Um pôr do Sol nas Ilhas Canárias exibiu, em dois dias consecutivos, dois dos fenômenos ópticos mais difíceis de registrar: o chamado flash verde e o ainda mais escasso flash azul. As imagens, capturadas pela fotógrafa espanhola Marina Prol nos dias 26 e 27 de setembro de 2025, foram divulgadas pelo portal Spaceweather.com e chamaram a atenção de astrônomos e meteorologistas ao redor do mundo.
Captura inédita em dias consecutivos
No primeiro dia de observação, sexta-feira, o horizonte de Gran Canaria brindou a fotógrafa com um breve brilho azul logo após o Sol desaparecer no mar. O registro durou frações de segundo, tempo suficiente para que o sensor da câmera captasse o clarão safira coroando o disco solar.
No sábado seguinte, nas mesmas condições climáticas, ocorreu outro espetáculo: um intenso relance de cor esmeralda surgiu no instante final do ocaso. Segundo especialistas, ver os dois eventos tão próximos é raro porque dependem de perfis atmosféricos quase idênticos a cada crepúsculo, algo que nem sempre se repete em menos de 24 horas.
Relatórios indicam que observações sucessivas desses flashes costumam ocorrer em locais costeiros ou em altitudes elevadas, onde a linha do horizonte se apresenta limpa e uniforme. Gran Canaria, com sua topografia e clima estável nesta época do ano, oferece tais condições.
Como se formam os flashes de cor
Os flashes verde e azul resultam da refração da luz solar nos últimos instantes antes de o Sol cruzar o horizonte. A atmosfera funciona como um prisma gigante, separando o espectro luminoso em diferentes comprimentos de onda. Conforme a camada de ar refrata a luz, as frequências mais curtas — em especial o verde e o azul — podem permanecer visíveis por alguns segundos depois que as outras cores já se dissiparam.
A explicação física se baseia em princípios de óptica: a luz de menor comprimento de onda desvia-se com ângulo ligeiramente maior quando atravessa camadas de ar de densidade variável. Ao final do pôr do Sol, apenas um feixe extremamente estreito dessas cores alcança o observador, gerando o flash. Gradientes térmicos, pequenas miragens e ausência de nuvens potencializam o efeito.
Segundo dados oficiais de institutos meteorológicos, o verde é a tonalidade mais comum de aparecer, pois sofre menos espalhamento atmosférico que o azul. Já o flash azul, além de depender de atmosfera muito seca, enfrenta a dispersão de Rayleigh, que propaga esse comprimento de onda em todas as direções. Por isso, o clarão safira costuma durar menos que um piscar de olhos.
Segurança e melhores práticas de observação
Apesar do espetáculo visual, encarar diretamente o Sol sem proteção adequada é arriscado. Especialistas recomendam olhar apenas quando o astro estiver quase totalmente abaixo do horizonte, evitando danos irreversíveis à retina. O uso de filtros solares específicos ou observação indireta, por meio de reflexos em superfícies escuras, também é aconselhado.
Para maximizar as chances de testemunhar o fenômeno, astrônomos amadores sugerem:

Imagem: Marina Prol via Spaceweather.com
- Buscar um horizonte desobstruído, como a linha do mar ou o topo de montanhas.
- Escolher dias com céu limpo, baixa umidade e ausência de neblina.
- Acompanhar previsões de inversão térmica, que favorece miragens responsáveis por intensificar o flash.
- Posicionar a câmera em modo de disparo contínuo perto do último minuto do pôr do Sol.
Embora não existam estatísticas consolidadas sobre a frequência do fenômeno, relatórios de observatórios costeiros indicam que, em médias latitudes, apenas algumas dezenas de flashes são documentados anualmente. A combinação de equipamento adequado e condições atmosféricas ideais torna qualquer registro um feito notável.
Impacto para o público e para a ciência
Para quem aprecia astronomia ou fotografia de paisagem, capturar um flash verde ou azul representa uma experiência única e valiosa. Do ponto de vista científico, cada imagem ajuda a refinar modelos de refração atmosférica e a compreender variações de temperatura em camadas de ar próximas ao solo. Em longo prazo, esses dados podem melhorar previsões meteorológicas e estudos sobre poluição, já que partículas suspensas interferem diretamente na dispersão da luz.
A popularização de câmeras de alta resolução e de sensores mais sensíveis aumenta a probabilidade de novos registros. Consequentemente, há expectativa de que bancos de dados de fenômenos ópticos cresçam e apoiem pesquisas climáticas. Para o leitor, entender esses processos amplia a percepção sobre como mudanças na atmosfera influenciam até um simples pôr do Sol.
Curiosidade
Embora mais célebres no ocaso, flashes verdes e azuis também podem surgir ao amanhecer, quando o Sol nasce. A lógica é a mesma: refração e dispersão seletiva da luz nas primeiras camadas da atmosfera. Pouca gente desperta cedo o suficiente para observá-los, o que faz dessas aparições matinais um tesouro ainda mais discreto no mundo da fotografia astronômica.
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