A Planet, empresa norte-americana especializada em monitoramento da superfície terrestre por satélites, anunciou uma nova geração de espaçonaves de observação chamada Owl. O comunicado foi feito pelo cofundador e diretor-executivo Will Marshall em 7 de outubro, por meio de publicação no blog corporativo. Segundo o executivo, o primeiro exemplar de teste será colocado em órbita no fim de 2026, com a fase operacional prevista para os anos seguintes. O objetivo é substituir gradualmente a atual frota de SuperDove, em operação desde a primeira década da companhia.
Novo patamar de resolução e velocidade
De acordo com Marshall, o Owl foi projetado para entregar imagens de resolução de um metro, superando os três a quatro metros oferecidos pelos SuperDoves. A melhora implica maior detalhamento de infraestrutura, uso do solo e mudança ambiental, mantendo, entretanto, as mesmas bandas espectrais dos satélites anteriores. Essa continuidade técnica, afirma a Planet, permite que clientes corporativos e governamentais utilizem fluxos de trabalho já estabelecidos sem reconfigurações extensas.
Outro avanço diz respeito à velocidade de disponibilização dos dados. A empresa estima que usuários poderão receber produtos processados em até uma hora após a captura, graças à inclusão de processadores Nvidia a bordo. Esses componentes habilitam algoritmos de inteligência artificial na borda, capazes de identificar objetos e atividades de interesse ainda em voo, reduzindo o volume de dados transmitidos ao solo e agilizando o estágio de análise.
A Planet construiu, ao longo de oito anos, um arquivo diário do planeta a partir dos satélites Dove e SuperDove. Segundo Robbie Schingler, cofundador e diretor de estratégia, essa base se tornou um “próprio nível de dados” para múltiplas indústrias. A nova constelação pretende elevar esse padrão, incorporando maior resolução espacial sem perder a frequência de revisita que caracteriza o serviço da companhia.
Mudanças na cadeia de produção espacial
As ilustrações divulgadas mostram que os Owls serão fisicamente maiores que o formato 3U cubesat dos SuperDoves, embora a Planet não tenha revelado massa ou dimensões. O modelo utilizará uma versão aprimorada da plataforma eletrônica desenvolvida para os projetos Pelican (alta resolução) e Tanager (hiperespectral). Relatórios internos indicam que a escolha de uma estrutura maior foi necessária para acomodar sensores de maior performance e processadores de bordo.
O anúncio ocorre em paralelo à expansão da linha de fabricação dos satélites Pelican. Em 25 de setembro, a Planet confirmou a instalação de uma segunda fábrica em Berlim, sua sede europeia, medida que deve dobrar a capacidade de produção desses equipamentos no continente. A empresa explica que a proximidade com clientes institucionais europeus respaldou o investimento, facilitando entregas e suporte técnico local.
Durante participação no New Zealand Aerospace Summit, em 8 de outubro, Robbie Schingler comentou que a Planet continua verticalmente integrada — ou seja, produz internamente componentes essenciais, como aviônicos — porque a cadeia de suprimentos espacial ainda é considerada “imatura”. Ele citou prazos de até 18 meses para a entrega de eletrônica de voo como razão para manter parte da manufatura sob controle da própria empresa. O executivo defendeu que, no futuro, o setor evolua para um modelo semelhante ao da indústria de semicondutores, com fornecedores especializados entregando peças em ritmo mais ágil e previsível.
Especialistas do segmento apontam que a adoção de satélites maiores, dotados de inteligência artificial embarcada, reflete uma tendência de migração de processamento para o espaço. Além de reduzir custos com transmissão e armazenamento, essa estratégia permite respostas quase em tempo real para situações de emergência, como desastres naturais ou mudanças repentinas em áreas agrícolas.
Perspectivas de mercado e impacto para o usuário
Com o Owl, a Planet reforça a proposta de fornecer dados de observação terrestre com frequência diária e resolução compatível com aplicações que exigem detalhamento maior, como mapeamento urbano, gestão florestal e monitoramento de infraestrutura crítica. Segundo consultorias do setor, a demanda por imagens submétricas deverá crescer em média 11 % ao ano até 2030, impulsionada por governos e empresas de energia renovável.

Imagem: Planet
Para o cliente final, a principal mudança será a possibilidade de obter insights quase imediatos sobre áreas de interesse, reduzindo o intervalo entre detecção e tomada de decisão. Em cenários de mitigação de desastres, por exemplo, a entrega em até uma hora pode orientar equipes de campo com maior precisão, enquanto no mercado financeiro essas informações podem alimentar modelos de avaliação de risco em tempo real.
Se você acompanha avanços em observação terrestre e inteligência artificial embarcada, vale ficar atento aos próximos anúncios da Planet. A empresa pretende detalhar a configuração final dos satélites Owl e a composição da constelação conforme os marcos de desenvolvimento forem alcançados.
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Curiosidade
O nome “Owl” (coruja, em inglês) foi escolhido pela Planet para remeter à visão aguçada desse animal noturno, capaz de identificar presas com mínima luminosidade. A analogia coincide com a proposta de capturar detalhes da superfície terrestre a partir de 500 km de altitude. Curiosamente, os primeiros satélites da empresa foram batizados de “Dove” (pomba), símbolo universal de paz, indicando a preocupação original com aplicações civis. Agora, a coruja reforça o foco na precisão e na rapidez de resposta.
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