Um estudo publicado na revista Scientific Reports indica que a liberação de partículas de enxofre na estratosfera, estratégia conhecida como geoengenharia solar, pode provocar efeitos climáticos severos e imprevisíveis. A pesquisa foi conduzida por especialistas da Universidade Columbia e se concentra nos riscos associados ao bloqueio parcial da radiação solar como forma de reduzir temporariamente o aquecimento global.
Proposta de resfriamento e paralelos históricos
A geoengenharia solar sugere a dispersão de aerossóis na camada da atmosfera situada entre 12 e 50 quilômetros de altitude. A lógica é simples: as partículas refletem parte da luz do Sol de volta ao espaço, diminuindo a temperatura média da superfície da Terra. A ideia se baseia em fenômenos naturais, como a erupção do Monte Pinatubo, nas Filipinas, em 1991. Na ocasião, mais de 20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre foram lançadas no ar, levando a uma queda global de 0,5 °C, segundo registros do Serviço Geológico dos Estados Unidos.
Dois anos após aquele evento, porém, observou-se um desequilíbrio no sistema de monções que leva chuvas à Índia e a outras regiões do sul da Ásia. Além disso, a estratosfera aqueceu, acelerando a destruição da camada de ozônio. Esses desdobramentos históricos servem hoje de base para avaliar as possíveis consequências de uma intervenção deliberada semelhante.
Principais riscos identificados pela pesquisa
O grupo liderado pela cientista de aerossóis Miranda Hack examinou limitações técnicas e impactos potenciais do método. Os resultados apontam que modelos computacionais costumam simplificar a complexidade atmosférica, ignorando reações químicas e padrões de circulação que podem surgir no mundo real. De acordo com os autores, “efeitos surpresa” seriam inevitáveis caso a técnica fosse adotada em escala planetária.
Entre os riscos enumerados, destacam-se:
- Perturbação de correntes atmosféricas: se as partículas se concentrarem na região equatorial, a circulação global de calor pode ser alterada, mudando a distribuição de temperaturas e precipitações.
- Instabilidade de monções tropicais: acúmulo de aerossóis nos polos ou em latitudes específicas pode desregular sistemas de chuvas sazonais vitais para a agricultura de milhões de pessoas.
- Aumento da chuva ácida: após se misturarem à umidade das nuvens, os compostos de enxofre retornariam à superfície em forma de ácido sulfúrico, prejudicando solos, vegetação e infraestrutura.
- Degradação da camada de ozônio: mudanças na temperatura da estratosfera favorecem reações químicas que destroem o ozônio, aumentando a incidência de radiação ultravioleta.
Segundo a coautora Faye McNeill, “a gama de resultados possíveis é muito mais ampla do que se avalia atualmente”, reforçando a incerteza do procedimento.
Viabilidade dos materiais propostos
Além do tradicional dióxido de enxofre, a literatura cita alternativas como diamante, zircônia cúbica, titânia rutílica, carbonato de cálcio e alfa-alumina. O estudo salienta que muitos desses compostos são raros ou caros de produzir. Já os insumos abundantes, embora menos onerosos, apresentam menor capacidade de dispersão ou refletem a luz de forma menos eficiente. A combinação de limitações logísticas, custo elevado e eficácia questionável reduz a viabilidade de uma implementação em grande escala.
Impacto potencial para sociedades e políticas climáticas
De acordo com relatórios recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), o mundo precisa cortar drasticamente as emissões de gases de efeito estufa nas próximas décadas. A geoengenharia aparece como possível medida temporária, mas o novo estudo reforça que a tecnologia não substitui ações de mitigação convencionais, como transição energética e uso sustentável do solo. Especialistas alertam que uma aposta prematura em aerossóis estratosféricos pode desviar recursos financeiros e políticos de soluções já comprovadas.

Imagem: Internet
Para os responsáveis por políticas públicas, a pesquisa levanta questões sobre governança global. Quem autorizaria, monitoraria ou cessaria a operação? Como compensar comunidades afetadas por impactos regionais imprevisíveis? Até que haja respostas claras, a estratégia segue cercada por incertezas científicas e diplomáticas.
O que muda para o leitor: o estudo indica que intervenções rápidas no clima podem trazer consequências complexas e de longo alcance. Para a população, isso reforça a importância de cobrar metas de redução de emissões em vez de depender de soluções tecnológicas ainda não testadas em grande escala.
Curiosidade
Embora a proposta de resfriar o planeta com aerossóis pareça moderna, relatos históricos mostram que civilizações antigas também tentaram manipular o clima. Registros chineses do século X mencionam fogueiras gigantes perto de plantações para tentar induzir chuva, uma versão rudimentar de engenharia climática que ilustra a recorrente ambição humana de controlar o tempo.
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