Depósito de âmbar de 112 milhões de anos no Equador revela insetos e plantas do antigo Gondwana

Tecnologia

O maior depósito de âmbar do período Cretáceo já identificado na América do Sul acaba de ampliar o conhecimento sobre os ecossistemas que compunham o antigo supercontinente Gondwana. A descoberta, descrita em artigo na revista Communications Earth & Environment, reúne 60 amostras retiradas da pedreira Genoveva, na província de Napo, Equador, e preserva vestígios de insetos, fragmentos vegetais e outras formas de vida com cerca de 112 milhões de anos.

Floresta úmida registrada em resina fóssil

Segundo os cientistas responsáveis pelo estudo, o conjunto de amostras indica a presença de uma floresta úmida durante o Cretáceo Inferior, período compreendido entre 145 e 100 milhões de anos atrás. Nas peças de âmbar foram identificados moscas, besouros, vespas, percevejos, parte de uma teia de aranha e um tricóptero — inseto tipicamente associado a ambientes aquáticos. Entre os restos vegetais aparecem pólen, esporos e folhas fósseis que representam, de acordo com os autores, os registros mais antigos de angiospermas conhecidos para o noroeste da América do Sul.

Análises químicas apontam que a resina se originou de coníferas da família Araucariaceae, grupo que inclui parentes distantes do atual pinheiro-do-paraná. Estas árvores liberavam grandes quantidades de resina, possivelmente como mecanismo de defesa, que depois fossilizaram formando o âmbar hoje escavado. Resultados preliminares não mostram indícios de queimadas no local, reforçando a hipótese de um ambiente predominantemente úmido e denso em vegetação.

Importância para o estudo de Gondwana

Até agora, quase todos os grandes depósitos de âmbar com inclusões significativas haviam sido documentados no hemisfério Norte, principalmente em regiões que corresponderam à Laurásia. A inexistência de formações equivalentes no sul dificultava a reconstrução dos ecossistemas de Gondwana, supercontinente que reunia América do Sul, África, Antártida, Austrália, Índia e Península Arábica. “Esses achados preenchem uma lacuna crítica nas amostras fósseis do Cretáceo no lado sul do planeta”, afirmam os pesquisadores no artigo.

Especialistas em paleobotânica destacam que a presença de angiospermas tão antigas confirma a expansão dessas plantas com flores em latitudes tropicais antes do que se acreditava. Já paleoentomólogos ressaltam que a diversidade de insetos preservada no âmbar equatoriano permite comparar a evolução de linhagens tropicais com as registradas em depósitos do Báltico e de Mianmar, por exemplo, onde a flora e a fauna eram influenciadas por condições climáticas distintas.

Detalhes metodológicos e limitações

As amostras foram extraídas em diferentes camadas da pedreira e datadas em aproximadamente 112 milhões de anos, enquadrando-se no chamado Cretaceous Resinous Interval, fase em que as coníferas produtoras de resina se tornaram abundantes. Exames geoquímicos detectaram traços de hidrocarbonetos associados ao contato prolongado do âmbar com petróleo, fator que alterou parte de sua composição. Essa contaminação, segundo o estudo, não inviabilizou a identificação morfológica das inclusões, mas limita análises químicas mais detalhadas.

Outro ponto citado pelo grupo é o número relativamente pequeno de inclusões em comparação com depósitos do hemisfério Norte. Ainda assim, o conjunto de fósseis já oferece dados relevantes sobre interações ecológicas e sobre a distribuição geográfica de certos grupos. Peritos em tafonomia — área que estuda processos de preservação — sugerem que as condições locais de pH, temperatura e pressão contribuíram para a excepcional conservação da resina.

O que muda para a ciência e para o público

A identificação de um depósito de âmbar dessa magnitude no Equador ajuda a reavaliar modelos paleogeográficos usados para explicar a dispersão de plantas e animais durante o Cretáceo. Para o leitor, a novidade demonstra como resinas preservadas por milhões de anos podem oferecer pistas detalhadas sobre climas passados, produtividade de florestas e até rotas migratórias de insetos polinizadores. Essas informações influenciam estudos atuais sobre biodiversidade tropical, conservação de florestas e impactos das mudanças climáticas.

Grandes coleções de âmbar, quando ficam acessíveis a museus e universidades, também inspiram novas pesquisas em biotecnologia, micropaleontologia e geologia econômica. Relatórios indicam que parte do material equatoriano será incorporada a acervos públicos, favorecendo a formação de especialistas na América do Sul e reduzindo a dependência de coleções estrangeiras.

Curiosidade

Muitos filmes mostram insetos preservados em âmbar como fonte de DNA intacto, mas estudos confirmam que moléculas de ácido nucleico degradam-se em poucas centenas de milhares de anos. No caso das amostras equatorianas, apenas detalhes morfológicos ficaram preservados. Mesmo assim, essas estruturas microscópicas permitem reconstruir comportamentos, como a forma de alimentação e até interações de parasitismo entre espécies extintas.

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