A Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) contratou a norte-americana Rocket Lab para colocar em órbita dois conjuntos de satélites de demonstração tecnológica. Os voos acontecerão em dezembro deste ano e no início de 2026, partindo da Nova Zelândia, e marcam mais um capítulo na crescente dependência japonesa de lançadores estrangeiros diante dos atrasos do foguete nacional Epsilon.
Dois lançamentos dedicados no Electron
O acordo prevê missões exclusivas a bordo do foguete Electron, veículo de pequeno porte da Rocket Lab. A primeira decolagem, programada para dezembro, levará o Rapid Innovative Payload Demonstration Satellite 4 (RAISE-4), com 110 quilogramas. O satélite abrigará oito experimentos desenvolvidos por empresas e instituições japonesas, entre eles sensores de navegação, componentes eletrônicos miniaturizados e sistemas de comunicação avançados.
O segundo lançamento, previsto para o início de 2026, transportará oito CubeSats incluídos no programa Innovative Satellite Technology Demonstration-4. Essas plataformas em miniatura também testarão tecnologias de próxima geração, como propulsão elétrica compacta e cargas úteis de observação da Terra de alta resolução.
Em comunicado, Peter Beck, diretor-executivo da Rocket Lab, destacou que as missões reforçam a relevância global do Electron e o apoio da empresa ao crescimento do setor espacial japonês.
Epsilon parado desde falha em 2022
Originalmente, RAISE-4 e os CubeSats de demonstração seriam lançados juntos a bordo de um único Epsilon-S, versão aprimorada do foguete sólido japonês. Entretanto, o Epsilon está inoperante desde outubro de 2022, quando uma falha impediu a órbita do Innovative Satellite Technology Demonstration-3. Após o acidente, o programa acumulou novos contratempos: dois testes estáticos de motores, realizados em julho de 2023 e novembro de 2024, terminaram em explosão.
Durante entrevista coletiva em 10 de outubro, a JAXA confirmou que a indefinição sobre o retorno do Epsilon motivou a migração para o Electron. Segundo Kazuhiro Yagi, gerente de desenvolvimento de transporte espacial da IHI Aerospace — contratada principal do Epsilon —, a equipe ainda investiga a causa raiz dos incidentes e não há calendário para retomada dos voos. “Segurança e confiabilidade continuam sendo prioridades”, declarou o executivo.
Mercado japonês migra para lançadores estrangeiros
Com o Epsilon fora de operação e sem alternativa nacional pronta, companhias japonesas passaram a recorrer com frequência ao Electron. Astroscale, por exemplo, utilizou o foguete neozelandês para lançar, em 2023, a nave ADRAS-J, dedicada à inspeção de estágios abandonados em órbita baixa. Já as empresas de satélites de radar iQPS e Synspective firmaram contratos recorrentes; esta última reservou dez voos adicionais em setembro, totalizando 21 missões na carteira.
Enquanto isso, projetos domésticos enfrentam obstáculos. O pequeno lançador Kairos, da Space One, falhou nas duas tentativas de voo, a última em dezembro passado, e ainda não tem nova data de teste. A Interstellar Technologies desenvolve o foguete Zero e captou US$ 62 milhões em julho, mas adiou a estreia para 2027, pelo menos.

Imagem: Rocket Lab
Segundo especialistas do setor, a escassez de opções locais cria um gargalo para a crescente demanda por colocar satélites em órbita. Relatórios oficiais apontam que o Japão pretende triplicar o número de artefatos lançados até 2030, impulsionado por observação da Terra, internet das coisas e monitoramento climático. Sem veículos próprios confiáveis, as missões acabam distribuídas a provedores dos Estados Unidos, Nova Zelândia e Europa.
Impacto para o programa espacial japonês
Ao transferir duas missões institucionais para um foguete estrangeiro, a JAXA sinaliza uma mudança temporária de estratégia: garantir o cronograma de demonstrações tecnológicas, ainda que isso signifique pagar em dólar e operar fora do território nacional. Analistas consultados por publicações setoriais afirmam que a escolha mantém a credibilidade do programa, mas pressiona o governo a acelerar a recuperação do Epsilon ou a investir em parcerias com empresas privadas japonesas.
Para o leitor, a decisão mostra como atrasos técnicos podem reorganizar cadeias de fornecimento globais. Startups e universidades que planejam colocar experimentos em órbita precisam considerar custos adicionais de transporte internacional, janelas de lançamento reduzidas e possíveis efeitos sobre cronogramas de pesquisa. Caso o Epsilon permaneça inoperante, a participação de Rocket Lab e de outras empresas estrangeiras tende a crescer, influenciando preços e disponibilidade de slots para pequenos satélites.
Curiosidade
O Electron, escolhido pela JAXA, é um dos poucos foguetes no mundo a utilizar bombas elétricas para alimentar seus motores de ciclo fechado. Essa solução reduz complexidade mecânica e permite controlar o impulso com maior precisão, característica valiosa para missões de demonstração tecnológica que exigem inserções orbitais específicas.
Para quem acompanha o setor espacial, vale conferir outras novidades em nosso site. Recentemente, publicamos um artigo sobre a expansão de satélites de observação na Ásia, tema que complementa o cenário descrito aqui. Leia em: https://remansonoticias.com.br/category/tecnologia. Continue conosco para mais atualizações sobre lançamentos, inovação e políticas espaciais.
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