabilidade está na falta de visibilidade: se o departamento de TI desconhece as ferramentas empregadas, não há como aplicar políticas de criptografia, backups ou controles de acesso.
Confiança como pilar para adoção madura de IA
De acordo com o mesmo relatório da Dell, 92% das empresas relatam barreiras à implementação de IA generativa, sendo a segurança dos dados e a ausência de experiência interna os fatores mais mencionados. Para superar esse quadro, consultores recomendam uma tríade de ações: governança robusta, capacitação contínua e experiência de uso simplificada.
Na prática, isso significa estabelecer políticas claras sobre quais tipos de dados podem ser enviados a serviços externos, criar fluxos de aprovação rápidos e oferecer plataformas internas de IA que entreguem benefícios tangíveis aos usuários. “Quando a opção oficial é superior em usabilidade e desempenho, a tendência ao shadow AI diminui de forma natural”, avaliam especialistas em gestão de riscos.
Estratégias para reduzir o shadow AI
Empresas que desejam mitigar o problema podem adotar medidas imediatas, tais como:
- Mapear o uso de aplicativos de IA na rede por meio de ferramentas de monitoramento;
 - Criar repositórios de dados aprovados, garantindo que informações críticas sejam processadas somente em ambientes controlados;
 - Estabelecer ciclos de treinamento sobre privacidade, ética e boas práticas no uso de modelos generativos;
 - Disponibilizar soluções internas com interfaces intuitivas e suporte dedicado para dúvidas;
 - Implementar métricas que avaliem qualidade, desempenho e conformidade das saídas produzidas pelas IAs adotadas.
 
Relatórios de mercado mostram que organizações que seguem essa abordagem alcançam maior adesão às políticas internas e reduzem incidentes de vazamento.

Imagem: Internet
Impacto para empresas e profissionais
No curto prazo, a proliferação do shadow AI pressiona equipes de segurança a revisar modelos de gestão de risco. Para os profissionais, a tendência reforça a necessidade de capacitação constante: quem domina boas práticas de IA passa a ser peça-chave para a proteção de dados e a eficiência operacional. No médio prazo, companhias que conseguirem alinhar inovação e governança podem ganhar vantagem competitiva, pois aceleram projetos estratégicos sem comprometer a conformidade.
Se você atua em tecnologia ou gestão, entender essas dinâmicas é essencial para definir investimentos e políticas de TI em 2024. A criação de um ambiente confiável pode reduzir custos com incidentes de segurança, aumentar a produtividade e fortalecer a imagem da marca perante clientes e reguladores.
Curiosidade
O termo “shadow AI” deriva de “shadow IT”, expressão cunhada na década de 1990 para descrever softwares instalados sem consentimento do departamento de TI. A diferença é que, agora, não basta bloquear instalações: muitos serviços de IA rodam na nuvem e podem ser acessados por navegador, tornando a detecção ainda mais desafiadora. A evolução do conceito reflete como a transformação digital amplia benefícios — e riscos — em ritmo cada vez mais acelerado.
Para quem deseja se aprofundar no tema da segurança e da inteligência artificial, vale acompanhar outras análises disponíveis em nosso portal. A seção de tecnologia traz debates atualizados sobre tendências e desafios do setor.
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