Projeto europeu testa feixe de íons para afastar detritos espaciais sem contato

Tecnologia

Um consórcio europeu iniciou um estudo de 3,9 milhões de euros para avaliar o uso de feixes de íons multicarregados na remoção de detritos em órbita. Batizada de ALBATOR, a iniciativa pretende empurrar pequenos fragmentos de lixo espacial para rotas seguras, reduzindo o risco de colisões com satélites ativos e a Estação Espacial Internacional. O projeto terá duração de 3,5 anos e conta com financiamento da Comissão Europeia.

Como o feixe de íons promete mover o lixo orbital

Ao contrário de propostas que exigem redes, braços robóticos ou acoplamento direto, o ALBATOR investiga uma solução não cinética. O conceito prevê posicionar uma espaçonave perto do objeto a ser desviado e disparar um feixe de íons altamente carregados. Quando essas partículas atingem a superfície do detrito, transferem quantidade suficiente de momento para alterar sutilmente sua trajetória, conduzindo-o a uma órbita menos perigosa ou acelerando sua reentrada na atmosfera.

Segundo engenheiros envolvidos, a ausência de contato físico minimiza riscos de fragmentação adicional, problema comum quando peças metálicas antigas se partem ao serem tocadas por sondas ou redes. Além disso, o método dispensa mecanismos complexos de ancoragem, reduzindo massa e custo das missões.

Parceria entre startups e universidades europeias

Osmos X, startup francesa especializada em propulsores espaciais, coordena o trabalho. A empresa pretende testar motores baseados em feixes de íons nos próprios veículos não tripulados que planeja lançar a partir de 2030. A equipe inclui ainda universidades da Espanha e da Alemanha, além da filial luxemburguesa da canadense NorthStar, fornecedora de serviços de vigilância orbital.

De acordo com comunicados oficiais, a diversidade de participantes permite combinar experiência em física de plasma, modelagem orbital e design de sistemas de propulsão. O financiamento vem do programa Pathfinder do European Innovation Council, dedicado a tecnologias de alto risco com potencial de criar novos mercados.

Escala do problema exige soluções rápidas

Estimativas da Agência Espacial Europeia indicam a presença de até 140 milhões de fragmentos com pelo menos 1 milímetro circulando a Terra. Apenas objetos maiores que 10 centímetros são monitorados com regularidade. Mesmo assim, colisões continuam ocorrendo, como demonstrou o incidente entre um satélite Iridium e um russo inativo em 2009, que gerou milhares de novos pedaços de sucata orbitais.

Empresas que operam megaconstelações, caso da SpaceX, afirmam possuir sistemas de manobra automática, mas satélites desativados ou sem propulsão permanecem como ameaças crescentes. Relatórios do National Oceanic and Atmospheric Administration projetam que, em 2040, a quantidade de detritos que reentram na atmosfera poderá igualar o volume de poeira meteórica natural.

Desafios técnicos e próximos passos

Antes de chegar a um teste em órbita, o ALBATOR precisa comprovar em laboratório a eficácia do feixe de íons em diferentes materiais e tamanhos de detritos. A equipe também trabalha em modelos computacionais que preveem o efeito do disparo a várias distâncias, bem como o consumo de energia do sistema.

Outro obstáculo é a regulamentação internacional. Especialistas lembram que qualquer tecnologia capaz de alterar rotas orbitais necessita de protocolos claros para evitar interpretações militares. Além disso, a União Internacional de Telecomunicações e o Comitê da ONU para o Uso Pacífico do Espaço devem ser consultados antes de missões de demonstração.

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Imagem: Elizabeth Howell published

Impacto potencial para o setor e para o usuário comum

Se validado, o conceito de remoção sem contato pode se tornar ferramenta essencial para manter a “autostrada” orbital trafegável nas próximas décadas. Para as operadoras de satélites de comunicação, uma órbita mais limpa significa menos manobras corretivas, economia de combustível e aumento da vida útil dos aparelhos. Para o público, a consequência prática envolve serviços mais estáveis de internet via satélite, previsão do tempo e navegação GPS.

Além disso, a tecnologia de feixe de íons desenvolvida pelo ALBATOR poderá ser adaptada a outras aplicações, como propulsão de sondas de longo curso e manutenção preventiva de satélites antigos.

Acompanhar a evolução do projeto é relevante para quem se preocupa com conectividade, inovação aeroespacial e sustentabilidade em órbita. Segundo analistas, qualquer avanço que reduza o risco de colisões contribui diretamente para a segurança de serviços digitais dependentes de infraestrutura satelital.

Se você deseja entender como outras iniciativas tecnológicas estão transformando nosso dia a dia, vale conferir a cobertura completa em nossa seção de Tecnologia, atualizada diariamente com novos desenvolvimentos.

Curiosidade

Até a década de 1970, a maior parte do lixo espacial provinha de estágios de foguetes abandonados. Hoje, segundo dados oficiais, colisões e explosões intencionais respondem pela maior parcela de fragmentos perigosos. Isso reforça a importância de projetos como o ALBATOR, que procuram soluções menos invasivas e mais precisas para garantir a sustentabilidade do entorno terrestre.

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