A missão chinesa Chang’e-6 identificou quantidades de água significativas no solo do polo sul lunar, revelando valores duas vezes superiores aos registrados pela Chang’e-5 em 2020. A descoberta, descrita em artigo publicado na revista Nature Astronomy, confirma que o satélite natural da Terra não é um corpo totalmente seco e fortalece estratégias de utilização de recursos in situ nas próximas décadas.
Novos dados obtidos no lado oculto
Lançada em 2024 pela Administração Espacial Nacional da China (CNSA), a Chang’e-6 pousou na Bacia de Aitken, região localizada no polo sul e no lado afastado da Lua. Equipamentos de análise espectral e termal mediram a presença de hidroxila — indicador químico associado à água — a diferentes profundidades do regolito.
Segundo os autores do estudo, o material raso, removido pelos jatos do módulo de descida, apresentava aproximadamente 76 partes por milhão (ppm) de água, enquanto a porção superficial alcançou cerca de 105 ppm. Os valores contrastam com os obtidos pela Chang’e-5, que pousou no Oceano das Tempestades, na parte noroeste da Lua, e havia encontrado concentrações médias próximas de 50 ppm.
Os cientistas destacam que o sistema de pouso da Chang’e-6 expôs camadas antes inacessíveis, removendo entre milímetros e centímetros de poeira fina. Essa pequena “escavação” permitiu comparar a umidade de diferentes níveis do solo e observar como a temperatura influencia a retenção de moléculas de água.
Influência dos ventos solares e de impactos de meteoritos
De acordo com as análises, dois processos dominam a formação e a distribuição de água na superfície lunar: a implantação de partículas carregadas pelo vento solar e a jardinagem de impacto provocada por meteoritos. Íons de hidrogênio provenientes do Sol colidem com grãos de óxido de silício e ferro, resultando em hidroxila; já os choques de pequenos fragmentos rochosos revolvem o solo, redistribuindo tanto a poeira quanto as moléculas recém-formadas.
Os sensores da Chang’e-6 também registraram variações de umidade ao longo de um dia lunar. As menores concentrações ocorreram por volta do meio-dia local, quando a radiação solar é mais intensa e provoca a liberação de água para o exosfera. A equipe conclui que fatores como tamanho das partículas, profundidade, tipo de rocha e horário de medição afetam diretamente o balanço hídrico.
Comparação com missões anteriores e próximas etapas
O polo sul tem despertado interesse crescente desde que sondas orbitais, como a indiana Chandrayaan-1, identificaram traços de água em crateras permanentemente sombreadas. A confirmação in situ pela Chang’e-6 reforça a hipótese de que regiões de alta latitude podem servir como “reservatórios” naturais para futuros postos avançados.
Para aprofundar o mapeamento, a China planeja lançar a Chang’e-7 em 2026 e a Chang’e-8 em 2029. As duas missões deverão levar instrumentos de perfuração e laboratórios automatizados capazes de avaliar a viabilidade de extração de gelo para produção de combustível, oxigênio e água potável. Especialistas ouvidos por agências estatais chinesas afirmam que esses dados serão cruciais para a Estação Internacional de Pesquisa Lunar, projeto sino-russo previsto para iniciar a construção em 2035.
O que muda para o setor espacial
Comprovar a presença de água acessível torna a Lua potencialmente autossustentável para missões tripuladas de longa duração. Segundo relatórios da NASA e da Agência Espacial Europeia, transportar um quilograma de suprimentos da Terra pode custar dezenas de milhares de dólares; produzir recursos no local reduziria drasticamente esses valores e abriria caminho para bases científicas permanentes e rotas de abastecimento para viagens a Marte.

Imagem: CNSA
A descoberta também intensifica a corrida por acordos internacionais de exploração. Estados Unidos, Índia e Japão têm missões planejadas para áreas próximas ao polo sul entre 2024 e 2026. A expectativa é de que novas medições permitam estimar o volume total de gelo subterrâneo, classificar sua pureza e definir zonas de proteção para evitar contaminação.
Impacto direto para o leitor: se a presença de água for confirmada em grandes quantidades, futuras colônias lunares poderão produzir combustível e oxigênio localmente, diminuindo custos de lançamentos terrestres e acelerando inovações que tendem a chegar ao cotidiano, como painéis solares mais eficientes, sistemas avançados de reciclagem de água e novas ligas metálicas.
Curiosidade
Em 2009, a missão LCROSS, da NASA, arremessou um estágio de foguete contra a cratera Cabeus e encontrou vapor de água na pluma de detritos. Quase 15 anos depois, a Chang’e-6 detecta valores similares em solo exposto, sugerindo que o recurso não está restrito a crateras eternamente sombreadas, mas pode ser mais comum do que se pensava no subsolo lunar.
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