Iridium reduz metas até 2030 e suspende recompra após avanço da Starlink

Ciência

A operadora de satélites Iridium anunciou uma revisão profunda em seu planejamento financeiro, retirando a meta de alcançar US$ 1 bilhão em receita de serviços até 2030 e reduzindo projeções de curto prazo. As mudanças foram divulgadas em conferência de resultados referente ao terceiro trimestre de 2024, quando a companhia também comunicou a suspensão do programa de recompra de ações e reconheceu o aumento da concorrência trazido pela SpaceX, que avança com o serviço Starlink Direct-to-Device (D2D).

Desempenho no trimestre e nova orientação de receita

No período encerrado em 30 de setembro, a receita total da Iridium somou US$ 226,9 milhões, alta de 7 % em relação ao mesmo intervalo do ano anterior. A parcela de serviços, responsável por 73 % do faturamento, cresceu 3 % e atingiu US$ 165,2 milhões. O lucro líquido avançou para US$ 37,1 milhões, contra US$ 24,4 milhões um ano antes, enquanto o EBITDA operacional subiu de US$ 124,4 milhões para US$ 136,6 milhões.

Apesar dos números positivos, a administração cortou novamente a previsão de crescimento da receita de serviços para 2025, agora estimada em 3 % – anteriormente a expectativa variava entre 3 % e 5 %. A meta de longo prazo de chegar a US$ 1 bilhão em 2030 foi retirada do radar.

Segundo o CEO Matt Desch, a cautela reflete “mudanças relevantes no cenário competitivo”, sobretudo após a SpaceX adquirir, por mais de US$ 17 bilhões, espectro da Echostar para impulsionar o Starlink D2D. O negócio, na avaliação do executivo, “deve acelerar a oferta global de conectividade a smartphones e dispositivos de Internet das Coisas (IoT) fora da cobertura celular tradicional”.

Ameaça direta da Starlink muda prioridades estratégicas

O serviço D2D da SpaceX pretende conectar aparelhos comuns – sem necessidade de antenas especiais – diretamente à constelação de satélites de órbita baixa. Essa proposta coincide com um dos focos de atuação da Iridium, que utiliza espectro em banda L para atender à comunicação de emergência, rastreamento e soluções IoT. “Levamos essa concorrência a sério e esperamos sentir seus efeitos já no final da década”, afirmou Desch aos investidores.

Como resposta, a companhia decidiu concentrar recursos em crescimento orgânico e possíveis aquisições, deixando de lado a recompra de ações. A administração mantém a projeção de gerar entre US$ 1,5 bilhão e US$ 1,8 bilhão em fluxo de caixa livre entre 2026 e 2030, o que poderá financiar fusões ou compra de ativos estratégicos.

Paralelamente, a Iridium avança em testes em órbita do serviço NTN Direct, que integra padrões 5G ao seu sistema de 66 satélites. A previsão é disponibilizar, já em 2025, mensagens e alertas emergenciais para dispositivos de massa fora da área das redes celulares, movimento visto por analistas como tentativa de manter relevância no mercado que a Starlink quer dominar.

Entre os acordos recentes, a empresa firmou parceria de roaming com a Deutsche Telekom na Europa e estuda colaborar com o programa de defesa antimísseis Golden Dome, do governo dos Estados Unidos. Há também a possibilidade de a próxima geração de satélites da companhia operar como carga hospedada em constelações de terceiros, ampliando sinergias e reduzindo custos de lançamento.

Ativos valiosos e cenário de consolidação no setor

Especialistas destacam que a Iridium detém cerca de 10 MHz de espectro global em banda L, além de posições em empresas estratégicas: participação majoritária no serviço de rastreamento de voos Aireon e controle da Satelles, provedora de soluções de posicionamento, navegação e tempo (PNT). De acordo com a consultoria William Blair, esses ativos despertam interesse de concorrentes e podem impulsionar movimentos de fusão e aquisição em todo o segmento de satélites.

Relatórios de mercado lembram que o Projeto Kuiper, constelação de órbita baixa da Amazon, ainda não revelou planos formais para oferta D2D. Analistas da Raymond James avaliam que novas parcerias ou compras devem se intensificar, pois nenhuma empresa detém sozinha todos os recursos necessários para atender a crescente demanda global por conectividade direta.

Mesmo sob pressão, nem todas as linhas de receita da Iridium estariam vulneráveis. A base principal vem de clientes governamentais e de emergência, que valorizam dispositivos robustos e comunicação confiável em regiões remotas. Além disso, o espectro recém-adquirido pela SpaceX só deve ficar disponível em dois anos, oferecendo à Iridium um “colchão” de três a quatro anos para ajustar sua estratégia.

Para o investidor, a reação imediata do mercado foi negativa: as ações encerraram o dia 23 de outubro em queda de 7,48 %, cotadas a US$ 18,19. Segundo analistas, o recuo reflete incertezas sobre a capacidade da empresa de manter crescimento elevado diante do avanço da Starlink, mas também abre espaço para eventuais oportunidades de consolidação ou venda, hipótese admitida pelo próprio CEO ao afirmar que “poucos players possuem espectro global disponível”.

Impacto para o leitor: Caso a conectividade via satélite direto ao smartphone avance no ritmo projetado, usuários em áreas rurais ou em rotas de viagem poderão contar com serviços de mensagens e rastreamento sem depender de torres celulares. A competição deve acelerar a queda de preços e ampliar a oferta de planos híbridos, beneficiando consumidores e empresas de logística, agricultura e segurança.

Curiosidade

O conceito de comunicação D2D não é totalmente novo: em 1999, a Iridium já oferecia ligações de voz por satélite em telefones portáteis, mas o serviço custava cerca de US$ 7 por minuto. Vinte e cinco anos depois, a disputa envolve pacotes de dados, integração 5G e espectro de múltiplas bandas, mostrando como a mesma ideia evoluiu de um nicho corporativo caro para um potencial recurso de massa em smartphones comuns.

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