SatLeo lança primeira carga térmica e prepara constelação de 12 satélites até 2026

Ciência

SatLeo Labs, startup indiana sediada em Ahmedabad, concluiu a fase de testes de sua primeira carga útil de imageamento térmico e pretende enviá-la aos Estados Unidos ainda neste ano para lançamento em um voo compartilhado da SpaceX. A empresa, criada em 2023, planeja montar até o fim de 2026 uma constelação de 12 microssatélites capaz de captar imagens eletro-ópticas e infravermelhas de alta resolução, com foco na medição precisa de temperatura da superfície terrestre.

Primeiro cubesat pronto para o espaço

O satélite inaugural, batizado de Thermal Access Platform for Analytics and Solution (Tapas), passou pelos processos de calibração e verificação funcional. Segundo a companhia, o equipamento reunirá dados em duas bandas infravermelhas: média (MWIR) e longa (LWIR). A primeira é indicada para detecção de focos de incêndio florestal, enquanto a segunda permite estimar a temperatura do solo com maior precisão.

De acordo com o diretor-executivo Shravan Bhati, a disponibilidade simultânea de imagens visíveis e térmicas garante uma leitura mais completa de qualquer área observada. “Não teremos apenas o conjunto de dados visíveis, mas também o térmico”, afirmou o executivo ao jornal SpaceNews.

O desenvolvimento do Tapas contou com apoio do Indian National Space Promotion and Authorisation Centre (IN-SPACe), órgão que oferece infraestrutura de testes avançados para empresas privadas. Graças a essa parceria, o cronograma foi reduzido para algo entre seis e oito meses, conforme comunicado pela SatLeo.

Financiamento e equipe com experiência da ISRO

Em abril, a empresa encerrou uma rodada de captação de US$ 3,3 milhões liderada pela Merak Ventures. Parte dos recursos foi destinada à compra do espaço no voo Transporter da SpaceX; outra parcela possibilitou dobrar o quadro técnico, hoje com 25 colaboradores, incluindo engenheiros que trabalharam na Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO).

A presença desses profissionais é vista como diferencial competitivo. “Com acesso a especialistas que já passaram por projetos semelhantes, conseguimos resolver desafios complexos em pouco tempo”, observou Bhati. Analistas de mercado destacam que a experiência acumulada na ISRO reduz o risco tecnológico e aumenta a credibilidade do projeto perante investidores institucionais.

Rumo à constelação de alta resolução

Enquanto o Tapas se prepara para o lançamento, a startup já fabrica o primeiro dos 12 microssatélites operacionais. Cada unidade captará imagens térmicas com resolução de 5 m e registros eletro-ópticos de 2,5 m. A meta é observar qualquer ponto do planeta duas vezes ao dia, oferta que colocaria a SatLeo na disputa com constelações já consolidadas no segmento de Earth Observation.

Segundo relatórios do banco Morgan Stanley, o mercado global de observação da Terra pode ultrapassar US$ 7 bilhões em 2030, impulsionado por demandas de agricultura de precisão, prevenção de desastres e monitoramento urbano. Nesse contexto, as imagens térmicas tendem a ganhar relevância por fornecerem indicadores diretos de estresse hídrico, ilhas de calor e padrões de consumo energético.

Aplicações práticas e desafios climáticos

O aumento das temperaturas médias, evidenciado por estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), reforça a necessidade de dados térmicos de alta granularidade. Governos e empresas de infraestrutura dependem desse tipo de informação para definir horários seguros de trabalho ao ar livre, planejar áreas verdes ou ajustar rotas de distribuição de energia.

Especialistas ouvidos por agências de fomento afirmam que medições em escala municipal pouco ajudam quando a variação térmica entre bairros pode ultrapassar 4 °C. A SatLeo aposta justamente na resolução espacial para “criar impacto”, nas palavras de Bhati. Caso o cronograma seja mantido, os primeiros serviços comerciais devem começar em 2027.

Ecossistema espacial da Índia em expansão

A participação do IN-SPACe ilustra a estratégia do governo indiano de abrir infraestrutura pública ao setor privado, um movimento semelhante ao que a NASA realizou nos Estados Unidos na última década. Dados oficiais indicam que mais de 140 startups espaciais surgiram no país desde 2020, atraindo cerca de US$ 120 milhões em investimentos externos.

Para observadores internacionais, a combinação de mão de obra qualificada, custos reduzidos e incentivo estatal pode transformar a Índia em um polo de serviços de sensoriamento remoto. Além da SatLeo, companhias como Pixxel e Skyroot também desenvolvem satélites de observação e veículos lançadores, respectivamente.

Impacto para o leitor

Quando estiver operando, a constelação da SatLeo poderá fornecer dados quase em tempo real a aplicativos de mobilidade urbana, seguradoras agrícolas ou plataformas de negociação de commodities. Na prática, isso significa previsões mais exatas de produtividade, alertas antecipados de incêndios e mapas de calor urbanos que ajudam no planejamento de rotas mais frescas para ciclistas e pedestres.

Curiosidade

O nome do cubesat Tapas remete à palavra sânscrita para “calor” e também é usado em textos antigos para definir disciplina espiritual. A escolha reflete o objetivo de “iluminar” a Terra por meio do calor captado do espaço, conectando tradição cultural com tecnologia de ponta — algo frequente na nova geração de empresas espaciais indianas.

Para continuar acompanhando inovações no setor aeroespacial e avanços em sensoriamento remoto, veja também outras reportagens em nossa editoria de Tecnologia.

Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:

Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *