Telescópio Webb detecta fosfina em anã marrom e reabre debate sobre sinais de vida

Tecnologia

O Telescópio Espacial James Webb (JWST) identificou fosfina na atmosfera da anã marrom Wolf 1130C, a cerca de 67 anos-luz da Terra, reforçando que o gás não é necessariamente um indicador de atividade biológica. A descoberta, publicada em 2 de outubro na revista Science e liderada por Adam Burgasser, da Universidade da Califórnia em San Diego, encontrou o composto em concentração de 0,1 parte por milhão, valor semelhante ao observado em Júpiter e Saturno.

Sistema triplo e química inesperada

Wolf 1130C faz parte de um sistema triplo composto ainda por uma anã vermelha de baixa massa (Wolf 1130A) e uma anã branca (Wolf 1130B). Modelos de atmosferas frias previam a presença de fosfina em anãs marrons, mas observações anteriores raramente confirmaram o composto, deixando lacunas na compreensão dos processos químicos que o originam.

Segundo especialistas citados no artigo, a fosfina costuma ser instável em temperaturas e pressões de camadas superiores. Em Júpiter e Saturno, ela se forma em regiões profundas e quentes e é transportada rapidamente por correntes de convecção, chegando às nuvens antes de se decompor. O mesmo mecanismo pode atuar em Wolf 1130C, embora a ausência do gás em outras anãs marrons semelhantes indique que variáveis adicionais influenciam a produção ou a longevidade da molécula.

Uma hipótese inicial atribuiu o suprimento extra de fósforo a estágios finais de Wolf 1130B, que antes de se tornar anã branca teria ejetado material rico em fósforo sobre a companheira. No entanto, observações não revelaram excesso desse elemento em Wolf 1130A, sugerindo que o cenário é improvável. Outra possibilidade envolve a baixa metalicidade de Wolf 1130C. Atmosferas pobres em elementos mais pesados que hélio tenderiam a favorecer a formação de fosfina e, ao mesmo tempo, reduzir interferências espectrais, deixando o sinal mais nítido. O problema é que anãs marrons com composição semelhante analisadas pelo JWST não apresentam níveis detectáveis do gás.

Impacto na busca por bioassinaturas

O achado reacende o debate iniciado em 2020, quando um grupo da Universidade de Cardiff relatou fosfina nas nuvens de Vênus. Como na Terra o composto está associado principalmente à atividade microbiana, a hipótese de vida venusiana ganhou destaque, mas foi contestada por diversas equipes que apontaram falhas na análise e limites de detecção.

De acordo com dados oficiais da NASA, a presença de fosfina em Júpiter, Saturno e agora em Wolf 1130C confirma rotas de síntese sem participação de organismos vivos. Os autores do estudo recomendam cautela antes de classificar a molécula como bioassinatura definitiva, argumentando que os modelos atuais de química do fósforo em atmosferas frias permanecem incompletos. “Enquanto não entendermos como o composto se forma e persiste em ambientes não biológicos, sua utilização como indicador de vida deve ser vista com reservas”, conclui a equipe.

Telescópio Webb detecta fosfina em anã marrom e reabre debate sobre sinais de vida - Imagem do artigo original

Imagem: Keith Cooper published

Para o leitor, a descoberta pode redefinir expectativas sobre futuras missões que procurem sinais de vida fora da Terra. Instrumentos como o JWST continuam essenciais para diferenciar processos químicos naturais de possíveis manifestações biológicas, ajudando a priorizar alvos de pesquisa.

Curiosidade

Apesar de serem chamadas de “estrelas que falharam”, anãs marrons como Wolf 1130C podem aquecer planetas em órbita com luminosidade infravermelha suficiente para manter água líquida em suas superfícies, segundo estudos recentes. Isso levanta a possibilidade de que sistemas considerados pouco promissores abriguem ambientes habitáveis, ampliando o escopo da astrobiologia.

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