O cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar já detectado no Sistema Solar, alcançou o periélio — ponto mais próximo do Sol — nesta quarta-feira (29) e expeliu um jato de gelo e poeira em direção à estrela. Astrônomos do Observatório do Teide, em Tenerife, nas Ilhas Canárias, registraram o fenômeno combinando 159 exposições de 50 segundos obtidas com o Telescópio Twin de Dois Metros. A imagem resultante, divulgada no Astronomers Telegram em 15 de outubro, exibe claramente a pluma de material apontada para o Sol.
Registro inédito detalha dinâmica do jato
De acordo com os pesquisadores, o jato recém-identificado se estende por milhares de quilômetros. A pluma surge quando o aquecimento solar faz o gelo do núcleo sublimar, liberando gases que carregam partículas de poeira. Segundo o astrofísico Miquel Serra-Ricart, diretor científico da Light Bridges, a ejeção é “compatível com a atividade típica de cometas”, mas ganha relevância por ocorrer em um visitante formado fora do Sistema Solar. Linhas traçadas sobre a imagem mostram a orientação da pluma (roxa), a direção antissolar (amarela) e o vetor de velocidade do cometa (azul), confirmando que o vento solar empurra o material para longe da estrela.
Relatórios indicam que o jato é dominado por dióxido de carbono congelado, componente comum em corpos gelados. À medida que o núcleo gira, parte do material se dispersa pela coma — atmosfera difusa que envolve o cometa — enquanto o restante é varrido para a cauda, mantendo-a orientada na direção oposta ao Sol. Esse comportamento foi observado em 2020 no cometa C/2020 F3 (NEOWISE) por instrumentos da NASA, oferecendo um paralelo útil para interpretar o 3I/ATLAS.
Importância científica e comparações com casos anteriores
O 3I/ATLAS sucede o 1I/‘Oumuamua (2017) e o 2I/Borisov (2019) como terceiro corpo interestelar catalogado. Cada passagem fornece dados sobre a composição de materiais que circulam entre sistemas planetários. Segundo especialistas, a análise espectroscópica do jato pode revelar proporções de compostos voláteis inéditos na vizinhança solar, contribuindo para modelos de formação de cometas em diferentes ambientes estelares.
Jatos como o observado favorecem a compreensão da estrutura interna de núcleos cometários. Se o 3I/ATLAS exibe fissuras que direcionam a ejeção, isso sugere crosta heterogênea e zonas de fragilidade. Tais características ajudam a explicar por que alguns cometas fragmentam-se após múltiplas aproximações solares, enquanto outros permanecem intactos.
De acordo com dados oficiais do Observatório do Teide, a pluma foi documentada em 2 de agosto, quando o cometa ainda se aproximava do periélio. O acompanhamento contínuo até o fim de novembro permitirá medir a variação de brilho e estimar a taxa de perda de massa. Essas métricas ajustam previsões de visibilidade para telescópios amadores, que poderão rastrear o objeto nos meses seguintes.
Janela de observação e possíveis desdobramentos
Após a máxima aproximação, o 3I/ATLAS ficará visível com pequenos telescópios até março de 2026, enquanto cruza a órbita de Júpiter. Depois disso, deve desaparecer rumo ao espaço profundo. Modelos orbitais calculam que ele não retornará ao Sistema Solar, tornando esta a única oportunidade de estudá-lo in loco.
Segundo a comunidade astronômica, a coleta de dados sobre densidade, rotação e composição gasosa ajudará missões futuras dedicadas a interceptar objetos interestelares. A NASA avalia propostas para sondas de sobrevoo rápido que possam colher amostras ou realizar medições de proximidade, demanda estimulada justamente por eventos como o do 3I/ATLAS.

Imagem: Internet
Impacto para o público e para a pesquisa
Para os entusiastas da astronomia, o fenômeno amplia as oportunidades de observação em pequenos equipamentos, incentivando a participação cidadã em campanhas de monitoramento. Para a ciência, cada imageamento refinado fortalece bancos de dados que embasam simulações de clima espacial e evolução cometária. Na prática, compreender como o vento solar interage com material exógeno também contribui para avaliar riscos de detritos em missões tripuladas fora da órbita terrestre.
Se novas ejeções forem confirmadas, pesquisadores poderão comparar a intensidade dos jatos ao longo do tempo, testando hipóteses sobre esgotamento de voláteis. Esses resultados influenciam estimativas de brilho futuro e podem orientar alertas para observatórios automatizados que buscam novos visitantes interestelares.
Para quem acompanha avanços em pesquisa espacial, vale lembrar que outras descobertas relevantes sobre corpos gelados estão em andamento. Um exemplo recente é a análise de partículas coletadas pela missão Hayabusa2, que trouxe à Terra amostras do asteroide Ryugu — tema já detalhado em nossa seção de Tecnologia.
Curiosidade
Os jatos cometários podem atingir velocidades de centenas de metros por segundo. Em 1986, a sonda Giotto, da ESA, sobrevoou o cometa Halley e foi atingida por partículas de poeira expelidas em jatos semelhantes, danificando parte de seus instrumentos. O caso ilustra o desafio de estudar de perto objetos que, à primeira vista, parecem inofensivos, mas liberam torrentes de material capazes de comprometer equipamentos espaciais.
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