Astrônomos confirmaram que o cometa interestelar 3I/ATLAS desenvolveu uma anticauda, estrutura que parece apontar para o Sol em vez de se afastar dele. A constatação foi obtida com novas medições realizadas nos telescópios do Observatório WM Keck, no Havaí, e descrita em artigo de pré-impressão no servidor arXiv. Trata-se do terceiro objeto vindo de outra estrela a atravessar o Sistema Solar — depois de 1I/‘Oumuamua, em 2017, e 2I/Borisov, em 2019 — e tem a trajetória mais veloz já medida para um visitante interestelar.
Observações no Havaí detalham fenômeno incomum
As imagens coletadas a 4.145 metros de altitude, no topo do Mauna Kea, foram analisadas por uma equipe internacional que acompanha o 3I/ATLAS desde julho, mês de sua descoberta pelo sistema ATLAS, financiado pela NASA. De acordo com o grupo, a estrutura que se destaca em direção à estrela não se trata de mera ilusão de óptica causada pela perspectiva da Terra, como ocorre em anticaudas clássicas observadas em alguns cometas do Sistema Solar.
Normalmente, partículas de poeira e gás liberadas pela sublimação de gelo são empurradas pelo vento solar, formando caudas que apontam para longe do Sol. No caso atual, segundo os pesquisadores, a anticauda contém grãos maiores que não sofrem influência imediata da radiação solar. Essas partículas permanecem próximas à órbita do núcleo, criando uma corrente de material que se antecipa levemente ao corpo principal e, do nosso ponto de vista, aparece como um feixe invertido.
Mensurações realizadas a 3,8 unidades astronômicas (cerca de 570 milhões de quilômetros) indicam também uma assimetria química na coma: concentrações de níquel se mostram mais próximas ao núcleo, enquanto cianeto aparece disperso em áreas externas. Esse padrão, raramente registrado, sugere processos de sublimação diferentes dos verificados em cometas formados no Sistema Solar.
O que torna a anticauda do 3I/ATLAS especial
Fenômenos semelhantes já foram documentados em cometas como o Kohoutek (1974), porém especialistas indicam que o 3I/ATLAS fornece um laboratório natural singular por ser interestelar. Segundo astrônomos da Universidade Estadual da Pensilvânia, a combinação de alta velocidade, trajetória hiperbólica e composição química distinta permite estudar como poeira, gelo e metais se comportam fora da influência gravitacional típica dos corpos solares.
Modelos preliminares apontam que a anticauda de partículas grandes pode originar correntes de meteoroides ao longo de todo o caminho do cometa. Caso esses fragmentos cruzem a órbita terrestre no futuro, poderão gerar chuvas de meteoros de origem extrassolar, cenário considerado inédito até o momento.
Relatórios indicam também que o desequilíbrio químico na coma reforça hipóteses de formação em ambientes estelares com abundância diferente de metais pesados. Essa informação ajuda a mapear a diversidade de sistemas planetários na Via Láctea, fornecendo pistas sobre mecanismos de formação de planetas em discos protoplanetários variados.
Implicações para a ciência dos cometas e da matéria interestelar
De acordo com pesquisadores ligados à Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos, acompanhar a passagem do 3I/ATLAS é crucial para compreender a física de objetos que viajam entre estrelas. A confirmação da anticauda amplia o catálogo de comportamentos possíveis em cometas e mostra que a dinâmica de partículas maiores pode escapar aos modelos tradicionais de interação com o vento solar.

Imagem: Internet
Além disso, o fato de o níquel concentrar-se próximo ao núcleo, enquanto o cianeto se dispersa, sugere gradientes térmicos e de pressão internos ainda não observados em cometas locais. Estudos adicionais com espectroscopia de alta resolução podem revelar, por exemplo, se o 3I/ATLAS passou por processos de aquecimento prévios — possivelmente ao se aproximar de outras estrelas — antes de ingressar no Sistema Solar.
Caso futuros objetos interestelares apresentem comportamentos semelhantes, a comunidade científica poderá estabelecer padrões de classificação específicos para esses visitantes, separando-os dos cometas de longo período tradicionais. Segundo especialistas, tais parâmetros incluem composição volátil, distribuição de partículas sólidas e interação com o vento solar.
Impacto para o leitor: a confirmação da anticauda no 3I/ATLAS reforça o potencial científico de estudar objetos que chegam de fora do Sistema Solar. Descobertas sobre composição química e dinâmica de caudas podem, no médio prazo, levar a novos modelos de formação de planetas e até orientar missões espaciais destinadas a coletar amostras de matéria interestelar, abrindo caminho para avanços na compreensão de como sistemas planetários — inclusive o nosso — se originam.
Curiosidade
O registro fotográfico do 3I/ATLAS foi feito quase no mesmo período em que outro cometa, o C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS), desenvolveu sua própria anticauda. Embora os dois objetos tenham origens distintas, a coincidência reforça como a posição da Terra e a trajetória orbital podem criar ilusões de óptica similares em momentos diferentes do ano, lembrando aos observadores que a dinâmica do Sistema Solar é altamente dependente de perspectiva.
Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:
Quer continuar acompanhando descobertas sobre o espaço? Confira outras notícias em nossa seção de Tecnologia e fique por dentro dos próximos passos da astronomia.
Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

