O desaparecimento acelerado do gelo marinho no Ártico está alterando profundamente a vida de comunidades indígenas no norte do Alasca, comprometendo a segurança alimentar, ampliando a erosão costeira e modificando ecossistemas inteiros. Dados de satélite, medições in loco e testemunhos de moradores confirmam que a capa de gelo de verão já se reduziu em cerca de 50% desde o início das observações sistemáticas, em 1978.
Menos gelo, mais riscos para quem depende da caça
Moradores de Utqiagvik, a cidade mais setentrional dos Estados Unidos, relatam maior dificuldade para alcançar áreas de caça de focas e baleias, essenciais para a subsistência local. O gelo marinho, que antes permanecia estável por períodos longos, forma-se mais tarde no outono e se rompe semanas antes na primavera. Esse encurtamento da temporada segura obriga caçadores a percorrer distâncias maiores em condições imprevisíveis, aumentando custos e riscos de acidentes.
Segundo especialistas em clima polar, o gelo jovem que predomina hoje é mais fino, salgado e frágil. Com a diminuição do chamado “gelo plurianual” — mais espesso e resistente —, comunidades tradicionais perderam também uma fonte de água potável: blocos antigos de gelo tinham baixo teor de salinidade e eram usados como reserva durante expedições. Agora, caçadores precisam levar galões de água ou recorrer a gelo de lagos próximos.
Erosão costeira avança com o prolongamento das águas abertas
A temporada mais longa de mar aberto intensifica o impacto das ondas sobre o litoral. Relatórios indicam aceleração da erosão ao longo da costa do Mar de Beaufort, ameaçando estradas, edificações e até vilarejos inteiros. O problema é potencializado pelo degelo do permafrost — solo permanentemente congelado que, ao perder estabilidade, faz postes, casas e pistas de pouso afundarem ou inclinarem.
Pesquisas recentes mostram que tempestades mais fortes, associadas ao desaparecimento da barreira protetora de gelo, contribuem para a perda de metros de costa a cada ano em determinados pontos. Em resposta, algumas comunidades avaliam relocar infraestruturas críticas para áreas mais altas ou interiores, estratégia que exige financiamento e planejamento de longo prazo.
Consequências para a fauna e o sistema climático
O recuo do gelo de verão expõe maior área de água escura, que absorve radiação solar em vez de refletir, aquecendo ainda mais o oceano. Esse processo, conhecido como feedback do gelo-albedo, retroalimenta o aquecimento global. Modelos climáticos projetam que, mantido o ritmo atual de emissões, o Ártico pode ficar praticamente livre de gelo no fim do verão em poucas décadas.
A fauna também sente os efeitos. Ursos-polares dependem da plataforma de gelo para caçar focas; quanto mais tarde o gelo retorna à costa, mais tempo esses predadores permanecem em terra com acesso limitado a alimentos de alto teor calórico. Estudos citam perda de peso, redução nas taxas de reprodução e maior mortalidade de filhotes como sinais de estresse populacional.
Dados confirmam tendência de gelo mais jovem e fino
Registros por satélite indicam que, no final dos anos 1970, cerca de 60% do gelo marinho tinha pelo menos um ano de idade. Hoje, essa proporção caiu para aproximadamente 35%. O gelo mais novo é não apenas mais raso, mas também contém maior quantidade de sal, o que reduz sua resistência e acelera o derretimento no verão.
Medições diretas mostram que a espessura média do gelo diminuiu de 3,8 metros para pouco mais de 2 metros em algumas regiões do Ártico central. Conforme análises de especialistas, cada tonelada de dióxido de carbono emitida contribui para a perda de vários metros quadrados de gelo de verão, enfatizando a relação direta entre atividade humana e degradação do ambiente polar.

Imagem: arctic sea ice melting
Projeções e possíveis desdobramentos
Modelos climáticos preveem que, mesmo com reduções moderadas de emissões, o gelo continuará a formar-se no inverno ao longo das próximas décadas, graças às temperaturas extremamente baixas e à ausência de luz solar durante parte do ano. Contudo, a área coberta deverá ser menor e mais fina, prolongando períodos de água livre e ampliando a erosão.
Se emissões manterem trajetória ascendente, estudos indicam a possibilidade de desaparecimento quase completo do gelo até mesmo no inverno, no fim do século XXI. Esse cenário representaria uma ruptura sem precedentes para ecossistemas marinhos, rotas de navegação e padrões climáticos globais, pois o Ártico atua como regulador térmico do planeta.
Para o leitor, os efeitos do degelo podem parecer distantes, mas refletem-se no nível do mar, na estabilidade do clima e no preço de alimentos que dependem de cadeias de frio estáveis. Entender a rapidez dessas mudanças ajuda a embasar escolhas de consumo e políticas públicas de mitigação.
Curiosidade
O gelo plurianual, além de fornecer água doce aos caçadores, já foi analisado por cientistas como “arquivo do clima”. Amostras revelam bolhas de ar aprisionadas há décadas, permitindo estimar concentrações de gases e reconstruir variações atmosféricas. Com a raridade desse gelo, pesquisadores correm contra o tempo para coletar registros que podem desaparecer junto com a própria camada.
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