Cápsula russa devolve à Terra 75 camundongos e 1,5 mil moscas após 30 dias em órbita

Tecnologia

O biossatélite russo Bion-M nº 2 concluiu, na última sexta-feira (19), uma missão de 30 dias em órbita terrestre e pousou nas estepes da região de Orenburgo, sudoeste da Rússia. A cápsula, apelidada de “Arca de Noé”, transportava 75 camundongos, mais de 1.500 moscas, culturas celulares, microrganismos, sementes de plantas e outros materiais biológicos expostos às condições do espaço.

Retorno e primeiros procedimentos de resgate

Segundo a agência espacial Roscosmos, a operação de descida empregou um módulo de reentrada projetado para suportar variações bruscas de temperatura e radiação. Imagens registradas no local indicaram um pequeno foco de incêndio logo após o impacto, rapidamente contido pelas equipes de apoio.

Três helicópteros pousaram próximos à cápsula minutos depois do toque no solo. Especialistas em biologia espacial retiraram os contêineres de espécimes vivos e iniciaram avaliações preliminares dentro de uma tenda médica montada na própria estepe. Entre as primeiras análises estava o teste de atividade motora das moscas, procedimento que permite identificar possíveis danos no sistema nervoso causados pela microgravidade ou pela radiação cósmica.

De acordo com o Instituto de Problemas Biomédicos (IBMP), responsável pela parte científica da missão, todo o material biológico deve chegar aos laboratórios em Moscou até a meia-noite de 20 de setembro, onde passará por exames detalhados de fisiologia, genética e comportamento.

Objetivos científicos e divisão de experimentos

O programa do Bion-M nº 2 envolveu dez seções de pesquisa desenvolvidas em parceria pela Roscosmos, pela Academia Russa de Ciências e pelo IBMP. As duas primeiras seções concentraram-se em fisiologia gravitacional, buscando compreender como a combinação de microgravidade e radiação afeta ossos, músculos e sistemas vitais dos animais — dados considerados fundamentais para futuros voos tripulados de longa duração.

As seções três, quatro e cinco analisaram os impactos do ambiente espacial sobre plantas, microrganismos e suas comunidades. Segundo documentação oficial, esses estudos pretendem mapear padrões gerais da vida no Universo e avaliar a possibilidade de cultivar alimentos em plataformas orbitais.

Outros módulos experimentais testaram processos biotecnológicos, materiais físicos e dispositivos técnicos voltados para missões de exploração profunda. Especialistas indicam que parte dessas investigações pode resultar em novos sistemas de reciclagem de ar e água a bordo de estações espaciais.

Segurança radiobiológica e experimentos estudantis

A radiação cósmica esteve no centro da sétima e da oitava seções, dedicadas à dosimetria e ao desenvolvimento de estratégias de proteção para naves tripuladas. Relatórios preliminares do IBMP apontam que sensores instalados no interior e no exterior da cápsula coletaram dados de fluxo de partículas solares e raios cósmicos galácticos ao longo de toda a missão.

A décima seção incorporou projetos propostos por estudantes de instituições da Federação Russa e da Bielorrússia. Essa participação permitiu testar dispositivos de baixo custo para monitoramento biológico, incentivando a formação de novos quadros em pesquisa espacial.

Panspermia: o teste das bactérias em rocha basáltica

Entre os experimentos mais aguardados está o “Meteorite”, que investiga a hipótese de panspermia — teoria segundo a qual a vida na Terra pode ter origem extraterrestre. Para o teste, placas de basalto com cepas de microrganismos foram fixadas no casco externo da cápsula. O objetivo era verificar se as bactérias resistiriam ao calor extremo da reentrada atmosférica. Amostras recuperadas serão submetidas a cultura em laboratório para confirmar a viabilidade celular pós-voo.

Impacto para futuras missões tripuladas

Especialistas ouvidos pela imprensa russa ressaltam que os dados obtidos pelo Bion-M nº 2 podem orientar o desenvolvimento de sistemas de suporte à vida em missões a Marte ou a bases lunares. Resultados sobre degeneração muscular, alterações no ciclo reprodutivo de roedores e variações genéticas em insetos fornecem parâmetros para calcular risco de longo prazo aos astronautas.

Para o leitor, os avanços em biologia espacial refletem diretamente na medicina terrestre. Tecnologias criadas para mitigar perda óssea em microgravidade, por exemplo, têm sido adaptadas para tratar osteoporose e acelerar reabilitação motora em pacientes idosos.

Curiosidade

A série Bion, iniciada na década de 1970, já levou ao espaço tartarugas, peixes e insetos em missões que antecederam a Estação Espacial Internacional. O Bion-M nº 2 é o segundo veículo da nova geração do programa e conta com sistemas de suporte capazes de manter animais vivos por até 60 dias, mais que o dobro da autonomia das versões originais.

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